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quinta-feira, 28 março, 2024

Dólar tem segunda queda seguida e fica abaixo de R$ 5,60

O dólar teve o segundo dia seguido de queda ante o real, novamente com peso determinante do noticiário externo, com os investidores animados pelas perspectivas de retomada da economia norte-americana e mundial, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorando suas previsões de desempenho este ano. A moeda americana caiu ante divisas fortes e emergentes, e na mínima no Brasil chegou a R$ 5,57, com a notícia de que a Califórnia planeja reabrir sua economia a partir de 15 de junho.

A perspectiva de que o governo vai encontrar uma solução para o Orçamento de 2021 e a conversa do presidente Jair Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre a vacina Sputnik V também contribuíram para retirar pressão do câmbio, ajudando o real a ter o melhor desempenho no mercado internacional nesta terça, considerando uma cesta de 34 moedas mais líquidas.

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O FMI condicionou nesta terça à retomada da economia mundial justamente ao processo de vacinação em massa e o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse no período da tarde que a política fiscal mais importante neste momento é a vacinação da população.

No fechamento, o dólar à vista terminou em baixa de 1,41%, a R$ 5,5998 – o primeiro fechamento abaixo de R$ 5,60 desde 23 de março. No mercado futuro, o dólar para maio era negociado em baixa de 1,34%, a R$ 5,5975 às 17h40.

Para o sócio e economista-chefe da JF Trust Gestão de Recursos, Eduardo Velho, a percepção de risco dos investidores sobre o Brasil ainda é alta, o que tem limitado a melhora do real. Nesse ambiente, o dólar tem encontrado dificuldade de cair abaixo do suporte de R$ 5,52. “É difícil ver o câmbio abaixo disso, há muito risco no Brasil ainda, uma percepção de cautela.”

Assim, mesmo com alta liquidez mundial e preços das commodities em ascensão, o economista da JF observa que não tem havido fluxo consistente para o Brasil e o real segue desvalorizado. Por isso, este movimento de melhora no câmbio pode se mostrar pontual.

O Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, alertou que o Brasil permanece como um dos mais vulneráveis a um episódio de estresse no mercado internacional, como o ocorrido em 2013. A diferença, observa o IIF, é que naquele ano a maior vulnerabilidade da economia brasileira eram as contas externas deterioradas, e agora o risco é o lado fiscal. “O Brasil era parte do grupo de cinco países mais frágeis em 2013 e permanece vulnerável hoje.”

O analista de mercados do Western Union, Joe Manimbo, observa que o crescente otimismo com a economia americana, com alguns bancos, como o Goldman Sachs, prevendo crescimento de mais de 7% este ano, e a elevação das taxas de retorno dos juros longos dos EUA vêm fazendo o dólar testar máximas em vários meses ante algumas moedas, como o iene. Para ele, o rápido avanço da vacinação nos EUA e a visão de aceleração da atividade devem seguir dando suporte ao dólar.

Bolsa

Com suporte proporcionado pelo dólar a R$ 5,57 na mínima do dia, em sessão discreta embora em boa parte positiva em Nova York, e com petróleo voltando a subir, o Ibovespa parecia a caminho de emendar a segunda alta da semana, chegando a testar a marca de 118 mil pontos nesta terça-feira, não vista desde 22 de fevereiro. O sentimento ganhava alguma força no meio da tarde, quando veio a público conversa entre os presidentes Jair Bolsonaro e Vladimir Putin sobre a compra e fabricação da vacina russa Sputnik V no Brasil, em momento no qual a oferta restrita de imunizantes e insumos ainda limita a vacinação no País. Ao fim, enfraquecido, o Ibovespa mostrava leve baixa de 0,02%, a 117.498,87 pontos, entre mínima de 117.175,98 e máxima de 118 212,60, com giro a R$ 24,9 bilhões. Na semana, sobe 1,95%, com ganho no mês a 0,74% e perda a 1,28% no ano.

Nos Estados Unidos, a política monetária acomodatícia e os estímulos fiscais ampliados continuam dando ímpeto ao apetite por renda variável, apesar da acomodação observada na tarde desta terça-feira em Wall Street, com Dow Jones em baixa de 0,29% e S&P 500, de 0,10%, no fechamento.

“O S&P 500 tem 95% das empresas com tendência acima de suas médias móveis de 200 dias. Com os rendimentos do Tesouro continuando a se distanciar da alta de 1,76% estabelecida no final do mês passado (para o yield da T-note de 10 anos), o Dow Jones e o S&P 500 parecem prontos a continuar batendo novos recordes”, observa em nota Edward Moya, analista da Oanda em Nova York, chamando atenção também para o momento do petróleo, ainda “bullish” na sua avaliação.

“O petróleo buscou recuperar hoje as perdas da sessão anterior em meio a preocupações sobre a demanda futura pela commodity, após a Opep+ ter decidido na semana passada que irá realizar aumentos graduais de produção entre os meses de maio e julho, ampliando a oferta”, observa Thayná Vieira, economista da Toro Investimentos. “No cenário doméstico, o avanço no número de casos de covid-19 e as medidas restritivas impostas pelos estados permanecem gerando cautela, assim como as discussões em torno do orçamento de 2021, pelas incertezas fiscais”, acrescenta.

Nesse contexto, as dúvidas sobre o doméstico vis-à-vis o momento externo, mais favorável, continuam a resultar em especial cautela quanto aos segmentos com exposição à economia interna, como o de maior peso na composição do Ibovespa, o setor de bancos, que registrou nesta terça perdas entre 1,05% (Santander) e 2,00% (Bradesco ON), na ponta negativa do índice na sessão. No lado oposto, Sul América subiu 4,27%, Fleury, 3,90%, CSN, 3,62%, e Usiminas, 3,46%. O dia foi de ajuste negativo para os pesos-pesados das commodities: Vale ON em queda de 1,30%, após estabelecer novo pico no dia anterior, e Petrobras ON -0,75%.

“Com a elevação da projeção do PIB para o Brasil pelo FMI, a 3,7%, vimos hoje demanda por ações que ficaram muito para trás, pela exposição que têm à economia doméstica. Com o avanço da vacinação nos próximos meses, essas ações, do setor elétrico, consumo, varejo e shoppings, devem voltar mais. Lá fora, as bolsas dos Estados Unidos batem recorde em cima de recorde, e o crescimento projetado para a China sustenta as commodities e as ações do setor, embora as ligadas ao governo, como Petrobras, sintam ainda esse peso”, observa Leandro Saliba, gestor de renda variável da AF Invest.

Juros

Os juros fecharam a sessão regular em alta, a despeito da forte queda no rendimento dos Treasuries longos e do dólar ante o real Mesmo quando atingiram as mínimas, à tarde, nem o yield da T-Note de dez anos em 1,65% nem a moeda americana a R$ 5,5772 foram capazes de aliviar prêmios na curva. O Orçamento 2021 virou o grande “bode na sala” e a cada dia que se passa sem uma solução que o torne exequível, e que contemple demandas legais e políticas, aumenta o desconforto do mercado em ficar vendido em taxas.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou com taxa de 4,645%, de 4,616% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 fechou em 8,23%, de 8,166% na segunda-feira. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 8,784% para 8,85%.

“Temos IPCA nesta semana e continuamos sem solução para a questão do Orçamento”, resumiu Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, ao explicar a resistência das taxas em acompanhar a melhora nos demais ativos. O texto aprovado pelo Congresso foi maquiado com subestimação de despesas obrigatórias para a acomodação de emendas parlamentares e tem de ser alterado sob risco de questionamentos jurídicos.

Para Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, a curva só se beneficiaria da influência do dólar e da T-Note caso o Orçamento estivesse resolvido. “O tempo está correndo contra, está se aproximando o deadline e o mercado não quer pagar para ver”, disse.

O presidente da República tem até o dia 22 de abril para sancionar o texto. “A coalizão com o Centrão é recente, não sabemos como será o toma-lá-dá-cá para se achar uma saída. Com Bolsonaro fragilizado, a tendência é esticarem a corda até o limite”, avaliou.

Não por acaso, em suas apresentações, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem destacando os riscos do cenário fiscal embutidos na precificação dos ativos. Nesta terça, citou que as polêmicas sobre o Orçamento causaram ruídos e a solução precisa ser melhor comunicada pelo governo e o Congresso. “A explicação sobre o Orçamento não foi boa o suficiente. As pessoas esperavam uma explicação mais clara e mais simples, que o ministro Paulo Guedes já começou a fazer. As incertezas em relação ao Orçamento aumentaram o prêmio de risco e precisamos remover isso, o que acredito que seja algo fácil de fazer”, afirmou, em participação em evento do Itaú.

Boas notícias do dia em relação à pandemia também não conseguiram produzir efeito na curva. Entre elas, a de que Brasil passará a aplicar mais uma vacina contra a covid-19, a russa Sputnik, após remoção de entraves regulatórios. Guedes voltou a dizer nesta terça que política fiscal mais importante no momento é a vacinação.

Na gestão da dívida pública, o Tesouro elevou a oferta de NTN-B no leilão desta semana a 2,750 milhões de títulos, ante 1,8 milhão na operação anterior. O lote foi vendido integralmente e mais concentrado no vencimento curto (1,250 milhão na NTN-B 2026).

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