“As indústrias passaram a pagar mais por menos produção, e o resultado é choque de custos para a indústria brasileira”, diz Guilherme Mercês
Entre 2010 e 2014, o custo unitário do trabalho na indústria de transformação do Brasil subiu 11,6%, maior nível da série histórica, que teve início em 2004. Foi o que constatou o estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) divulgado no dia 8 de dezembro. Esse resultado é fruto da combinação entre a elevação do custo real da hora trabalhada (alta de 11,9%) e a estagnação da produtividade (expansão de apenas 0,2%). Dos 15 setores avaliados, 13 mostraram aumento nos custos, com destaque para o setor têxtil, com alta de 28,2% nos últimos quatro anos, e o setor de meios de transporte, cuja expansão foi de 27,7%.
Os números contrastam com o recuo de 1,4%, que foi observado entre 2004 e 2007, período anterior à crise mundial. “Antes da crise, a produtividade do trabalho crescia mais do que os salários, e nos anos pós-crise, com a produção industrial em baixa, ocorreu o contrário. O processo foi invertido, e os custos do trabalho, basicamente os dispêndios com salários, passaram a crescer muito acima da produtividade. Ou seja, as indústrias brasileiras passaram a pagar mais por trabalhadores que produzem menos em uma hora de trabalho e, obviamente, o resultado prático disso é um choque de custos para a indústria brasileira”, destaca o gerente de Economia e Estatística do Sistema Firjan, Guilherme Mercês.
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Reformas
No estudo, a Firjan ressalta que é necessário reformas estruturais para que a indústria de transformação recobre sua competitividade e retome uma trajetória de crescimento saudável e sustentável. Entre as medidas nessa direção que o texto cita, estão o m da multa adicional de 10% do FGTS para demissões sem justa causa e a aprovação de um marco legal seguro para regulamentar a terceirização no país.
Na avaliação do diretor da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) para Assuntos Tributários, Leonardo Souza Rogério de Castro, a escassez de mão de obra qualificada é outro fator que eleva os custos do trabalho. “A concorrência das empresas por profissionais capacitados faz com que seja preciso pagar mais por esse pessoal. Além disso, nos últimos anos, os salários foram reajustados com valores sempre acima da inação, o que parece interessante num primeiro momento, mas com o tempo torna o negócio menos competitivo e, consequentemente, gera menos emprego”, armou.
Castro garante que é preciso remunerar melhor o trabalhador, mas que isso deve acontecer em consonância com os ganhos de produtividade e o incremento da qualificação, o que não tem acontecido. “A indústria nacional é muito competitiva da porta para dentro. Anualmente, o setor vem reduzindo sua participação no PIB brasileiro, mas é o que melhor remunera e também é a origem da inovação, ou seja, uma formadora de desenvolvimento de longo prazo. Por isso, a formação profissional e a reforma da legislação trabalhista são temas prioritários na agenda da indústria em sua busca pelo aumento da competitividade”, finaliza.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição 113 da Revista ESBrasil, de dezembro de 2014. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.