28.8 C
Vitória
terça-feira, 23 abril, 2024

Equilibre o fluxo de caixa de sua empresa

Equilibre o fluxo de caixa de sua empresaNa língua chinesa a palavra crise é no mínimo interessante. O ideograma chinês para “crise” é a combinação de dois símbolos. Um significando “perigo”, o outro pode ser traduzido como “oportunidade”. Mas quando se fala em micro e pequena empresa, é preciso mais que saber transformar crise em oportunidade: amparar a sustentabilidade diante de qualquer sinal amarelo, evitando uma possível quebra.

A boa notícia é que é possível fazer um diagnóstico do cenário, principalmente no que diz respeito aos problemas financeiros. Uma empresa de pequeno porte, não diferente das de médio e grande porte, pode ter algumas dificuldades se os seus gestores desconhecerem as bases que resultam em uma eficiente administração financeira. É o que afirma o consultor da Intex – Inteligência Executiva, Richard Moreira, acrescentando que esse é um problema que assola grande parte das pequenas empresas.

- Continua após a publicidade -

Uma pesquisa do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) sobre mortalidade de empresas aponta a falta de capital de giro como o fator responsável por 42% dos casos de fechamento de empresas no país. Só para se ter noção do que esse número significa, basta dizer que 59,9% das empresas abertas no Brasil acabam fechando suas portas antes de completar quatro anos de existência.

“Um dos maiores desafios para a micro ou pequena empresa é calcular e gerenciar o seu capital de giro. Muitos empresários vivem ‘no escuro’ porque não têm um planejamento financeiro”, afirma Daniela Negri, gerente da Unidade de Acesso ao Crédito do Sebrae/ES. Mas ela alerta que, antes de tudo, é importante distinguir o capital de giro do capital fixo, também chamado capital de investimento.

Em uma definição técnica, capital de giro é o valor financeiro do ciclo operacional da empresa. Em outras palavras, é a quantidade de recursos em dinheiro necessária para comprar, produzir, estocar, vender, pagar e receber. Já o capital fixo ou de investimento é aquele recurso empregado em máquinas, equipamentos ou obras civis necessários à implantação, ampliação ou relocalização da empresa.

Aprendendo a fazer capital de giro

Aos poucos, o empresário deve tentar equilibrar as contas, sempre buscando longos prazos para pagamento e curtos prazos para recebimento. A liquidez de uma empresa é medida pela sua capacidade de pagar seus compromissos financeiros no curto prazo. A gestão do capital de giro torna-se crítica, e ainda mais importante para se conhecer a relação entre o lucro e o prejuízo do negócio.

De acordo com o consultor Richard, quanto maior a demora para receber e menor o tempo para pagar, mais os seus custos irão aumentar e o lucro diminuir; conseqüentemente, o que foi investido no negócio não será compensador. Por exemplo: se você montar uma padaria, compre as massas para pagar em 60 dias, faça seus pães e os venda à vista. Assim, o dinheiro entra à vista e você tem 60 dias para trabalhar com ele, colocando na poupança, por exemplo, até ter que pagar o fornecedor de massas, ensina o consultor, de forma prática.

Mas, muito cuidado para não cair em insolvência (não conseguir saldar dívidas adquiridas para abrir a empresa). “É importante que se evitem alguns erros que levam a empresa a uma situação-limite, o que acarretaria decisões que podem levar a tomar capitais a custos absurdos – como, por exemplo, empréstimos a juros altos e investimentos sem um mínimo de conhecimento do mercado, ou sem previsão de retorno, o que resultará em um aumento de passivos. Assim, é recomendável que os responsáveis acompanhem a administração do capital de giro com muita freqüência”, destaca consultor da Intex.

Tiro no pé

A terceira edição do Boletim de Crédito do Sebrae mostra que, no primeiro semestre de 2009, o volume de crédito disponibilizado para as microempresas e empresas de pequeno porte capixabas foi de R$ 1,26 bilhão, dos quais 78% representaram operações de crédito para capital de giro.

Antes, porém, de recorrer a um banco para obter capital de giro, é fundamental saber se a empresa precisa mesmo desse capital ou se o problema não está ligado a deficiências no planejamento e na gestão do negócio. “Não sabendo calcular sua necessidade, o empresário pode estar dando um tiro no próprio pé.

Muitas vezes, o que existe é um descompasso entre os prazos para pagamento e recebimento”, explica Daniela Negri. “Outras vezes, a empresa pega capital de giro no banco e usa esse recurso para investimento, o que também não é recomendável”, diz.

Isso porque as linhas de crédito para capital de giro costumam ter prazos menores e juros maiores. Por sua vez, as linhas para capital fixo geralmente têm prazos longos e juros reduzidos. Portanto, existe uma linha de crédito específica para cada necessidade da empresa.

Mas, como calcular a necessidade de capital de giro para cada empresa? Uma das maneiras de se chegar a esse número é verificando o saldo da conta que compõe o ciclo financeiro: valores a receber, estoques, fornecedores e despesas operacionais. Não existe mágica, nem adivinhação: o empresário precisa manter controles sempre atualizados dessas contas.

Diversificando os produtos

É evidente que existe uma forte relação entre a gestão do capital de giro da empresa e sua administração estratégica. Portanto, a solução para o problema do capital de giro consiste na adoção de medidas estratégicas consistentes, que vão desde o lançamento de novos produtos ou serviços à eliminação de outros, não lucrativos, à adoção de novos locais de venda ou até mesmo à mudança ou reconfiguração do negócio como um todo.

Os postos de combustíveis são um bom exemplo dessa estratégia. No princípio, eles apenas abasteciam os veículos. Depois, começaram a oferecer outros serviços, como troca de óleo, lavagem e venda de pequenos acessórios, com o objetivo de atrair mais clientes e aumentar seus lucros. Mais adiante, colocaram à disposição dos clientes as lojas de conveniência, verdadeiros “quebra-galhos” que funcionam em horários diferenciados, até mesmo 24 horas, de domingo a domingo. Atualmente, alguns postos viraram pontos de encontro noturno para inicio ou término das “baladas” nos finais de semana, e ficaram conhecidos como “points” entre os jovens.

Com essas medidas, os postos de combustíveis obtiveram um aumento nos lucros através da diversificação do negócio e muitas vezes as pessoas vão a eles só para comprar alguma coisa de maneira mais prática e rápida – e não, necessariamente, para abastecer o veículo.

“Desse modo, a solução dos problemas de capital de giro de uma empresa requer muito mais do que medidas financeiras. Estratégias, operações e práticas gerenciais, entre outras, precisarão ser planejadas e ativadas para que o capital de giro alcance um estágio satisfatório”, conclui o consultor da Intex.

A teoria na prática

Rodrigo Coutinho, diretor da Beside Soluções Empresariais, organização com foco em recuperação empresarial e controladoria, registra um dos exemplos práticos de como avaliar a situação financeira da empresa. “Devido a constantes mudanças na economia, faz-se necessário que empresas de pequeno e médio porte conheçam quanto geram de lucro ao longo de determinados períodos e quanto elas disponibilizam de recursos para liquidar suas dividas de curto prazo.

Isto será possível através da análise do capital de giro e do fluxo de caixa, que deverá gerar comparações mensais a fim de avaliar a dinâmica do ciclo operacional ou, até, do ciclo financeiro da empresa”, ensina.

Neste aspecto, o acompanhamento do ciclo operacional, que consiste no período médio que vai desde a aquisição da mercadoria até o recebimento da venda da mesma, será de fundamental importância para a determinação do capital necessário para o financiamento das operações. Isso porque o ciclo operacional configura um período médio em que são investidos recursos nas operações sem que ocorram entradas de caixa correspondentes. Durante este período de “descasamento” de caixa, deve-se avaliar como a empresa financia as suas necessidades de capital de giro.

“Contudo, a empresa também deve atentar-se que nem toda sobra de caixa é lucro. O lucro bruto de vendas, ou até mesmo o lucro líquido, somente poderá ser interpretado como disponibilidade real no mínimo após fechar o ciclo operacional”, explica. Rodrigo Coutinho.

Essa “matemática” é um dos caminhos da receita, mas algumas atitudes são fundamentais para o “bolo” dar certo e crescer. A dedicação é um ingrediente que, comumente, sobra aos empreendedores, pelo menos no começo. Mas o fermento é a disciplina e o gerenciamento estratégico, indispensáveis para o equilíbrio do fluxo do caixa. Nunca é demais lembrar que a falta de capital de giro é responsável por mais da metade da mortalidade das pequenas empresas. Nem que é possível mantê-lo sob controle, pelo cuidadoso planejamento de desembolsos. Não desista: organize-se, dê oxigênio à sua empresa e siga em frente. A recompensa é a garantia de sobrevivência e evolução.

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA