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sexta-feira, 19 abril, 2024

“Em 2020, tivemos movimento muito maior do que antes da pandemia”, afirma o empresário das montanhas, Valdeir Nunes dos Santos

O empresário das montanhas capixabas, dono do Hotel Fazenda China Park, Valdeir Nunes dos Santos comenta sobre o turismo em tempos de pandemia

Por Samantha Dias 

Nesta entrevista para a ES Brasil, o empresário dono do Hotel Fazenda China Park Valdeir Nunes dos Santos conta um pouco sobre sua trajetória profissional, que começou com uma loja de ferramentas, a China Tem. No final dos anos 90, adquiriu um sítio que, aos poucos, foi se transformando num complexo de hotelaria, gastronomia e lazer.

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Valdeir fala sobre o excelente momento que o turismo nas montanhas do Espírito Santo vem passando desde meados do ano passado, mesmo em momentos complicados da pandemia de covid-19 e projeta também os avanços e ganhos que a região ainda pode ter.

Por muito tempo, você ficou conhecido pela loja China Tem. Quando abriu essa loja já era seu desejo empreender?

Eu tinha um projeto de vida de ficar no comércio até 45 a 50 anos de idade. Em 1998 eu comecei então a procurar um lugar, foi quando eu comprei esse lugar que estou hoje, que inicialmente eu usei ele como sítio, um sítio de lazer da empresa e da família. Comecei a investir muito nesse sítio e quando foi em 1998 eu tinha vários lagos que comecei a transformar em um pesque-pague. Então, primeiramente começamos com um pesque-pague, que atraia muita gente, então eu achei que era bom negócio.

Através desse pesque-pague, comecei com dois chalés e a partir daí as coisas foram acontecendo devagar. Eu não tinha esse projeto, tinha um projeto de vida que não queria continuar com o comércio por muito tempo, mas também não tinha esse pensamento de hotelaria. Tinha esse desejo de começar alguma coisa, mas nunca pensei em ter um hotel do tamanho que nós temos hoje.

Com os anos de experiência, na sua avaliação, quais os segmentos e setores indicados para quem quer empreender nas montanhas capixabas? 

As montanhas capixabas crescem em torno de dez por cento ao ano. O China Park cresce mais do que 10% ao ano. Nos últimos anos surgiram muitas cervejarias, restaurantes de alta gastronomia. Mas ainda tem carência de restaurante, por exemplo, no fim de semana é difícil você chegar, escolher um restaurante de alta gastronomia, sentar e pedir sua alimentação, se não fizer reserva antecipado. Não é só na época do inverno não. Isso tá acontecendo durante todo esse período da pandemia.

O movimento aumentou muito no pós-pandemia. Então hoje a carência de novos investimentos nesse serviço de restaurantes, de hotelaria, grandes hotéis e pousadas. Tem acontecido também várias pequenas pousadas que estão surgido em Domingos Martins, Marechal Floriano, Pedra Azul, Venda Nova…tem surgido várias pequenas pousadas.

Também há carência de pessoal, de mão de obra para trabalhar, há necessidade hoje de cozinheiro, faltam garçons.

No ano passado, com a pandemia, o setor de turismo e hotelaria ‘sofreu’ com as medidas restritivas. Quais os caminhos e alternativas buscadas pelo setor para passar pelo momento de dificuldades?

Na realidade, a dificuldade que nós tivemos aqui não foi diferente da que tem em todo o Brasil. Nós fechamos nossos hotéis aqui por três meses. O Governo do Estado não pediu para que nós fechássemos nossos hotéis, nós fechamos por falta de cliente, não tinha cliente, teve hotel que fechou por 60 dias, nós do Hotel Fazenda China Park fechamos por 60 dias, mas tiveram outros hotéis aqui que fecharam até por quatro, cinco, até seis meses.

Nós fechamos em março de 2020, quando foi no mês de maio, nós já abrimos novamente. Mês de junho a clientela começou a voltar. As pessoas já não aguentavam mais ficar em casa começaram a voltar. E o que nós fizemos? Nós procuramos trabalhar com todos os protocolos. Saímos na frente criando selo do turista seguro para a região de montanha. Procuramos todos os procedimentos corretos com os protocolos que na época foi informado pelo Ministério do Turismo, pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Turismo e Secretaria de Saúde. Fizemos com que o turista podia chegar nas montanhas capixabas e ter toda a segurança que ele tinha na sua casa.

O turismo de luxo, como é o caso de Domingos Martins e Pedra Azul, acompanhou a queda verificada em muitos lugares? Por quê?

Na realidade nós não temos um turismo de luxo, né? Nós temos um turista de classe média e classe média alta. A queda foi no Brasil todo, então sofremos esses três meses. Depois desses três meses eu posso dizer a você com toda certeza que Domingo Martins e Pedra Azul são pontos fora da curva a nível de Brasil para o turismo, tá? Depois desses três meses que ficamos fechados, aqui nós tivemos um aumento gradativamente dos turistas nas montanhas capixabas.

A partir de julho de 2020 nós já tivemos um movimento maior do que antes da pandemia, o que tá acontecendo hoje, um movimento bem superior ao movimento que nós tínhamos em 2019.

Como foi o ano de 2020 para os setores de hotelaria, gastronomia e mercado imobiliário?

Para a hotelaria, como eu disse, foi um ano de dois a três meses fechados, mas o ano foi muito bom e continua positivo dentro da hotelaria.

Os restaurantes sofreram um pouco mais, porque sofreram restrições, não podiam abrir. Restaurantes, bares, lanchonetes sofreram muito porque de acordo com o Mapa de Risco do Governo do Estado o estabelecimento fechava ou abria. O lugar que estava aberto hoje não tinha certeza se nos próximos dias ele poderia abrir. Hoje, graças a Deus, nós estamos no risco baixo e os restaurantes não têm restrições de funcionamento, mas se por ventura mudasse, nós esperamos que não venha a mudar mais, muda também a abertura do restaurante. Mas a área de gastronomia hoje tá muito bem nas montanhas, tá? Muito bem mesmo.

Agora o setor de mercado imobiliário, esse foi o que teve uma expansão tremenda. O Espírito Santo teve uma expansão na imobiliária, mas as montanhas capixabas teve muito maior. As pessoas estavam muito presas em casa, muita gente que tinha somente o seu apartamento e estava muito presa em casa resolveu fazer alguma coisa nas montanhas capixabas, ter a sua segunda casa e procurou as montanhas capixabas. Então, muitas pessoas procuraram os condomínios, são poucos condomínios de montanha hoje que ainda tem terrenos para vender. Aqui no hotel nós temos dois condomínios e nós temos ainda algumas unidades, mas fomos poucas, tá? Porque a procura foi muito grande e continua ainda muito grande, a procura por sítio de lazer, tudo aqui na montanha. Então a parte imobiliária teve a expansão muito grande, se eu posso dizer a você de 50 a 100% a mais do que nós tínhamos em 2019.

"Em 2020, tivemos movimento muito maior do que antes da pandemia", afirma o empresário das montanhas, Valdeir Nunes dos Santos
Valdeir Nunes dos Santos, dono do Hotel Fazenda China Parque. Foto: Divulgação

Como está sendo o inverno deste ano? Está superando as expectativas?

O inverno deste ano nós estamos com aumento em torno de 20 a 30%, se nós levarmos em consideração 2019, antes da pandemia. Então hoje o inverno está muito bom. Todos os hotéis de montanha no final de semana estão com lotação máxima. E aqueles que têm estrutura de lazer estão tendo procura muito boa também durante a semana.

A região sofre com a sazonalidade das estações? Ou seja, terminando o inverno deixa de ser atrativa? como driblar essa situação?

Isso não é só no Espírito Santo, né? Todas as cidades turísticas sofrem com essa sazonalidade e nas montanhas capixabas não é diferente. Nós temos um grande movimento nos finais de semana e quando chega no meio de semana o movimento cai. Hoje já não cai mais como antes. Nós aqui no China Park, por termos uma estrutura de lazer grande, nós temos hoje uma movimentação durante a semana extraordinária. Nós temos cerca de 40 a 50% de ocupação durante a semana, no inverno agora temos quase 100% de ocupação durante a semana. Mas fora do inverno nós temos uma ocupação de 40 a 50% durante a semana o ano todo. Por que? Porque temos estrutura de lazer, os hotéis que têm estrutura de lazer eles estão tendo já uma boa ocupação. As pessoas estão deixando de viajar pra fora, estão viajando internamente, elas continuam tendo férias e principalmente agora que não estão fazendo viagem internacional, estão vindo para as montanhas capixabas.

Muitas pessoas também dos nossos estados vizinhos, Minas Gerais, Bahia, elas vêm para o Espírito Santo para ficar três, quatro, cinco dias e eles usam durante a semana que também é um grande diferencial porque quem quer vir para as montanhas durante a semana vai pagar um preço bem mais barato do que o final de semana. E o final de semana nós temos dificuldade de conseguir hospedagem. Já meio de semana normalmente nós temos vaga.

O mercado imobiliário nas montanhas atende qual perfil de público?

O mercado aqui da região de Domingos Martins atende uma classe média alta. Com a pandemia, muitas pessoas de classe média estão adquirindo terrenos nas montanhas porque querem sair de Vitória, muitos estão fazendo a sua residência definitiva nas montanhas capixabas. Então aquele que á mais abastado ele tem a sua casa em Guarapari, tem sua casa em Vitória e também agora está comprando nas montanhas capixabas.

Não é só rico que tá vindo pra cá não. É aquele que aposentou-se, tinha o recurso que guardou ao longo dos seus anos e ele agora tá vendo que com a pandemia, ele viu que não há interesse de guardar dinheiro não, tem que viver, eu acho que isso está na cabeça de muitas pessoas, gente que guardava dinheiro, hoje ele não tá guardando dinheiro mais não. Ele tem a sua casa e tá investindo aquilo que ele conseguiu poupar com os anos nele mesmo e na sua família. Hoje ele pode investir numa casa de montanha e ter uma qualidade de vida melhor. Após pandemia as pessoas perceberam que tem que cuidar dele, cuidar da vida dele, que a vida passa e que nós somos nivelado por baixo. A pandemia nos ensinou isso, que nós todos fomos nivelados por baixo e que a pessoa tem que procurar qualidade de vida e quem quer qualidade de vida, tem que vir para as montanhas capixabas.

Quais as projeções e perspectivas para 2021 e para o futuro?

Está se falando na privatização da BR-262. Com a privatização, sair de Pedra Azul e ir para Vitória vai levar uma hora, então vai haver um crescimento muito grande nas montanhas capixabas. Nós esperamos que tenhamos novos hotéis chegando, que venha um hotel de bandeira até internacional, nós esperamos que a região tenha o seu aeroporto, tenha o seu centro de convenções, para que as pessoas possam vir fazer seus eventos aqui. Nós esperamos muito, tá? Nós confiamos muito nas montanhas capixabas e nós estamos investindo, estamos fazendo oitenta novos apartamentos no China Park. Investimos recentemente num restaurante muito grande, hoje o maior restaurante do estado podemos dizer que tá aqui no China Park, com capacidade pra receber 750 pessoas sentadas. Nós estamos vendo o crescimento e acreditamos nisso, todos os hoteleiros estão acreditando nisso. É o que nós estamos fazendo é melhorar mais ainda o nosso atendimento, melhorar a qualidade do nosso pessoal que trabalha e esperar que essas coisas vão melhorar muito mais.

Com a dificuldade da pandemia as pessoas que viajavam para outros países não estão viajando,  descobriram as montanhas capixabas. Então por isso que eu acredito que nós temos teremos um aumento, um aumento e esse aumento veio para ficar, tem capixaba que não conhecia as montanhas capixabas, conhecia Nova Iorque mas não conhecia as montanhas capixabas e vieram pra cá se surpreenderam. Eles não vão deixar de ir pra Nova Iorque, pra Paris, pra Argentina, mas também não vão deixar de vir pras montanhas capixabas. Então por esse lado a pandemia nos ajudou, porque descobriram que existe pertinho dele as montanhas capixabas.

Como você acredita que será o lazer e a diversão no pós-pandemia. Como as pessoas vão se divertir com segurança?

Isso já tá acontecendo, tá? Aqui mesmo no China Park só não está aberto hoje o nosso cinema. A parte de estrutura de lazer nossa tá tudo funcionando. As pessoas estão se cuidando, podem brincar de máscara tranquilo, fazer a higienização das mãos. Então as pessoas não vão deixar de se divertir. Nós não estamos vendo dificuldade nisso. Nós tivemos um pouquinho de dificuldade antes e nós tivemos esse cuidado para não dar aglomeração de pessoas, estamos evitando isso com afastamento das mesas, os nossos recreadores estão tendo todo cuidado com as crianças.

Mas nós esperamos que a partir de outubro, novembro, o povo capixaba já estará todo vacinado, não só capixaba, esperamos que todo mundo no Brasil esteja, e que a nossa vida volte ao normal e a coisa segue. Com essa pandemia pelo que eu tô vendo, nós vamos ter que vacinar todo ano, então a vida continua e não podemos parar. Então eu acho que não vai atrapalhar em nada as empresas que trabalham com lazer, porque elas tomam as devidas precauções tanto do lado do seu colaborador, que nós também nos preocupamos com isso, tanto do lado do nosso cliente. É só ter cuidado e a vida que segue.

Quais são os sonhos e projetos pessoais do Valdeir?

Meu sonho é o sonho de qualquer empreendedor. No nosso caso aqui do Hotel Fazenda China Park …em 2000 que nós inauguramos o Teleférico, um parque aquático, já são 21 anos que nós temos o nosso hotel. Mas nosso hotel está em crescimento constante, eu tenho dito que nós nunca inauguramos, inauguramos parte, mas nós nunca fizemos uma inauguração do nosso complexo porque nosso complexo continua crescendo. Então o meu sonho é fazer isso aqui crescer mais! Tem muitas coisas para serem feitas aqui ainda e vamos fazer, eu vim pra ficar e meu sonho é fazer com que isso aqui seja referência a nível nacional.

Hoje as montanhas capixabas ela é conhecida dentro do nosso público, nós somos mais conhecidos dentro da Grande Vitória e no raio de 400 Km. Mas nós esperamos que possamos realmente fazer com que Pedra Azul seja um destino nacional como é Gramado. Hoje Pedra Azul não é porque falta um aeroporto. Então, nós esperamos que vamos ter o nosso aeroporto, nós vamos ter o nosso centro de eventos a nível nacional e com isso Pedra Azul passa a ser realmente um destino mais conhecido. Já somos conhecido pouca coisa a nível nacional, mas queremos ser muito mais. Esse é meu objetivo porque eu trabalho pela região de Pedra Azul, trabalho por Domingos Martins, eu por Venda Nova e os demais municípios, porque o crescimento desses municípios é o nosso crescimento. E pra isso nós contamos com nossos governos, que eles possam ajudar a gente a investir na publicidade, para ser conhecido tem que divulgar e divulgação custa muito, por isso nós precisamos do Governo do Estado, da Secretaria de Turismo nos ajude a divulgar para que Pedra Azul seja realmente um destaque a nível nacional.

Qual a origem dos turistas que visitam as montanhas capixaba?

40% dos turistas que visitam as montanhas capixaba é da Grande Vitória, principalmente aqui no Hotel Fazenda China Park; e cerca de 25% é dos outros municípios do Espírito Santo. 30% são os turistas dos estados vizinhos, que vem de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, e 5% a nível nacional.

Qual o perfil do turista para hotelaria?

Para a hotelaria o perfil vai mudar um pouco. Antes nós tínhamos muitas pessoas que viajavam a negócio, que saiam de casa só para negócio, reuniões corporativas, etc. Essas reuniões corporativas vão diminuir muito, vão ser substituídos, como já estão sendo hoje, por reuniões online. Então essas pessoas que vão deixar de fazer as suas viagens corporativas vão viajar com a família, vão valorizar as famílias.

No pós-pandemia, as famílias vão sair mais de casa, inclusive hoje há pesquisas no Brasil  que muitos hotéis que trabalhavam só com o corporativo vão partir também para atender o lazer, atender a família. Nós estamos bem nesse ponto porque o Hotel Fazenda China Park desde o início investiu na família, desde o início investiu no lazer. Então as famílias que estão saindo hoje pra onde elas estão indo? Elas têm que ir para um local que tenha lazer, um local direcionado à família, por isso que nós estamos bem.

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