As atitudes de Bolsonaro mostram que ele não entendeu que Presidente não é Deus. Capitão não é Presidente. Economia não é quartel.
Por isso personifica seu Governo; adota protocolos militares no relacionamento com seus ministros generais; e trata a economia como a dispensa do quartel – que conta com um habilidoso e disciplinado Tenente para gerenciar o fluxo de suprimento.
Esses erros de interpretação explicam os absurdos que se tem visto na cúpula do Poder Executivo Federal, que vão desde ministros desmentindo o Presidente; até os mandos e desmandos de ministros com demissões.
Ao fim das contas, tem-se gerado ruídos demais e resultados de menos. Enquanto isso, a economia brasileira permanece travada. E para destravá-la serão necessárias mudanças estruturais, que precisam do emprenho e liderança do Chefe de Estado para propô-las, negociá-las, e defendê-las no Parlamento como um Projeto de País.
É o que cabe a um Estadista – o que o Capitão-Presidente não é.
Ele não controla seus ministérios – é pública a confusão no MEC, no Itamaraty, dentre outras.
Mesmo sendo o postoipiranga, o Ministério da Economia mais apaga fogo do que avança em reformas. Esta é uma situação que preocupa porque além da agenda de reformas internas, há uma agenda externa também desafiadora – baixo crescimento dos países desenvolvidos, consequentemente, queda no volume de comércio dos países em desenvolvimento – e as diretrizes de política externa apontadas pelo Chefe do Itamaraty parecem subestimar o impacto dessa agenda para a economia brasileira.
Como o protecionismo tem ganhado apoios após o fracasso do multilateralismo em melhorar as condições socioeconômicas dos países, as transações internacionais enfrentarão uma era de obstáculos, que imporão desafios à inserção externa: convencer os nacionalistas/protecionistas de que a complementariedade da oferta doméstica com importação é também uma forma de ser nacionalista, porque é um meio de garantir acesso aos bens e serviços de que precisam.
Tarefa hercúlea porque inserção externa, além de canal para acesso a bens e serviços, é também, e principalmente, passaporte para galgar poder político nas negociações internacionais.
China e Rússia – aspirantes a Potências Hegemônicas – não baixarão a guarda para EUA e União Europeia (EU), e manterão o flerte com Irã e Turquia, para resguardarem poder de ameaça sobre EUA e UE. Será um embate entre economias das democracias ocidentais e economias das autocracias asiáticas e euroasiáticas, através de protecionismo, para alcançar poder geopolítico.
A saída do Reino Unido do Mercado Comum Europeu (BREXIT), agrava o impasse internacional. Suas consequências são difíceis de dimensionar, devido a multiplicidade de resultados possíveis, mas se for efetivada, certamente acirrará o protecionismo.
São situações complexas, que exigirão habilidades diplomáticas para negociar os canais de acesso à cadeia produtiva mundial que estarão sob disputas geopolíticas; e eficiência alocativa para alcançar a competitividade necessária para inserção naqueles mercados.
Assim sendo, crescimento econômico com competitividade, associado a neutralidade e habilidade diplomática para negociar, são os elementos-chave para assegurar a participação do Brasil no mercado mundial.
Uma possibilidade distante para uma Economia Aquartelada.
Arilda Teixeira – Economista e professora da Fucape