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quarta-feira, 24 abril, 2024

Cuidar de Gente

Eu tenho a sensação de que tem-se discutido muito sobre tantas coisas, mas está faltando falar de gente

Por André Gomyde

Joicy é o nome de minha secretária editorial na Revista ES Brasil. Sempre muito antenada com tudo o que está acontecendo no país e no mundo, me pediu que escrevesse sobre as “fake news”. O tema não sai da lista dos mais comentados. Eu resisti. Já escrevi antes sobre o assunto. Preferi falar sobre cuidar de gente. Fui desobediente. Ela, sempre muito gentil, concordou.

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Não sei se você, meu caro leitor, tem a mesma sensação que eu. Eu tenho a sensação de que tem-se discutido muito sobre tantas coisas, mas está faltando falar de gente. Gente que vive nas cidades. Gente que trabalha duro todos os dias. Gente que quer paz … e amor, por que não? Gente quer participar. Participar é ter participação. Participar não é ser participado. Quando a gente é participado, a decisão tomada não foi com a gente compartilhada. Quando a gente tem participação, a gente conhece antes o assunto, debate, propõe e ajuda na decisão. Eu tive a grande satisfação de testar isso algumas vezes, na prática.

A mais interessante delas me foi proporcionada pelo cientista político e médico Fernando Pignaton. Pignaton é um dos grandes formuladores e defensores da participação popular, da participação de gente, no Brasil. Pignaton conseguiu reunir as lideranças comunitárias da cidade de Vila Velha, no Espírito Santo, em assembléia na Câmara Municipal e me convidou para falar sobre as cidades humanas, inteligentes, criativas e sustentáveis. Foi uma das experiências mais ricas que tive nesta jornada. Aprendi a falar de maneira mais simples e direta, mas principalmente aprendi a ouvir. E como é rico ouvir o que nossa gente tem a dizer! O resultado veio logo depois. A Câmara Municipal, em conjunto com a prefeitura, aprovou um projeto de parceria público-privada de iluminação pública inteligente que está em implantação naquela cidade. A escrever este artigo, escuto o Secretário-geral da ONU António Guterres dizer: “… Estão usando os nossos dados, as nossas informações, para criar coisas muitas vezes terríveis … e isso não é ficção científica, mas fato científico.”

Ora, se a tecnologia hoje disponível permite às grandes organizações ter detalhes de nossos dados e informações, muitas vezes sabendo sobre nós mais do que nós mesmos sabemos, por que ainda não estamos utilizando esta tecnologia para ouvir as pessoas? A tecnologia tem servido mais para criar confusões, discórdias, nos dividir, gerar notícias falsas (olha as “Fake News” aí, Joicy!) do que para exaltar e aproveitar as maravilhas do conhecimento de nossa gente.

A terminar este artigo, recebo no meu whatsapp um vídeo da Orquestra Juvenil da Bahia, em apresentação em Paris, tocando “Tico-tico no fubá” do grande compositor brasileiro Zequinha de Abreu. Recomendo. É emocionante o que faz a orquestra de nossa gente. Apesar de tudo, o brasileiro é um povo espetacular e tem muito a mostrar e dizer aos nossos governantes e ao mundo. Cuidemos de nossa gente!

 André Gomyde é presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis; Mestre em administração pela FCU, nos Estados Unidos, e mestrando em arquitetura e urbanismo pela UnB. É autor e coautor de cinco livros.

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