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quinta-feira, 28 março, 2024

Crédito rural continua caindo no Espírito Santo

Cerca de R$ 1 bilhão deixou de ser aplicado no agronegócio capixaba, comparando-se 2014/15, com 2017/18

Junho é o mês que encerra o ciclo do ano-safra e, por consequência, finaliza o Plano Safra, denominação do aporte de recursos que o Governo Federal disponibiliza para financiar o agronegócio, sob certas condições e regras.  No Espírito Santo, esse importante indicador de dinamismo econômico setorial continua a causar preocupações, pois está em queda consecutiva nos três últimos anos-safra.   Para se ter uma ideia, cerca de R$ 1 bilhão deixou de ser aplicado no agronegócio capixaba, comparando-se 2014/15, com 2017/18.

No último ano safra (Julho/2017 a Junho/2018), foram injetados apenas R$ 1,68 bilhão nas operações capixabas de custeio, investimento e comercialização, ligadas à atividade agropecuária. O volume é semelhante ao ano-safra imediatamente anterior, que foi o mais baixo da década. Contudo, a queda anual é de 39% em apenas três anos, haja vista que em 2014/15 o montante de crédito alcançou a cifra de R$ 2,76 bilhões.

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Neste mesmo período, o crédito rural aplicado no país permaneceu praticamente estável, ficando em cifras um pouco superiores a 150 bilhões. Ou seja, a participação do Estado caiu em termos relativos com o Brasil. Esses dados são do Banco Central do Brasil, por meio do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro/Sicor (atualizados até 15.06.2018).

Considerando que o Espírito Santo vive um momento de recuperação das atividades agrícolas, fortemente afetadas por uma seca sem precedentes, em passado bem recente, a política de crédito é extremamente relevante para acelerar o restabelecimento da normalidade no campo. Registra-se que boa parte das nossas unidades produtivas tem renda média baixa, com pouca capacidade de poupança para investir em modernização tecnológica.

Conforme já abordado em artigos anteriores, essa retração do crédito pode influenciar na velocidade de ganhos de produtividade e, portanto, na competitividade do setor agropecuário do Espírito Santo. Isso se agrava porque grande parte dos agricultores não têm como compensar essa redução creditícia com investimentos decorrentes de recursos próprios.

O número de operações de crédito por ano, indicador que demonstra a abrangência desse instrumento de política agrícola, caiu drasticamente nas terras capixabas. Menos de 28 mil contratações no ano-safra que se encerrou, ante a 60,6 mil operações realizadas em 2014/15.

“O Banco Central precisa adotar medidas urgentes na política de crédito rural, tanto para contratações já realizadas nos tempos de crise hídrica, quanto para futuras, considerando o revés causado pela estiagem prolongada na nossa agropecuária”

Destaca-se a intensa movimentação realizada nos últimos anos para reverter esse quadro.  Representações dos produtores rurais, Governo do Estado e parlamentares capixabas em muitos momentos promoveram debates junto ao Governo Federal, com discurso e conteúdo afinados e qualificados. Mas a União ainda não se sensibilizou. Mesmo diante desses números tão contundentes, os avanços foram poucos.

O Banco Central precisa adotar medidas urgentes na política de crédito rural, tanto para contratações já realizadas nos tempos de crise hídrica, quanto para futuras, considerando o revés causado pela estiagem prolongada na nossa agropecuária. Taxas e prazos devem compatíveis com a capacidade de pagamento nas renegociações, sob pena de se ampliar ainda mais a inadimplência e cada vez mais diminuir a abrangência e o volume do crédito aplicado, fatos já verificados e comprovados por dados oficiais do próprio Governo Federal.


Enio Bergoli – Diretor Geral do DER-ES – Engenheiro Agrônomo e Ex-Secretário de Estado da Agricultura


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