O País tem uma economia para ser reconstruída
Por Arilda Teixeira
Existem homicídios, feminicídios e infanticídios. E, após o início do Governo Bolsonaro, passamos a conhecer também o economicídio – o assassinato das oportunidades para crescimento econômico.
É o que as atitudes desse Governo têm deixado no rastro por onde passam.
Seu despropósito é tamanho que suscita um questionamento: haveria uma ação deliberada do staff do Presidente para destruir os fundamentos da economia brasileira?
Num País em que até o passado é duvidoso, segundo renomado economista, nenhum anacronismo pode ser descartado. É nessa linha de interpretação que este texto está escrito.
A economia brasileira está fragilizada a bastante tempo devido, principalmente, aos erros, omissões e oportunismo, dos responsáveis por garantir condições institucionais para que o mercado brasileiro tenha oportunidade para produzir, gerar emprego, renda e lucro. A prova desta triste realidade são seus baixos níveis de crescimento, de competitividade, e de inserção externa. Adicionalmente, sobra para a iniciativa privada, carregar o peso do deficitário e perdulário Estado.
O País tem uma economia para ser reconstruída. Mas o Chefe do Executivo não faz ideia do que isso representa. Governa para seu grupo de apoiadores que, como ele, não enxergam a diversidade de necessidades que tem uma nação.
Esse modo ad hoc de governar o país que é uma república democrática de uma economia de mercado, dificulta eliminar os entraves ao crescimento/desenvolvimento.
Sobretudo quando se enfrenta uma situação adversa como a pandemia do COVID a partir de março/2020. Foi necessária oferecer uma ajuda emergencial para o segmento de baixa renda, para, pelo menos, atenuar falta de ofertas de emprego que se sucedeu com a pandemia. Segundo dados da PNAD, a taxa de subutilização da mão-de-obra chegou a 30,6% em 2020 – em 2017, no auge da recessão, foi de 23,9%.
Como não há almoço grátis na economia, os gastos compulsórios (necessários) com a ajuda emergencial aumentaram as Necessidades de Financiamento do Setor Público de 5,91% do PIB em dezembro/2019, para 16,7% em setembro/2020. E deteriorou o orçamento primário – passou de um déficit de 0,85% do PIB em dezembro/2019 para 11,95% em setembro/2020.
A típica situação em que se tem um problema grave de solução difícil.
Requerer liderança do Chefe do Executivo, para garantir espírito de corpo de sua equipe; inclusive para ter interlocutor eficiente junto ao Poder Legislativo. Não há esse arranjo.
É um Governo sem Governança. O comportamento do Chefe do Executivo é errático, conflituoso e desagregador. Propicia conflitos entre as pastas; dissemina incertezas; afugenta o investidor.
Para piorar, o Ministro Guedes, desde que perdeu o timing para enfrentar as ameaças da pandemia sobre a atividade econômica, perdeu também o autocontrole sobre o que pode, o que deve, e quando deve falar. Fragiliza o Ministério da Economia em relação às anacrônicas propostas do Ministério do Desenvolvimento, que insiste no modelo desenvolvimentista sem responsabilidade fiscal, que atolou a economia brasileira em dívidas nos anos 1980. Guedes parece uma bomba-relógio, e sua falta de controle fortalece seus antagonistas, dá munição para que o economicídio se concretize.
Que falta fazem um Luiz Eduardo e um Serjão! Que saudades do Malan!
Arilda Teixeira – Economista e Profa da Fucape