Em uma live realizada nas mídias sociais da ES Brasil, o consultor em Marketing Político explicou como a pandemia do novo coronavírus pode influenciar o cenário político e o que podemos esperar das eleições municipais ainda neste ano
Muitas incertezas pairam sobre o cenário político de 2020. A pandemia do novo coronavírus mudou agendas, fazendo os candidatos evitarem aglomerações de pessoas, além de obriga-los, na maioria das vezes, a usar novas ferramentas para chegar ao eleitor.
Locais de debates foram alterados, passando a serem virtuais, candidatos saíram ou migraram para novos partidos, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estuda novas possibilidades para uma eleição diferente do que estamos acostumados a participar.
O consultor em Marketing Político e Comunicação Estratégica, diretor executivo da República Marketing Político, Darlan Campos, concedeu uma entrevista à ES Brasil por meio de uma live realizada nas mídias sociais, na qual explicou como poderá ser o ano eleitoral no Brasil e no Espírito Santo. Veja!
Por conta da pandemia, alguns países adiaram ou mantiveram as datas das eleições. Mesmo com um cenário de grande controvérsia por causa das prévias, teremos eleições adiadas no Brasil?
A discussão de hoje é a seguinte: a eleição na data atual está cada vez mais difícil de acontecer. Já há um consenso no Congresso Nacional, juntamente com lideranças e o TSE de que manter as eleições a partir do dia 15 de agosto até 04 de outubro está inviável, devido ao aprofundamento da pandemia. Havia uma discussão de que o pico seria em maio no Brasil, mas começou a ser jogado mais para frente, na qual se fala que será em junho ou julho, mas pode ser que seja mais a frente. Isso gera uma série de desafios.
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A discussão do Congresso agora é determinar o que é ponto pacífico. Unificação das eleições em hipótese alguma. Particularmente, concordo com essa tese, pois seria um grande deserviço para o país ter eleições unificadas. Estamos falando de um eleitor que vai escolher nove candidatos de uma vez. Se ele já tem dificuldade nas eleições gerais em escolher cinco, imagina nove. Segunda coisa, se unificar as eleições significa que a discussão nacional vai se sobrepor sobre a local. E isso é muito ruim.
A discussão então passou a ser: lançar a eleição para um momento mais distante que a gente conseguir ainda em 2020. Então, chegou-se a uma data do primeiro turno acontecendo no primeiro fim de semana de dezembro. Isso gera mais desafios para quem está na frente das campanhas, quanto para o eleitor que precisará se organizar e se ajustar nesse processo. Acredito que, dificilmente, nós não teremos eleição. O que pode acontecer para que ela não ocorra é uma catástrofe no ponto de vista de saúde pública da pandemia que no segundo semestre seja avassaladora no território nacional. Fora essa hipótese, teremos eleições mesmo com essas dificuldades que é o que se prevê no cenário atual.
Para a alteração do calendário, é necessária que o Congresso aprove uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Você não acha que nós já cruzamos a “linha vermelha” para o processo logístico de fazer a eleição acontecer do ponto de vista do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) acontecerem?
Ainda não. Há prazo legal. A perspectiva é mais orçamentária porque precisa ter dinheiro. O desafio é conseguir recursos para fazer o processo caminhar. Eu não vejo problema em adquirir um montante maior no que o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso, tem dito. Acredito que tenha desafios logísticos maiores, por exemplo, como fazer eleição em um dia com uma pandemia?
Já tem se falado em eleição em dois dias, dividir por idade, sendo os idosos em um dia e os mais novos em outro. Então, são desafios que deverão ser pensados. A insegurança jurídica de ultrapassar o ano de 2020 e prorrogar mandatos dos atuais mandatários, é gigante e eu tenho certeza que o TSE e o Congresso tentarão evitar ao máximo que puderem essa perspectiva.
Veja o vídeo completo do bate papo:
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT), apontou que 62,5% da população aprova o adiamento das eleições. Mas empurrar o dia da votação para frente implica em mudar as regras do jogo eleitoral, que podem deixar o processo eleitoral não tão transparente. Acreditar que haverá mudanças nas filiações partidárias, nas convenções partidárias, e outras situações?
Há uma série de desafios. Como fazer uma convenção partidária se não pode ter aglomeração de pessoas? É uma realidade que não é possível hoje. Vai ter que colocar como uma possibilidade mais a frente do processo. São desafios que teremos que pensar, pois nunca passamos por um processo como esse. O que se tem falado a respeito é que não haverá prorrogação de prazos legais. O que será jogado mais à frente são as convenções, que homologam a candidatura, e, geralmente, ocorrem na véspera da eleição.
Elas poderiam ocorrer entre 20 de julho e 15 de agosto. O processo é demorado porque tem que lavrar em ata, levar ao cartório, e todo um processo jurídico a ser feito. Ela dura 25 dias antes de iniciar o processo eleitoral, ainda sem data para ocorrer, Mas o que deve ser mantido é o prazo de descompatibilização. É importante mantê-lo, pois existem espaços em que geram dividendos para o candidato, dependendo da função é um benefício. É uma situação que deverá ser despactuada no Brasil.
Você acredita que ainda teremos candidatos se valendo da posição em que estão mesmo com a manutenção das datas oficiais do TRE? Existem candidaturas que se “esfarelaram”?
Tenho cunhado uma expressão. Eu tenho chamado a eleição 2020 de “Campanha Eleitoral Low Touch”, que é uma expressão que diversas consultorias internacionais tem usado para definir esse novo momento de comportamento do consumidor. Ela gera uma série de novas características aceleradas pelo processo de pandemia em curto espaço de tempo. E isso traz uma economia, que chamamos de baixo contato. Ou seja, em 2020 teremos a eleição mais singular da Nova República.
É um “chavão” porque costumamos dizer que toda eleição é uma nova batalha, ela é única. Essa será a mais única de todas devido ao contexto. Isso vai influenciar tanto nas perspectivas das candidaturas que se colocam quanto nas estratégias que elas precisam traçar para ir às suas disputas. Se estamos falando de uma candidatura de baixo contato, isso significa que o candidato que a vereador será o primeiro a sofrer, pois, em geral, são campanhas que precisam e se constroem a partir do contato.
Ele é a liderança do bairro, do povo, da associação de moradores. Eles terão o desafio de reestruturar suas campanhas diante da pandemia. Os candidatos majoritários por terem maior estrutura financeira maior, permitem a eles fazer um processo de digitalização das suas campanhas. Essa será a experimentação deste ano. O problema é que essa digitalização não será de entendimento da classe política de que o digital traz uma potencialidade gigante. Então, nessa realidade teremos um novo perfil.
Aqui, na República Marketing Político, nós tínhamos um planejamento, mas como veio a pandemia, tivemos que adaptar as estratégias porque é uma nova eleição. Todos esperavam um perfil de eleição a partir de 2018, com a eleição do Bolsonaro. Mas a pandemia trouxe um grau de processos que não sabemos o que vai acontecer e será um processo desafiador que teremos que lidar com ela e uma característica que os candidatos terão que ter é de se adaptar e sabemos que nem todos têm isso.
Qual percentual será de candidatos perderemos neste ano concorrendo ao Executivo municipal por conta da pandemia?
Existe uma nova regra que vale que não se pode mais fazer coligações partidárias. Agora, os partidos não podem mais coligações de candidatos proporcionais. Agora, o partido vai sozinho à disputa. Com essa regra, todos os especialistas diziam que poderiamos bater a marca de 1 milhão de candidaturas no Brasil. Na eleição de 2016, por exemplo, tivemos cerca de 560 mil candidaturas.
Essa projeção vai cair, pois a pandemia fará com que uma série de projetos políticos fiquem desanimados. Por outro lado, muitos vão buscar alguma forma de se posicionar no mercado. Muitos dos candidatos a vereador, sabemos que são financiados pelas chapas majoritárias, que fazem um esforço para que eles permaneçam dentro do processo, pois eles são comparados a um “exército”.
São eles quem vão às ruas, tem contato com o povo. Teremos a tendência de uma baixa, mas é difícil precisar em números. O que eu tenho percebido em todos os espaços que estamos trabalhando é que os partidos estão meio perdidos porque estavam planejando sair para conversar, fazer contatos e reuniões e agora não podem mais. Aqui na agência aumentou o número de treinamentos virtuais, por exemplo, ensinando ferramentas básicas para quem não entende o ambiente digital possa se sair bem. Devido a pandemia, o processo digital se acelera.
Na Grande Vitória, apenas um candidato concorrerá a reeleição. Acredita que esse cenário será redesenhado por conta da pandemia?
Primeiro os canais digitais dos prefeitos nunca tiveram tanta audiência. Isso foi um fato que a pandemia trouxe porque todos começaram a voltar a atenção para quem está em mandato. No final das contas, a eleição 2020 vai marcar um referendo sob a atuação dos prefeitos. O prefeito conduziu, liderou o processo ou não? Essa é uma perspectiva importantíssima, de percepção da população no papel de liderança do prefeito naquela pandemia.
Se você analisar as pesquisas antes da pandemia, todos os grandes presidentes do mundo cresceram. Alguns exemplos disso são: Angela Merkel (Alemanha), Justin Trudeau (Canadá), Emmanuel Macron (França). Só Jair Bolsonaro que não cresceu? Não porque ele discordou do isolamento social, mas sim porque ele não liderou o processo. A população espera alguém que bata no peito e diga: “deixe comigo que eu vou resolver”. E resolver não é curar, pois ninguém encontrou a cura, mas dar diretrizes e estratégias para controle da doença no país. Já os governadores, muitos deles conseguiram melhora em sua aprovação.
Só que aí tem um “cavalo de Tróia”. Em um primeiro momento, a população aplaude, mas em curto prazo vem uma crise econômica. Nos Estados Unidos, por exemplo, em 50 dias cerca de 26 milhões de pessoas pediram o seguro-desemprego. Já 22 milhões significa a quantidade de empregos que foram criados depois da crise de 2008. Significa que nesse período o país norte-americano voltou ao índice de empregabilidade da última crise. Isso é só para exemplificar o tamanho do problema em que estamos.
E no Brasil não será diferente. O que estamos avaliando é que: se a crise econômica é em curto prazo, o que esperamos que seja, isso vai atingir, principalmente, classe D e E. A grande questão é que o humor do eleitor vai mudar. E os que foram bem aprovados tem a tendência de perder essa aprovação. Tudo isso respingará em quem está em mandato. Há um potencial de políticos que estão em mandato tenham queda vertiginosa. Para o eleitor médio, o político precisa estar fazendo algo. Se o político fez algo, ele tende a ganhar, ,mas se não, as urnas estão chegando aí para cobrar de todos os que não tenham liderado o processo.
Por conta do cenário político nacional, em que o presidente Jair Bolsonaro antagoniza com os presidentes de outras Casas, discute com ministros e colide com a impressa e o Executivo, é possível que tudo isso gere um cenário eleitoral diferente e reflita nas eleições municipais?
Primeiro ponto, a eleição municipal é discussão municipal. O peso da ideologia nas eleições municipais é menor. Nacionalizar a discussão não é um bom elemento, pois o eleitor quer saber o problema dele, como o posto de saúde que não funciona, a rua que não está asfaltada, entre outras coisas. Segundo ponto, a perspectiva nacional impacta na dimensão na qual o humor do eleitor está colocado.
Mas o peso é sempre menor do que na eleição nacional. Por exemplo, um discurso para não votar em um candidato porque ele é do Partido dos Trabalhadores (PT) pode ter peso em algum território, mas, na média do eleitorado brasileiro, ele está mais preocupado com os problemas que o cercam. Pensando em uma crise a curto prazo, o eleitor vai esperar que o candidato traga uma solução.
Há uma tendência do eleitor esperar um discurso de “resolvedor”, uma vez que temos uma crise econômica instalada e como sairemos dela? Isso abre possibilidades. Se isso se confirma, candidatos que tem um pouco mais de experiência ganham um destaque maior; já os que têm mais capilaridade conexão com empresas podem ter presença melhor. O cenário está muito incerto e em cada cidade é necessário compreender o comportamento daquele eleitor e o sentimento dele.
Pensando em um cenário de eleições em 2020, acredita que teremos uma queda nas urnas, com redução de eleitores? De quanto será essa redução?Esse é um grande desafio, pois no Brasil o voto é obrigatório. Conversando com colegas de outros países, quando, normalmente, o voto é facultativo são realizadas duas campanhas. Primeiro, uma para incentivar a votação. Segundo, para eleger tal candidato. É um processo interessante. Temos percebido taxas de votos brancos, nulos e abstenções aumentando a cada eleição.
Com a mudança de prazos, com a possibilidade do segundo turno se estender para dezembro, a probabilidade é que continuamos com a taxa alta de abstenção. Há um potencial em cidades que tem uma grande quantidade de candidatos, e que, geralmente, não tem segundo turno, de que brancos, nulos e abstenções sejam as grandes vencedoras das eleições 2020.
Como fazer Marketing Político em tempo de pandemia, com paradigmas de comunicação, com a forte presença das mídias sociais? E como convencer o eleitor a votar neste contexto?
Primeiro o candidato precisa se conectar e decidir para quem ele deseja falar, pois não dá para falar para todos. Segundo, o ambiente digital é necessário produzir conteúdo. Ele é fundamental. Um dos maiores erros dos pré-candidatos é produzir conteúdos focados no que ele gosta. conteúdo certo é focado no que o eleitor gosta e deseja. Atenção no eleitor que ele quer conquistar.
Também é importante tentar entender as mudanças de humor do eleitor e como ele estará colocado neste tempo. Para onde ele está indo e compreender essas tendências será um passo importante no desenvolvimento de sua estratégia. Terceiro , a narrativa é mais importante que o canal. Bolsonaro não venceu porque ele tinha o Facebook com milhões de seguidores. Ele venceu porque ele tinha mensagem que se conectava com o eleitor. Por exemplo, dois temas faziam parte da eleição 2018 com muita força: segurança pública e combate à corrupção.
O PT tem dificuldade nesse último tema por motivos óbvios e buscou um discurso de vitimização, como a Lava-Jato que perseguia só o partido. O atual presidente tinha o “Etos Bolsonarista”, falando sobre a operação, que foi muito importante até o rompimento com o ex-ministro Sérgio Moro. E por ser militar, ter um discurso na área de segurança, conseguiu pegar o tema para si.
Ele tinha três a quatro frases de efeito e um projeto que atendia aos eleitores naquele momento e com esses discursos e coragem, a população comprou a ideia. Não foi a facada que ele levou que o elegeu, mas contribuiu ´-para embasar o discurso e ganhar pontuação. Compreendendo o eleitor, usando o conteúdo e a narrativa corretas, o candidato terá sucesso na mensagem que será direcionada ao público-alvo dele.