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sexta-feira, 29 março, 2024

Dia Mundial de Combate ao Câncer: saiba mais sobre o câncer bucal

O câncer de boca tem como causa principal o uso do tabaco, como o cigarro, e é potencializado com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas

Por Wesley Ribeiro 

A boca é a porta de entrada do aparelho digestivo e está diretamente conectada a todo o sistema imunológico. Daí a importância de manter os cuidados e as visitas periódicas ao dentista para identificar qualquer situação que fuja da normalidade.

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Segundo o periodontista e mestre em implantes, Thiago Degli Esposti, quando manchas, erupções, feridas que não cicatrizam e sangramentos nas gengivas aparecem com frequência já é um alerta de que algo não vai bem.

E como no dia 4 de fevereiro comemora-se o Dia Mundial de Combate ao Câncer, segue uma entrevista exclusiva com o Doutor Esposti sobre o câncer bucal. Vale a pena conferir!

O que é câncer bucal?

O câncer bucal é um tipo de tumor maligno formado por células com rápida capacidade de reprodução, destruindo a região e podendo, ainda, se espalhar pelos linfonodos do pescoço. Ele se manifesta nos lábios, na língua, nas bochechas, nas gengivas e no céu da boca (palato). O câncer labial, por exemplo, é mais comum em pessoas brancas do sexo masculino e acima dos 40 anos e, normalmente, se manifesta na parte inferior.

Por que a afta que não cura em mais de 15 dias pode ser sinal de câncer?

Algumas situações, como a presença de aftas, manchas vermelhas que evoluem para uma ferida arredondada recoberta por uma membrana esbranquiçada e que podem aparecer em qualquer idade, pode ser sinal de enfraquecimento do sistema imunológico, alergia, alteração nos hormônios ou estresse. Quando essas fissuras e lesões demoram para cicatrizar, principalmente quando vêm acompanhadas de dor, podem ser sintomas de câncer bucal.

Existem fatores externos que causam o câncer de boca?

Alguns hábitos podem ser prejudiciais para a saúde bucal. O câncer de boca tem como causa principal o uso de produtos derivados do tabaco, como o cigarro, e é potencializado com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Dados revelam que as bebidas destiladas combinadas com o tabagismo podem elevar em até quatro vezes o risco de câncer de boca. A má higienização constante da boca também cria um ambiente favorável para o surgimento da doença. Há, ainda, os fatores genéticos que podem desencadear o problema. As irritações da cavidade oral que podem ser originadas pela fricção das dentaduras, pelas restaurações, pelas pontes e coroas que não estão bem ajustadas são fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença. Há estudos que comprovam que o vírus do HPV – doença transmissível na relação sexual – se enquadra como causa para o surgimento do câncer de boca. Sem contar, é claro, com a exposição à radiação ultravioleta ao longo da vida.

Há fatores internos?

Sim, existe um conjunto de variantes genéticas relacionadas com a suscetibilidade para o desenvolvimento de câncer na cavidade oral. Se na família já foi identificado algum caso, é preciso que a pessoa redobre os cuidados com a higiene bucal e com as visitas ao dentista para fazer um acompanhamento de rotina, identificando qualquer anormalidade.

Como é feito o diagnóstico e o tratamento?

Geralmente, o tumor apresenta-se como uma área endurecida, com uma ferida no centro, que sangra constantemente, sem melhoras. O diagnóstico é feito por meio da avaliação clínica dos sinais das lesões na cavidade bucal e dos sintomas descritos pelos pacientes. O cenário é de dor forte prejudicando, inclusive, a fala e a alimentação. Além disso, há sintomas como o aumento dos linfonodos do pescoço, dores de ouvido e na garganta e até mesmo um quadro de dentes amolecidos. Nas bochechas surgem caroços e um inchaço possíveis de perceber ao passar a língua pela região. Há, ainda, perda de sensibilidade ou sensação de dormência em qualquer local da boca, impedindo a adaptação correta da dentadura, para quem faz uso da mesma, e até alteração no tom de voz. Após uma avaliação desses sinais e sintomas, é possível fazer um diagnóstico ainda mais preciso com o auxílio de exames como a citologia exfoliativa e as biópsias. Se identificado o problema, o tratamento é realizado por uma equipe de especialistas, incluindo o cirurgião dentista, que desenvolve um plano de tratamento específico para cada paciente. A cirurgia é a principal alternativa para tratar o quadro e, dependendo da fase de evolução dos tumores, indica-se radioterapia e até quimioterapia.

Existe detecção precoce do câncer de boca?

Nem sempre é possível visualizar os primeiros sinais que indicam a existência do câncer bucal. Dados revelam que apenas 20% são detectados nos estágios iniciais, o que aumenta a importância das consultas periódicas ao dentista. Diferente de outros tipos de câncer, o de boca nem sempre é identificado com o autoexame, já que as pessoas não sabem discernir feridas com potencial de malignidade de áreas com anatomias normais. Sendo assim, há o risco de se fazer o diagnóstico tardio. Portanto, é imprescindível que, ao identificar qualquer anormalidade na cavidade bucal que dure mais de 15 dias para cicatrizar, se vá ao dentista para avaliar o cenário.

Esse câncer pode se espalhar para outras partes do corpo?

Nem todos os tumores de boca são malignos. Mas, mesmo os benignos, que não atingem outros tecidos e órgãos, devem ser removidos para evitar qualquer complicação depois.

Quais são os outros sintomas de câncer de boca?

Como já citamos acima. As feridas que não cicatrizam em até 15 dias e as placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, no céu da boca e na bochecha. As pessoas que fazem o uso de dentaduras devem sempre redobrar os cuidados, pois, a fricção constante pode provocar lesões na gengiva e na bochecha que aumentam a probabilidade de desenvolver a doença. Além disso, quem tem o hábito de morder as bochechas, deixando o local irritado, também entra no grupo de risco. Se, além da ferida, o paciente apresentar dificuldade de mastigar e de engolir os alimentos e durante a fala, é preciso buscar um especialista o quanto antes.

O câncer de boca é “transmissível”?

O câncer de boca não é transmissível, ele está relacionado a fatores externos já descritos anteriormente e a fatores internos como a genética, por exemplo.

Por que temos afta (nos casos em que não é câncer)?

A estomatite aftosa, mais conhecida como afta, pode surgir de repente na boca. Fatores emocionais como o estresse, alergias a alimentos, o tabaco e a deficiência de ferro, vitamina B12 e ácido fólico podem desencadear o quadro de afta que tende a durar de 7 a 14 dias, quando ocorre a cicatrização. Durante a escovação, quando machucamos a boca acidentalmente, criamos um ambiente propício ao aparecimento das aftas. Doenças inflamatórias do sistema digestivo e o uso de bebidas e alimentos ácidos que atacam a mucosa favorecem o surgimento. As aftas nada mais são do que a formação de úlceras que aparecem no tecido que cobre os lábios e a boca – normalmente se manifestam na mucosa da bochecha, do lábio ou embaixo da língua. Vale lembrar que, como a boca é abrigo para várias bactérias, elas se aproveitam dos nutrientes contidos na saliva e nos alimentos para proliferarem, formando uma placa bacteriana sobre os dentes. Quando essa placa não é removida corretamente, ela se calcifica e cria o tártaro – formação mineral que deixa o tom marrom ou amarelo nos dentes na região da margem da gengiva – que pode levar, inclusive, às cáries. Essas, quando não tratadas, podem destruir os dentes e seus nervos centrais, resultando num abscesso, uma área propensa à infecção. Daí surgem problemas ainda mais sérios como a gengivite – inflamação da gengiva -, a periodontite – infecções nas estruturas de suporte dos dentes como osso, ligamento periodontal e gengiva -, e as aftas.

Existem pessoas com mais predisposição a ter essas lesões?

Pacientes diagnosticados com diabetes têm maior risco de desenvolver doenças nas gengivas.

As aftas são contagiosas?

Não, as aftas não são contagiosas, já que seus fatores são, entre eles, o tabagismo associado ao álcool, além das condições genéticas, como já nos referimos acima.

Todo machucado na boca é afta?

Nem todo machucado na boca é uma afta. Em algumas situações há o sangramento da gengiva, seguido de inchaço na região, que também é motivo para preocupação. A periodontite, doença em estágio avançado na gengiva e que envolve até os ossos que sustentam os dentes, é considerada como um dos sinais mais frequentes em pacientes diabéticos. A recomendação é que, nesses casos, o cuidado seja redobrado em relação à higiene e as consultas ao dentista ainda mais frequentes. Fique sempre atento aos sintomas que podem indicar o surgimento de problemas. Se houver a percepção de que as gengivas sangram facilmente, estão inflamadas, com pus ou vermelhas e se estiverem se afastando facilmente dos dentes, busque um especialista. Fique atento ainda para os casos de mau hálito persistente e para os dentes permanentes que iniciam um processo de mobilidade.

Como tratar a afta (quando não é lesão de câncer)?

Quanto mais higienizada estiver a boca, menor será o incômodo. Antissépticos bucais ajudam na higienização e pomadas à base de corticoides auxiliam na contenção do problema. Além disso, a laserterapia é capaz de diminuir a dor, acelerar a cicatrização e, até mesmo, diminuir a frequência das feridas. O procedimento é indolor e consiste na emissão de luz diretamente na mucosa feita por um aparelho e o tempo do tratamento varia de acordo com cada paciente.

Existem alternativas para evitar essas lesões?

Visitas regulares ao dentista para a limpeza dos dentes e remoção de placas bacterianas são imprescindíveis a cada seis meses. Evitar o tabagismo e o consumo de alimentos muito ácidos, além de manter a escovação diária associada ao uso de antissépticos bucais e do fio dental ajudam a prevenir complicações. Como o vírus do HPV é um fator de risco, é importante, ao manter uma relação sexual, fazer o uso de preservativos para evitar a transmissão do vírus e o surgimento de aftas pela boca.

 

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