Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os protestos ficaram aquém do previsto pelos organizadores, muito em função das divisões internas no movimento
Por André Pereira César
Passadas as manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ocorridas em 2 de outubro, as oposições têm muitos desafios à frente. O principal deles é a busca da unidade entre os diversos grupos contrários ao titular do Planalto – como conciliar projetos tão distintos?
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os protestos ficaram aquém do previsto pelos organizadores, muito em função das divisões internas no movimento. Cientes dessa realidade, dois atores-chave, o ex-presidente Lula (PT) e o governador paulista João Dória (PSDB), não compareceram ao evento. Precaução que se mostrou correta dado o esvaziamento dos atos.
Mesmo entre as legendas de esquerda e centro-esquerda – PT, PSOL, PDT, PCdoB, PSB, PV, Rede, Cidadania – as diferenças ideológicas e programáticas são grandes. Quando se inclui PSDB, DEM, PSL e outros, a situação torna-se ainda mais complicada. Unidade é quase uma utopia nesse contexto.
A síntese desse quadro foi o ataque de militantes de esquerda ao neopedetista Ciro Gomes, nas imediações da Avenida Paulista, em São Paulo. Para além do ato abjeto e lamentável, inaceitável em um regime democrático, é evidente que qualquer conversa entre as partes carece de uma base mínima.
Somente Bolsonaro tem a comemorar com tudo isso. Por mais disfuncional que seu governo seja, por mais barbaridades que cometa em diferentes áreas – saúde, educação, economia, meio-ambiente e política externa, citando apenas as mais óbvias -, ele segue passando ao largo dos ataques das oposições. Pior, o Planalto reforça os laços com seus seguidores ao comparar as fotos dos eventos de 7 de setembro (pró-governo) com os de 12 de setembro e 2 de outubro. “O povo está ao nosso lado” é o mantra bolsonarista.
Como mudar essa situação? Soluções mágicas não existem, mas o estabelecimento de uma pauta mínima seria um bom começo. Indo além, os partidos e demais grupos envolvidos no processo deveriam criar comitês específicos para as negociações. Poucas cabeças pensantes e dispostas a encontrar saídas para as oposições, hoje perdidas em seus próprios labirintos.
A próxima manifestação ocorrerá em 15 de novembro. Até lá, muita conversa deverá se dar entre as partes. Só existe um grande perdedor com a divisão entre as oposições – o Brasil, que fica mais e mais isolado no mundo.
André Pereira César é Cientista Político e sócio da Hold Assessoria Legislativa.