Integrantes do partido no Senado alegam dificuldade de sustentação do governo Dilma.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta quarta-feira (09/03), de um café da manhã na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL), junto com outros 20 senadores, mas apenas sete peemedebistas. Por isso, apesar do grande número de parlamentares, em plena quarta-feira, dia de muita atividade no Congresso Nacional, os 10 senadores do PMDB que não aceitaram o convite para conversar com Lula sobre as conjunturas política e econômica, roubaram a cena.
Isso porque essas ausências fortalecem a tese de que na avaliação de boa parte dos parlamentares da legenda não há mais condição de se manter no apoio ao governo de Dilma Rousseff, como declarou o senador Ricardo Ferraço (PSDB/ES), que deixou o partido em janeiro deste ano. E foi exatamente o PMDB do Senado que evitou desgaste ainda pior do governo nos últimos meses, diminuindo derrotas impostas na Câmara dois Deputados, sob o comando de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Fato é que o PMDB é o partido de maior bancada na Câmara e no Senado, por isso, seu apoio é fundamental às mínimas condições de governabilidade da presidente Dilma Rousseff.
Entre as ausências, as que mais se destacaram foram as dos senadores Sandra Braga (AM) e Jader Barbalho (PA), pois ambos possuem, respectivamente, um marido e um filho em cargo de ministro, a do primeiro vice-presidente da legenda, Valdir Raupp (RO), e a do o ex-presidente José Sarney, bastante influente tanto no partido quanto no Senado. E Lula não conseguiu falar, nem por telefone, com o vice-presidente da República, Michel Temer, que deverá ser reeleito presidente nacional do PMDB, neste sábado (12).
O café da manhã durou quase três horas e Lula, que habitualmente se mostra com muito bom humor e costuma soltar piadas sobre as circunstâncias políticas, se mostrou tenso e impaciente. Cinco dias após ter sido levado para depor na Operação Lava Jato, o ex-presidente reiterou que não é proprietário do apartamento no Guarujá e do sítio em Atibaia, ambos brindados com obras de elevado valor feitas por empreiteiras envolvidas em corrupção na Petrobras.
O ex-presidente descartou categoricamente a proposta do senador Roberto Requião (PMDB-PR) de ocupar o cargo de ministro das Relações Exteriores, como manobra de escape da força-tarefa chefiada pelo juiz federal Sérgio Moro. Segundo informações de quem esteve no encontro, por diversas vezes Lula teria se mostrado impaciente com Dilma, afirmando que ela não lhe ouve. A volta do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para o governo, para o lugar do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi uma das sugestões apresentadas pelo grupo no encontro.
Uma das críticas feitas a Dilma Rousseff durante o café da manhã, que recebeu apoio dos demais parlamentares, partiu da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento, que se mostrou inconformada com o erro cometido na escolha do ministro da Justiça, desconhecendo a impossibilidade de nomear membro do Ministério Público para cargo no Executivo, conforme o Supremo reafirmou nesta quarta-feira.
Apesar das preocupações políticas, a economia foi o tema predominante durante o café da manhã. Parlamentares se manifestarem contra o desempenho de Nelson Barbosa, que estaria, segundo eles, repetindo a fracassada estratégia do seu antecessor, Joaquim Levy. Segundo eles, o arrocho fiscal e monetário imposto no segundo mandato de Dilma aprofunda a recessão e o desemprego, agravando as dificuldades políticas. Segundo os senadores, inflação e desemprego em alta, junto com recessão e baixa credibilidade, ao lado das contantes revelações da Lava Jato, tem resultado em um cenário insustentável. “O senhor enfrentou o mensalão e depois foi reeleito. A crise moral não abalou seu governo porque a economia estava bem”, apontou Otto Alencar (PSD-BA) ao ex-presidente.
A utilização das reservas cambiais (hoje ao redor de US$ 370 bilhões) e do compulsório dos bancos para financiar empresas a juros módicos e fazer a economia se movimentar também foi defendida. Os recursos poderiam, por meio do fundo soberano, ser destinados à retomada de obras públicas, principalmente no setor de infraestrutura, e também à ampliação do crédito para investimentos privados.
Participaram da reunião: PT – Fátima Bezerra (RN), Gleisi Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE), Jorge Viana (AC), José Pimentel (CE), Lindbergh Farias (RJ), Paulo Paim (RS), Paulo Rocha (PA), e Regina Sousa (PI). PMDB – Edison Lobão (MA), Eunício Oliveira (CE), João Alberto (MA), Renan Calheiros (AL), Roberto Requião (PR), Romero Jucá (RR) e Rose de Freitas (ES). Também estiverem presentes: Benedito de Lira (PP-AL), Hélio José (PMB-DF), Otto Alencar (PSD-BA), Telmário Mota (PDT-RR) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). |