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quinta-feira, 28 março, 2024

É possível crescer durante a crise?

Em meio a períodos turbulentos, veja quais são as melhores formas de identificar oportunidades de superação e crescimento

Não é preciso ser especialista para saber que a crise econômica se instaurou em nosso país. Ela está aí, visível, não somente nos preços dos produtos e nas contas pagas pela população – que aumentaram consideravelmente –, como também na vida profissional do trabalhador, que vê diariamente pessoas sendo demitidas porque as empresas não suportam mais tantos impostos e custos para manter os negócios funcionando como antes. Algumas, inclusive, até fecham, dando fim a histórias sólidas no mercado.

De acordo com a diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Andrezza Rosalém, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou a expectativa de contração da economia brasileira em 2015, passando a prever decréscimo de 1,5%, piorando a estimativa anterior, de redução de 1%. Já para 2016 há uma tímida expectativa de crescimento, de apenas 0,7%. “Em 2015 ainda não teremos uma melhora significativa na situação do país”.

A realidade econômica brasileira é preocupante, e há fortes indícios de que as coisas podem a piorar ainda mais, caso não se ponha urgentemente em prática uma austeridade fiscal eficaz. “Há sinalização de que podemos perder toda a década. Havendo austeridade, o que ainda não se observa, o caminho se torna viável”, pontua o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Espírito Santo (Faes), Júlio da Silva Rocha Junior.

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Mas frente a esse cenário ruim, o que não adianta é desistir, pelo contrário: o momento é de buscar alternativas que possam gerar uma luz no fim do túnel. Oportunidades não faltam, mas, para saber identificá-las, é preciso abrir a mente para novos caminhos, que possam contribuir para a manutenção ou até mesmo para o crescimento da sua empresa. Acredite: você pode sobreviver à crise, pois nesta “guerra”, não existem somente mortos e feridos.

Controlando os gastos

Mesmo em meio ao pessimismo quase generalizado, alimentado por uma série negativa de indicadores e análises, muitos profissionais estão encontrando maneiras eficientes de gerir a crise. Embora a maioria das pessoas e empresas preferisse não ter que enfrentá-la, duas coisas são certas: a primeira é que a crise não persiste para sempre. A segunda, é que é possível, sim, sair fortalecido de uma situação como essa.

Para João Luiz Vassalo Reis, engenheiro mecânico e consultor da GAP – Soluções em Gestão, o controle das finanças deve ser considerado como prioridade por aqueles que desejam “sobreviver” no mercado. Despesas, somente aquelas que forem realmente necessárias para o gerenciamento do negócio.

“Em primeiro lugar, tratar as finanças da empresa com o máximo rigor, evitando toda e qualquer despesa desnecessária. Em seguida, assegurar o equilíbrio financeiro da empresa. Depois, começar a se preparar para o pós-crise, aproveitando o tempo para retreinar seu pessoal, rever suas premissas empresariais e desenvolver novos produtos, serviços e soluções que serão objetos de desejo de seus clientes”, orienta.

O controle rigoroso de gastos também é lembrado pelo economista e diretor da Vieira & Rosenberg, Clóvis Vieira. Para ele, é extremamente importante que as empresas tenham muita cautela em suas decisões de investimento, buscando um planejamento financeiro consistente e adotando programas de inovação para se manterem de forma empreendedora e competitiva no mercado. “É preciso adotar um sentimento positivo de que o motor do crescimento no Brasil pode novamente rodar forte”, avalia.

O controle do fluxo de caixa deve ser eficiente para identificar despesas e gargalos que permitam melhorar o resultado financeiro. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Economia do Estado do Espírito Santo (Corecon-ES), Eduardo Reis, a revisão do mix de produtos da empresa também pode ser uma boa opção para eliminar aqueles que não estão trazendo giro de estoque e que não apresentam uma margem de lucro muito atraente. Outro fator que merece ser destacado é o estímulo à criatividade.

“Estimular a inovação e a criatividade dos colaboradores ajuda a otimizar os processos para entregar produtos e serviços com menor custo de produção e, consecutivamente, preços mais atrativos aos clientes, sem alteração na margem de lucro. Mesmo assim, o downsizing, em alguns casos, pode se tornar uma medida necessária para garantir a sobrevivência, reduzindo o tamanho da empresa.” O presidente do Corecon-ES aponta ainda o uso da publicidade por meio digital, em lugar de outros canais, como uma alternativa para reduzir custos.

O outro lado da moeda

Para o pesquisador e professor da Universidade Federal do Estado do Espírito Santo (Ufes), Ednilson Felipe, existe uma corrente que defende a ideia de que as crises também abrem oportunidades para ganhos e para a conquista de novos espaços, principalmente para as empresas que buscam ser mais criativas. “É preciso ver o que os outros não estão vendo. Isso exige uma capacidade de aprendizado que é fundamental não só para passar pela crise, mas para obter ganhos com ela”, orienta o professor e pesquisador da Ufes.

O fato é que toda situação sempre apresenta dois lados, e com a crise não é diferente. Acredite: ela também tem um lado bom. De acordo o especialista em Gestão do Tempo e Produtividade e CEO da TriadPS, Christian Barbosa, olhar para os mercados onde está barato investir para um ganho futuro e aproveitar as necessidades latentes do mercado atual para criar serviços e produtos são duas saídas interessantes para os empresários. “Todas as crises têm muitas oportunidades, só precisamos estar atentos para olhar e com coragem para investir”. Para Christian, os momentos turbulentos da economia podem ser, inclusive, considerados como um empurrão para quem almeja abrir um negócio. “Talvez a crise seja o momento que você precisa para começar uma segunda carreira, ou talvez tirar o sonho de empreender do papel”.

Outra forma de identificar oportunidades é a participação do empresário em eventos setoriais e de classe, algo que por muitas vezes pode ajudá-lo a entender com precisão a dimensão da crise em seu próprio setor. “Identificar e explorar a vulnerabilidade dos concorrentes também pode ser uma medida necessária para ampliação das vendas”, acrescenta Eduardo Reis, do Corecon-ES.

O empresário que deseja alçar novos voos seja para abrir uma empresa ou para atingir novos públicos também poderá prestar atenção no comércio internacional. De acordo com o diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Industrial do Espírito Santo (Ideies), Antonio Fernando Doria Porto, o comércio exterior, dependendo do setor, pode ser o melhor caminho para se adotar como estratégia nesse período de crise. Porém, deve ser uma ação que tenha continuidade, não sendo tomada apenas como válvula de escape para momentos difíceis.

Outra área apontada por ele é a indústria criativa, que vem se tornando cada vez mais forte e apresenta diferenciais importantes para aqueles que desejam se destacar em um mercado cada vez mais competitivo. “Quem quer se beneficiar da crise e promover melhorias pessoais e profissionais deve investir em qualificação profissional, principalmente em setores que se desenvolvem mundialmente a despeito da turbulência econômica, como a indústria criativa”.

Na receita da diretora-presidente do IJSN, Andrezza Rosalém, investimentos em campanhas de marketing e e-commerce podem abrir novos horizontes. Aproveitar o momento para reinventar o negócio também pode ser muito interessante. “O lançamento de um produto novo ou uma boa campanha de marketing podem fazer a diferença nesse período de menor crescimento econômico. Outro ponto é o uso da tecnologia, que pode gerar economia e aumentar a rentabilidade do negócio. Investir em e-commerce pode ser uma excelente alternativa”, afirma.

Evoluir do conceito de segmentação para o de fragmentação do mercado, identificar nichos de demanda, racionalizar processos e negociar parcerias, além de conquistar o comprometimento de seu colaboradores com resultados, são algumas das orientações do especialista em Comunicação Empresarial e sócio-executivo da Iá! Comunicação, Eustáquio Palhares. Em sua opinião, o profissional deve estar sempre em busca de diferenciais para alcançar “oceanos azuis e caudas longas”. Por isso, o investimento em capacitação também pode ser uma ótima saída para a crise, recomenda. “Para ter melhorias, é importante investir em desenvolvimento pessoal, com ênfase em qualidade de vida e afirmação de valores subjetivos”.

Capacitação contínua

Períodos de crise podem gerar ótimas oportunidades de negócios e também profissionais, mas não se engane: é preciso estar atento e agir de forma empreendedora. Além de ter um bom planejamento para estar preparado para eventuais problemas, empresários, gestores e colaboradores devem sempre se manter atualizados. A capacitação pode ser considerada uma palavra-chave para a prosperidade profissional e empresarial.

Para Adilson Neves, consultor em Gestão Estratégica e diretor da Multipla Business, a exploração de novos aprendizados e ampliação de conhecimentos pode ser muito bem utilizada no desenvolvimento de times. Identificar os funcionários com maior potencial de desenvolvimento e que tenham um mínimo de fidelidade à empresa com certeza também pode ajudar nesse sentido.

Priorizar a formação de talentos para não ficar à margem na redefinição dos rumos globais é também a recomendação do economista Clóvis Vieira, válida não só para empresas e profissionais, mas para o próprio país. “Cada vez mais deve-se investir na formação profissional e de talentos, buscando a adoção de novas tecnologias e orientando as pessoas para serem multifuncionais e complexas”.

Uma forma de colocar isso em prática é utilizando o employer branding, estratégia que algumas empresas têm implementado para manter os bons profissionais em seus quadros. Na prática, o RH recorre a diversas táticas para reforçar a imagem de boa empregadora da organização, disseminando a crença de que, mesmo em meio à crise, esta busca formas diferenciadas para não ter que demitir pessoal.

Se você ainda não conseguiu olhar o atual cenário turbulento de uma forma positiva, esta é a hora: aproveite o momento para refletir e avaliar a necessidade de mudanças e ajustes. “Este é o momento para fazer uma reflexão, inclusive, sobre a própria independência financeira. Será que estamos poupando o necessário para o conforto de uma aposentadoria tranquila no futuro? Será que preciso investir mais em minhas competências profissionais para ter um salário melhor? Será que estou aproveitando todas as oportunidades do meu campo profissional? São reflexões importantes que devemos fazer em tempos de crise”, incentiva Eduardo Reis, do Corecon-ES.

As orientações estão dadas, basta você saber avaliar as melhores formas de sobrevivência do seu negócio ou emprego. Quem consegue passar por uma fase como essa, com certeza sai ainda mais forte do que antes.

 A matéria acima é uma republicação da Revista ES Brasil. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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