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sexta-feira, 29 março, 2024

Endereço da Historia: Ruas Carlos Martins e Fortunato Abreu Gagno

O simbolismo de um bairro criado a partir de um sonho e um sonho interrompido pela fatalidade de um acidente.

O exemplo europeu de implantar núcleos habitacionais autossustentáveis na periferia das grandes cidades, com a finalidade de evitar indesejada superpopulação, não prosperou no Brasil, nem mesmo em metrópoles planejadas, como Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO) e Brasília (DF). Em pouco tempo, o fluxo de migrantes de estados mais empobrecidos superou expectativas, e favelas substituíram as sonhadas cidades periféricas e independentes as quais o poder público pretendia criar.

Vitória, a nossa capital, plantada numa pequena ilha onde pontilhavam no seu entorno pequenas propriedades rurais, foi até certo ponto uma exceção graças, sobretudo, ao desprendimento e à visão do futuro de muitos dos seus filhos.

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Um exemplo ocorreu numa área litorânea, despovoada e distante do centro urbano da cidade. Capixaba nascido em Castelo, José Maria Vivacqua, conhecido na intimidade como Zé Gaturana, solicitou e obteve aprovação para proceder ao loteamento de terras quase devolutas que iriam se transformar em um dos mais aprazíveis e luxuosos bairros do município.

A aprovação do loteamento, por parte do poder público, ocorreu em 1928, mas as primeiras 100 casas residenciais somente foram construídas em 1967, quase 40 anos depois. Obras de infraestrutura foram sendo implantadas com o tempo, possibilitando uma demarrage que faria de Jardim Camburi um bairro moderno, com ruas e avenidas aprazíveis e edifícios residenciais que fazem evocar a Avenida Vieira Souto, no Leblon, Rio de Janeiro. Um núcleo independente, com vida própria, comércio atuante, bares e restaurantes com os pratos típicos capixabas, mas que não desdenham as preferências culinárias de outros estados e atraem capixabas e turistas do Brasil e do exterior.

A criação do bairro a partir de uma área até então desprovida de recursos urbanos talvez não tenha tido inspiração europeia, mas foi uma conquista que honraria urbanistas de todo o mundo.

Quando a Câmara Municipal de Vitória pretendeu homenagear postumamente dois de seus filhos, membros de tradicionais famílias capixabas, buscando dar dimensão especial à iniciativa, nominou duas importantes ruas de Jardim Camburi  como “Carlos Martins” e “Fortunato Abreu Gagno”.

Carlos Martins nasceu em Vitória, no dia 20 de julho de 1954, filho de Aristides Ferreira Martins, coronel da Reserva da Polícia Militar do Espírito  Santo, e da senhora Zahira Gagno Martins. Muito jovem, estava matriculado no terceiro ano científico no Colégio Estadual e em um curso preparatório para o vestibular na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Endereço da Historia: Ruas Carlos Martins e Fortunato Abreu Gagno
Rua João Carlos Martins

Fortunato Abreu Gagno, primo de Carlos Martins, nascido em Vitória, era filho do também oficial da Polícia Militar Fortunato Ramos Gagno, e da senhora Maria Helena Abreu Gagno, residentes em Maruípe.

O imponderável reuniu os dois jovens capixabas num trágico e fatal acidente automobilístico ocorrido na confluência da Avenida Dante Michelini com a Avenida Adalberto Simão Nader, em 18 de outubro de 1972.

Ao morrer, Carlos Martins tinha 18 anos de vida e Fortunato Abreu Gagno, apenas 8. A homenagem aos dois jovens no acidente tem forte simbolismo. Certamente foi assim que o então vereador doutor José Maria Ramos Gagno entendeu a ligação do sonho antigo que criou o moderno bairro de Jardim Camburi com o sonho desfeito de dois jovens para os quais se abria a perspectiva de um futuro destinado a novas conquistas.


Copidesque: Rubens Pontes

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