Presidente da findes defende inovação, produtividade e avanço de mercado para retomada do crescimento
A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) está sob nova direção. Leonardo de Castro é o mais jovem empresário a assumir, aos 45 anos, a presidência da entidade. Após obter, de modo unânime, o voto dos 31 sindicatos habilitados, ele comandará a instituição até 2020. A nova liderança da organização também é composta por 45 empresários, entre vice-presidentes, conselheiros e diretores. Conselheiro na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Leonardo afirma que o foco da diretoria será avançar nos processos de capacitação e inovação, defendendo ainda o associativismo.
Qual o desafio da indústria neste momento?
Estamos inseridos em uma crise que o Brasil nunca vivenciou, e as empresas de forma geral precisam de esforço redobrado para sobreviver a este momento de extremo desafio. Mas também tivemos avanços importantes: conseguimos aprovar a lei da terceirização, a reforma trabalhista, a convalidação dos incentivos fiscais e o marco regulatório do pré-sal. Preferimos acreditar que vamos avançar nas reformas, que a sociedade entendeu que tudo vai muito além da política pura e assumiu protagonismo nesse jogo. O desafio está em concretizar as reformas da Previdência, tributária e política. Ainda é muito importante cobrar que o ajuste fiscal ocorra no campo da despesa, e não do aumento de impostos, como aconteceu recentemente em relação aos combustíveis e outras especulações que temos visto.
Após um período muito acima da média nacional, há dois anos a indústria capixaba vem enfrentando sérios problemas. Qual a expectativa de resultado para este ano?
Estamos com as commodities mais bem valorizadas no mercado, e isso é importante para o Espírito Santo. Temos um cenário de inflação controlada e redução de taxas de juros de 1% a cada 40 dias e esperamos que esse ritmo de redução da Selic se intensifique. Apostamos em um crescimento entre 4% e 4,5% para a indústria capixaba em 2017. Mas isso não significa que podemos festejar demais; na verdade é preciso muita cautela, porque em 2016 tivemos queda acima de 18% na produção. Para um crescimento representativo, que faça a indústria avançar realmente, será necessário um cenário positivo no mercado internacional e também ações concretas tanto dos governos federal e estadual, em conjunto com a iniciativa privada. No que diz respeito à Findes, vamos trabalhar muito em cima do tripé inovação, produtividade e desenvolvimento de mercado. O fato de termos feito a lição e casa e de o Estado estar organizado, aliado ao aumento do valor das commodities no mercado internacional e aos arranjos que vêm sendo construídos tanto de novos mercados para segmentos tradicionais de exportação – como café, pedras ornamentais e mamão – quanto para novos produtos que surgem com investimentos em inovação, são fatores que nos permitem otimismo, mas com o pé no chão.
O que é necessário para consolidar uma ambiência mais favorável aos negócios e às necessidades da indústria no Espírito Santo para obter os melhores resultados?
O Espírito Santo tem sido uma exceção nacional no que diz respeito à política pública: temos equilíbrio fiscal, prioridade para questões que são realmente relevantes ao desenvolvimento, como é o caso da educação.
E esse cenário precisa ser mantido, melhorado ainda mais. Além disso, é necessário o retorno da Samarco o quanto antes, pois a mineradora representa 5% do PIB do Espírito Santo. Outro ponto, que já citei, é o de concretização das reformas para estimular a indústria capixaba e, por fim, capacitar profissionais e inovar em todos os segmentos.
Como a Findes tem se mobilizado para o retorno da Samarco?
Em julho agora, com o vice-governador do Espirito Santo César Colnago, estivemos reunidos com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, para tratar dos pontos que ainda atrasam a retomada da siderúrgica, os dois processos de licenciamento que faltam para reiniciar as operações. É um desejo de todos nós que a empresa retome as atividades o quanto antes. O que a Samarco deixa de arrecadar de ICMS para o Espírito Santo equivale hoje a todo o investimento que o Estado está fazendo. Se a Samarco estivesse operando, o Estado dobraria a sua capacidade de investimento próprio.
O trabalho da Findes para fortalecer o associativismo, que se tornou referência na CNI, será mantido nesta gestão?
O que fazer para expor ainda mais nosso Sistema, nossos produtos e serviços?
Na posse da nova diretoria, no último dia 3 de agosto, tivemos a presença de Pedro Parente, que preside a Petrobras, maior indústria no Espírito Santo, potencial catalisador do desenvolvimento do nosso Estado. Temos uma iniciativa na Federação que é o Fórum Capixaba de Petróleo e Gás, que objetiva justamente desenvolver a cadeia de fornecedores para essa indústria. Vocês puderam acompanhar os investimentos anunciados para os próximos cinco anos no Espírito Santo, na ordem de US$ 2,5 bilhões, quase R$ 8 bilhões,
o que dá a dimensão das oportunidades que irão surgir. Temos uma agenda de leilões da ANP (Agência Nacional de Petróleo); o próximo agora em setembro. A expectativa é de investimentos futuros de R$ 50 bilhões. Mas há diversas outras cadeias e arranjos. Daí a necessidade de garantir que a indústria esteja preparada. Na área de produtividade, vamos aproximar o Senai ainda mais da indústria, qualificar ainda mais o ensino, porque somente por meio da formação de mão de obra especializada e de boas ferramentas de gestão é que a gente cresce na produtividade, melhora os índices de competitividade da indústria capixaba. Reiterando, vamos atuar no tripé inovação, produtividade e desenvolvimento de mercado.
Temos uma visão associativa, que valoriza o trabalho coletivo como forma de criar um ambiente mais saudável aos negócios, para todos. Não acreditamos em prosperidade individual em um ambiente precário. Precisamos evoluir com a sociedade, integrar os interesses para que exista o equilíbrio.
Há décadas a Findes demanda soluções para os mesmos gargalos na infraestrutura. Podemos ser mais otimistas quanto à chegada das soluções?
A indústria continua bastante preocupada com a logística de escoamento da produção capixaba. Existem melhorias fundamentais que não foram finalizadas, como a ampliação do aeroporto e a dragagem do Porto. E a situação das estradas que cortam o Espírito Santo não está nada boa. Apesar de o ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, ter garantido a duplicação da BR-101, durante visita ao Estado, não especificou o tempo de espera para o início das obras. Existe um contrato com cláusulas. Precisamos entender quais cláusulas, tanto das obrigações quanto dos direitos, que fugiram do controle.
E buscar um equilíbrio para a retomada das obras na BR-101.