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quarta-feira, 24 abril, 2024

Novos ares para a economia e para investimentos

Economista-chefe do Banestes, Eduardo Velho fala sobre os rumos macroeconômicos e os projetos envolvendo o banco capixaba

Eduardo Velho parece confiante e ocupado. Economista-chefe do Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) há cerca de sete meses, ele sai de reunião em reunião conversando com pessoas pelos corredores, fazendo pedidos e delegando missões aos mais próximos. Ao fim de mais um encontro, despede-se de colegas e parte à procura de um local silencioso para começarmos a entrevista.

A correria faz parte do ofício. Paulista, ele coordena a criação de uma plataforma de fundos de investimentos para o Banestes, função que admite nunca ter feito antes. Mas isso não parece tirar seu entusiasmo. Pelo contrário, a possibilidade de executar um trabalho estrutural que será mantido pelo banco “ad eternum”, como diz, estimula. “Para mim está sendo desafiador. Foi um dos motivos que me fizeram aceitar esse convite”, afirma.

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No último dia 27 de fevereiro, o Banestes divulgou resultado do ano passado. O banco obteve lucro líquido de R$ 175,2 milhões, valor 8,6% superior ao registrado em 2016, recorde da série histórica da instituição, que completou 80 anos em 2017. No quarto trimestre do ano passado, a cifra atingiu R$ 51 milhões, 29,4% maior que o trimestre anterior e 18,6% superior ao mesmo período de 2016.

“Uma boa política econômica de mercado, de não camuflar preços ou represá-los, além da adoção de reformas estruturais, possibilitou uma mudança da percepção e na confiança tanto do investidor doméstico quanto internacional”

Eduardo VelhoConsultor do Ministério da Fazenda do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso em 1999 e de Política Monetária do Banco Nacional da Angola entre 2008 e 2009, além de outros tantos cargos de chefia, Velho agora encara o desafio de ser diretor de Operações do Banestes. Nesta entrevista, ele faz uma análise das conjunturas macroeconômicas nacionais e se mostra otimista com os rumos do país.

Como o senhor está encarando esse novo desafio à frente do Banestes? Quais os seus projetos à frente do banco?

Com relação ao Banestes, posso dizer que o banco hoje está investindo maciçamente em tecnologia, que é um movimento claro em todo o setor financeiro. A ideia é acompanhar o mercado e suas novas tendências. O Banestes Investimentos vem nesta visão,
de dar maior diversificação de produtos ao cliente, ou seja, oferecer não só o fundo do banco, mas também os fundos de outros setores financeiros, com uma boa assessoria, uma boa base tecnológica e uma boa agilidade de atendimento. O Banestes está seguindo essa linha de atualização e as tendências do mercado. Pessoalmente está sendo um trabalho bem desafiador, interessante e estimulante no sentido que a ideia é fazer algo estrutural. Manter isso para o banco “ad eternum”. Além da missão de economista-chefe do banco, isso foi uma das coisas que me estimularam a aceitar o convite.

O Brasil teve uma redução significativa na taxa básica de juros no ano passado. As últimas previsões do mercado dizem que a Selic deverá ficar abaixo dos 7% em 2018. O senhor concorda com essa projeção?

Em setembro do ano passado, no início da minha gestão como diretor e economista-chefe do banco, nós tínhamos uma projeção de crescimento superior a 3% em 2018 e uma queda na taxa básica de juros para 6,5% em 2018, quando muita gente ainda achava que o crescimento não superaria nem 0,5% em 2017 e que a taxa básica de juros cairia até, no máximo, 7% no final do ano. Houve uma mudança positiva na política econômica, a transição política possibilitou uma nova gestão, mais autônoma do Banco Central, que ajudou a fazer cair a inflação. Juntamente, claro, com uma boa política econômica de mercado, de não camuflar preços ou represá-los, além da adoção de reformas estruturais. Tudo isso possibilitou uma mudança da percepção e na confiança tanto do investidor doméstico quanto do internacional.

“O Banestes hoje está investindo maciçamente em tecnologia, um movimento claro em todo o setor financeiro. A ideia é acompanhar o mercado e suas novas tendências”

Assim, a queda da taxa básica de juros é um reflexo do sucesso do combate à inflação, ajudado pela desaceleração econômica e pelo aumento do grau de confiança dos investidores na atuação do Banco Central para controlar a inflação.

Apesar do recado do Banco Central de que manterá a taxa básica de juros até março, há a possibilidade relevante de ele reduzi-la para 6,5% em março. Isso em razão de que as projeções de inflação ainda estão abaixo da meta para este ano e para ano que vem, com a inflação estando bem abaixo do mercado.
Há então uma consistência na queda dos juros e da inflação.

A tendência então é que a inflação não volte a crescer?

A nossa projeção com relação à inflação é um pouco acima dos 4% referentes à projeção do mercado, mas não porque eu estou pessimista. Na verdade eu estou mais otimista com a recuperação econômica. Estamos projetando um crescimento econômico de 3,64% de expansão real do PIB de 2018, enquanto a estimativa do mercado continua abaixo de 3%. Mesmo assim, a projeção para 2018 e 2019 fica abaixo da meta da inflação.

Eduardo VelhoO fato é que os fundamentos de juros e inflação ainda são muito favoráveis. O câmbio na casa dos R$ 3,20 e a inflação abaixo dos 4% mostram que os fundamentos econômicos estão muito mais favoráveis que no segundo mandato da Dilma, quando nós chegamos a um câmbio de R$ 4,20 e uma perspectiva de prêmio de risco de 600; hoje nós estamos com um terço disso. O nível de confiança hoje é muito melhor que de um ano e meio atrás. Então, acho que é consistente esse crescimento e, mesmo que a reforma da Previdência não seja aprovada, isso não vai reverter.

O índice Ibovespa atingiu patamar recorde no fim do ano passado. Levando em consideração que estamos em um ano eleitoral, podemos esperar muitas oscilações na Bolsa?
Que efeitos práticos isso pode trazer para o Brasil?

Eu acho que a Bolsa vive três fases de alta bem segmentadas.
A perspectiva do impeachment e de mudança na política econômica já provocou essa alta da Bolsa. De 30 mil pontos no início de 2016 a 50 mil pontos no final de 2016.

Depois teve a fase do efeito de continuidade do crescimento da Bolsa, que teve muito a ver com o sucesso desse combate à inflação, a redução da taxa básica de juros, a revisão para cima das perspectivas de crescimento econômico e essas reduções estruturais, como a reforma trabalhista e a PEC dos gastos fiscais, etc. Todas essas questões foram importantes para criar uma expectativa de maior faturamento, de crescimento econômico, e fizeram a Bolsa ter uma nova reavaliação para cima dos preços das ações das empresas. E agora, temos uma fase também em que se consolidou o crescimento da economia mundial, mais forte que o esperado. Isso também gera crescimento para o Brasil, através de mais exportações, impostos para o governo, maior faturamento das empresas e crescimento econômico.
A continuidade dessa política econômica são os tentáculos que estão sustentando a Bolsa. Ela é um reflexo deste momento favorável, tanto em nível doméstico, como em nível internacional. Hoje estamos na vizinhança de 85 mil pontos. Triplicamos o índice da Bolsa em menos de dois anos.

“O grande desafio da atual política econômica é estabilizar e reduzir a dívida pública, recuperar o equilíbrio e superar as contas”

O governo já disse que prevê a piora da dívida pública em 2018. Como o senhor vê a questão do endividamento externo do país para os próximos anos? É algo para se preocupar?

O grande desafio da atual política econômica é estabilizar e reduzir a dívida pública, recuperar o equilíbrio e em algum momento superar as contas públicas. Entretanto, há a tendência de aumento de arrecadação, que vai ajudar a recuperar o superávit primário do governo. Aprovando reformas estruturais ao longo dos próximos anos e mantendo essa política macroeconômica, a tendência é que em algum momento a dívida pública irá se estabilizar e reduzir.
Hoje o investidor está mais preocupado, não com o aumento da dívida pública em 2018 ou 2019, mas com a tendência no médio prazo. Mas isso depende da continuidade da aprovação de algumas reformas.

Quais deverão ser os investimentos mais seguros e os mais vantajosos financeiramente para se fazer em 2018?

Obviamente, quando você tem um período de inflação alta, câmbio alto, juros muito altos, a tendência é que, para não correr riscos, os investidores recorram aos títulos públicos.  Claramente foi o grande investimento nos últimos anos, porque você tem menos riscos e  remuneração bem razoável e dando bons ganhos. O próprio Banestes teve um bom resultado na operação de títulos públicos na receita. A partir da estabilidade macroeconômica, com juros e inflação baixos, a tendência é que as pessoas tentem diversificar seus investimentos, e isso vai ser bom para as pessoas começarem a investir nas empresas, na geração de valor das empresas. A tendência é que o investidor gere mais valor e aplique em empresas em títulos de renda fixas com prazos mais longos, com o pressuposto de que a inflação ficará mais baixa por mais tempo.

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