Segundo a Seag, o café conilon está em cerca de 50 mil propriedades rurais capixabas, representando mais de 86% do volume exportado do complexo cafeeiro do ES
Por Kebim Tamanini
Até 2022, a celulose reinava como o principal produto de exportação do agronegócio capixaba. No entanto, o cenário mudou desde o ano passado, com o complexo cafeeiro assumindo a liderança. Nos primeiros seis meses de 2024, aproximadamente 3,8 milhões de sacas de café conilon foram exportadas, sendo 3,5 milhões de sacas de café cru em grãos e 296,5 mil equivalentes em solúvel. Esses números consolidam o Espírito Santo como o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por cerca de 70% da produção nacional.
Além do conilon, o estado também comercializou 258,5 mil sacas de café arábica, totalizando quatro milhões de sacas de café exportadas no primeiro semestre. Essa performance notável permitiu que o Espírito Santo superasse o estado de São Paulo na comercialização do complexo cafeeiro, ocupando a segunda posição no ranking nacional das exportações totais de café e derivados, ficando atrás apenas de Minas Gerais.
“O complexo cafeeiro é o grande destaque das exportações do agronegócio, consolidando o principal arranjo produtivo agrícola como o primeiro em geração de divisas, superando em muito as exportações de celulose”, confirma o secretário de Estado da Agricultura (Seag), Enio Bergoli.
De acordo com a Seag, o café conilon está presente em cerca de 50 mil propriedades rurais capixabas, representando mais de 86% do volume exportado do complexo cafeeiro do Espírito Santo. No acumulado do ano, cerca de 95% de todo o café conilon exportado pelo Brasil teve origem capixaba, aponta a pasta.
No entanto, mesmo com números positivos, a safra de 2024 enfrentou desafios significativos. O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) relatou que o fenômeno climático El Niño, com suas altas temperaturas, afetou o desenvolvimento do fruto do café, resultando em uma quebra de produção em torno de 30%.
“Nossa safra poderia ter sido melhor, não fosse essa bolha de calor que tivemos no período de desenvolvimento do fruto. Tivemos uma quebra em torno de 30%. E também tivemos a cochonilha da roseta, uma praga que afetou a produtividade do conilon”, explica Fabiano Tristão, coordenador estadual de cafeicultura do Incaper.
Perspectivas de mercado
Apesar das adversidades climáticas e da redução na produtividade, o mercado do café conilon está otimista. Com base em informações do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV), o preço da saca de conilon, acima de R$ 1.240, é considerado excelente. Essa valorização é impulsionada pelos problemas enfrentados pelo Vietnã, maior produtor mundial de conilon, que sofre com seca e dificuldades logísticas.
“As expectativas são boas para que se mantenha o preço elevado, pois os estoques mundiais estão baixos e a situação no Vietnã não se resolve facilmente. A tendência é manter um preço bom ao longo da safra”, avalia Tristão. Enquanto isso, o café arábica tem preços variando de R$ 1.150 a R$ 1.350 a saca, com base nos dados do CCCV. Embora não sejam preços excelentes, são considerados razoáveis.
No Espírito Santo, 75% da área de cultivo do conilon localizam-se na região norte do estado, com os 25% restantes no sul, em municípios como Cachoeiro, Castelo e Alegre. O arábica é predominantemente cultivado nas regiões de montanhas e do Caparaó, com apenas 8% da produção no noroeste, em Mantenópolis.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Agronegócio Capixaba aqui