Petrobras anunciou mais 26 descomissionamentos e gás natural é a aposta para substituir combustíveis derivados do petróleo e o carvão mineral, principalmente na indústria
Por Rafael Goulart
O setor de petróleo e gás deve continuar como um dos principais motores da atividade portuária e da economia capixaba. Com 25% de participação no PIB da Indústria do Espírito Santo, a área deve receber cerca de R$ 8.8 bilhões em investimentos nos próximos anos, de acordo com estimativa da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
Parece contraditório esperar um avanço na atividade do setor de petróleo e gás no momento em que as maiores economias e empresas do mundo caminham para uma mudança de matriz energética, que hoje é principalmente de combustíveis fosseis. Porém, é justamente devido a esse período de mudanças que o setor tem recebido novas demandas.
O descomissionamento de plataformas de petróleo e a produção de gás natural – que pode ser o protagonista do período de transição energética, já que é menos poluente – são duas atividades que, na esteira da mudança global por um modelo de sociedade mais sustentável do ponto de vista ambiental, devem seguir em alta nos próximos cinco anos.
Movimentando o offshore brasileiro desde a sua regulamentação em 2015, o descomissionamento consiste na interrupção gradual de produção e no desmonte das plataformas de petróleo. Para isso exige serviços nos portos e de embarcações, seja para o próprio desmonte, que envolve serviço qualificado, seja para o transporte e destinação do material retirado.
“O desmonte da estrutura de plataformas no mar gera impacto ambiental. Então, todo o processo precisa ser previamente mapeado e aprovado pelos órgãos reguladores antes que aconteça. Isso por que o descomissionamento é realmente retirar as estruturas montadas no mar, que podem inclusive podem ter valor em outras indústrias de outras atividades”, explicou a gerente de Ambientes de Negócios do Observatório da Indústria da Findes, Gabriela Vichi.
Em fevereiro deste ano, a Petrobrás anunciou que está previsto o descomissionamento de 26 plataformas flutuantes no Brasil, com um investimento de US$ 9,8 bilhões até 2027 – aproximadamente R$ 50,47 bilhões na cotação mais atual. A empresa destacou que o serviço deverá ser realizado “com foco na sustentabilidade, segurança e cuidado com pessoas e meio ambiente” para que o projeto seja uma referência global.
A primeira plataforma a ser descomissionada no novo modelo político da empresa é a P-32, que está localizada no campo de Marlim, na Bacia de Campos. No Espírito Santo, está previsto o descomissionamento do navio-plataforma FPSO Capixaba, que atua no litoral de Anchieta, nos campos de Cachalote, Jubarte e Baleia Franca. A previsão do Anuário da Findes de 2021, é que a área receba cerca de R$ 2.4 bilhões de investimento até 2026.
A transição energética também terá grande impacto na atividade portuária capixaba, pois o gás natural é a grande aposta para substituir o petróleo enquanto as fontes renováveis não são suficientes para suprir a atual demanda por energia.
“Nesse período (de transição) estamos apostando muito no gás que apesar de ser um combustível fóssil é menos poluente que o petróleo”, disse Vichi.
E para suprir a demanda pelo gás natural, à medida que ele substitui o petróleo e o carvão mineral como fonte de energia na indústria, será preciso a continuidade da exploração no pré-sal, visto que são nesses campos marinhos em que estão as maiores reservas de gás e que, principalmente, os campos onshore são insuficientes para atual demanda.
Vichi lembra que para atingir a produção necessária de gás, será preciso destravar a indústria de gás:
“É preciso ações de regulamentação para melhorar a infraestrutura do gás para que seja interessante comercialmente. São diversas ações que já avançaram no petróleo e agora precisa avançar no gás”, complementou a representante do Findes.
Outro fator que deve manter as atividades do setor de petróleo e gás nos portos capixabas é a diversificação de investidores devido às mudanças regulatórias iniciadas em 2015 que acabaram com o monopólio obrigatório da Petrobras na exploração do petróleo e possibilitam o ingresso de novas empresas, que por sua vez tendem a diversificar os investimentos e agregar mais valor ao setor no Espírito Santo.