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terça-feira, 23 abril, 2024

Conserto de miniaturas é trabalho para gente grande

Beto Cridê utiliza as rodas existentes para fazer moldes de silicone e a partir disso produzir as peças em resina

Por Vagner Aquino (AE)

Imagine que você guarda aquela miniatura de estimação desde a infância e seu filho pequeno acabou quebrando o carrinho. Pois saiba que a situação (e a peça de coleção) tem conserto. Como os carros de tamanho natural, miniaturas são passíveis de restauração, reforma e customização. Essa é a especialidade de profissionais como Roberto Giglio De Stefano, publicitário que vive das miniaturas. Ele estima que desde 2005, quando iniciou, já trabalhou em cerca de 4 mil carrinhos.

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“Tudo é feito à mão, com lixa, massa, resina, plástico e qualquer material que seja necessário”, conta ele, que é conhecido como Beto Cridê. O apelido surgiu como homenagem a seu pai, Renato De Stefano, que foi cenógrafo do extinto programa da TV Record “Família Trapo”, no qual o ator Ronald Golias utilizava o bordão: “Ô Cridê! Fala pra mãe…”. O programa se foi, mas a alcunha acabou ficando.

Ele garante que a recuperação só não é possível em caso de extrema gravidade. “Se o cliente perdeu uma roda, eu consigo fazer outra”, diz. Nesse caso, Beto Cridê utiliza as rodas existentes para fazer moldes de silicone e a partir disso produzir as peças em resina.

Mesmo que não haja referência, Cridê garante que é possível fazer a reforma. O trabalho, porém, fica mais complexo, porque nestes casos é necessário buscar algo parecido no mercado.

O profissional gosta tanto do que faz que chega a conversar com os carrinhos durante a restauração. Quanto aos custos, ele diz que a pintura em uma miniatura na escala 1/43 sai por R$ 200, mas pode chegar a até R$ 1.500 dependendo da escala.

Outro restaurador, o mineiro Marcio Mendonça Pereira, de Belo Horizonte (MG), se especializou em miniaturas na escala 1/64. “Comecei a garimpar miniaturas nacionais e de marcas inglesas das décadas de 1970 a 1990. Mesmo com riqueza de detalhes, como portas que se abriam, rodas que esterçavam e várias partes móveis, a pintura sempre deixava a desejar. Foi aí que resolvi adaptar minha oficina para as restaurações.”

De acordo com ele, quando a pintura está desgastada, é preciso tirar toda a tinta, utilizando removedor automotivo, e preparar a superfície. “Neste caso, utilizo esponja abrasiva no lugar da lixa para evitar danos. Na sequência, vêm a aplicação do primer, pintura e verniz.”

Como nos carros de verdade, todas as etapas são intercaladas por um tempo de secagem que varia de 12 a 36 horas. “Embora utilize uma cabine de pintura e secagem adaptada, o clima também interfere”, garante. Na parte de funilaria, os profissionais utilizam os mesmos produtos empregados em carros.

Em muitos casos, é preciso adquirir uma miniatura que servirá para a retirada de peças. Quando não há similar disponível, é necessário fabricar itens como para-choques, retrovisores e até colunas. Fotos ajudam no detalhamento. O trabalho pode levar até 60 dias.

Márcio Milanez, de Jaboticabal (SP), também faz restaurações, mas garante que trabalha apenas em modelos de sua coleção, ou “raramente” para algum amigo. Ele começou há 20 anos, e mexe apenas com miniaturas na escala 1/64. Seu primeiro trabalho foi um caminhão Mercedes-Benz Roly Toys. Milanez diz que o único dano que impede a recuperação é quando o chassi está quebrado.

CUSTOMIZAÇÃO

Além das reformas, Cridê também faz customização. Ele conta que um dos trabalhos mais curiosos que fez foi para uma transportadora. Trata-se de um caminhão Chevrolet 59, oferecido como premiação aos melhores vendedores da empresa.

Ele garante que é o único customizador do Brasil autorizado pela VW para reproduzir miniaturas da marca. “Como 98% dos meus clientes são proprietários de veículos antigos, acabei me especializando em Volkswagen, afinal, todo mundo tem uma história com um Fusca ou uma Kombi”, conta ele, que fez a edição limitada da Kombi 50 anos. Foram 50 peças numeradas, todas destinadas aos compradores do modelo.

Ele, aliás, possui uma Kombi 1963 utilizada como loja, além de um Fusca 1969. Há também mercado para a construção de réplicas de modelos reais. Cridê tem uma versão pequenina de seu Fusca. “É como se você colocasse o seu querido antigo na sala de casa ”

Cridê relembra que quando começou as customizações não imaginou que este seria um negócio. “Meus amigos começaram a ver meu trabalho e passaram a encomendar e fazer propaganda. Neste ano não consigo mais pegar nenhum trabalho.”

Ele conta que é comum as pessoas se emocionarem quando recebem as miniaturas. “Com a miniatura, eu acabo trazendo de volta aquela história que, talvez, estava adormecida. É um ofício trabalhoso, mas muito gratificante, pois você acaba participando desses momentos e até virando amigo de alguns clientes”, conta.

‘HORÁCIO’

Um deles é Ervin Moretti, que tem mais de mil miniaturas. “Quando tomei ciência do nível de detalhes do trabalho do Beto, tratei de encomendar uma cópia do meu Horácio”, conta, referindo-se ao Fusca 1974 verde, que batizou com o nome do personagem da Turma da Mônica. A frota de Moretti também conta com a Kombi Mônica (também em homenagem à personagem de história em quadrinhos). No tom vermelho, o modelo 1973 ganhou sua versão na escala 1/18.

Assim como Cridê – que diz que tem seu trabalho espalhado por dez países -, outros customizadores também fazem sucesso no exterior. É o caso de Ulisses Biondi, dono da Diecast Workshop Customs, de Jundiaí (SP). “Uma cliente de Portugal encomendou a miniatura customizada do VW Passat Variant. Como é inexistente no mercado, precisei importar justamente de Portugal e, após customizar, exportei para lá novamente.”

Biondi também diz que há casos em que é preciso começar uma miniatura do zero. “A cliente pediu um Troller T4 customizado. Na impossibilidade de encontrar a base, precisei fabricar o carrinho. Fiz molde, chassi, lataria, faróis, adesivos, etc.”. Todas as pecinhas foram feitas em parceria com um amigo que trabalha com impressora 3D.

“Pegamos o projeto da própria Ford (na internet) e dividimos para chegar na escala 1/43. O modelo foi redesenhado e transferido ao arquivo para ser impresso”, explica. Esse processo envolveu carcaça, assoalho, painel, pneus, rodas e interior.

Para-choques, lanternas e faróis também foram feitos “na unha”, diz Biondi, que usou acrílico, metal e outros materiais para conferir o máximo de fidelidade ao modelo original. Ele diz que valeu a pena: “É um hobby que virou job”.

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