Celebrando 20 anos de atuação e 1.200 km de estradas rurais pavimentadas, Programa Caminhos do Campo alcançou muito mais que o planejado
Por Kikina Sessa e Ludmila Azevedo
Há 20 anos, o governo do Estado deu os primeiros passos em direção ao que se tornaria um dos mais importantes programas para as comunidades rurais do Espírito Santo. Criado em 2004, o Caminhos do Campo vem pavimentando estradas e criando oportunidades para o desenvolvimento econômico e social de norte a sul do Estado.
Sua execução ininterrupta reforça a tese de que é um programa de Estado e não de governo, já que ao longo duas décadas passou pelas administrações de dois governadores: Paulo Hartung e Renato Casagrande.
Foram 140 trechos de estradas já contemplados pelo programa. O primeiro deles, em 2004, foi em Domingos Martins e tinha 5,8 km, ligando a sede do município à ponte do Rio Jucu. O outro trecho, entregue no mesmo ano, totalizava 7,8 km entre a sede do município de Santa Maria de Jetibá e o distrito de São Sebastião. Ambas as regiões abrigam produção hortifrutigranjeira e forte potencial turístico, atividades muito beneficiadas desde então com a facilidade de escoamento dos produtos e do tráfego de pessoas, mercadorias e insumos.
“Nosso time era comprometido e eficiente! Idealizamos e colocamos em prática uma abordagem estratégica em fortalecer a infraestrutura rural, essencial para o desenvolvimento econômico das regiões mais afastadas dos centros urbanos. A pavimentação das estradas rurais reduziu o isolamento de comunidades, melhorou a qualidade de vida dos moradores e impulsionou as economias locais”, lembra Ricardo Ferraço, que foi secretário de Estado da Agricultura de 2003 a 2006, época em que implantou o planejamento estratégico e os programas de infraestrutura na pasta.
Atualmente, Ferraço é vice-governador e secretário de Desenvolvimento do Espírito Santo.
Com o Caminhos do Campo, não só os agricultores e moradores das áreas rurais passaram a ter maior facilidade para escoar sua produção e fazê-la chegar aos mercados consumidores, mas também para receber insumos e outras mercadorias, o que gerou aumento na renda e no desenvolvimento regional. Além disso, o acesso facilitado atraiu investimentos e incentivou o turismo rural, diversificando as atividades econômicas, sem falar da melhoria do acesso da população local a serviços essenciais, como saúde e educação.
“Não paramos por aí. Na sequência vieram os programas para ampliar e garantir acesso com qualidade a energia elétrica e telefonia. Quando planejamento, gestão e força de vontade trabalham em sintonia, os resultados têm capacidade de melhorar o dia a dia das pessoas. Isso é o que importa no fim do dia”, ressalta Ferraço.
Pavimentação eficaz a custo baixo
A fase mais intensa do Caminhos do Campo foi entre 2007 e 2010, quando foram concluídos 61 trechos de pavimentação, totalizando 379,81 km. Na época, o governador do Estado era Paulo Hartung, o mesmo que chefiava o Executivo estadual quando foi criado o programa.
O maior trecho de estrada já pavimentado pelo Caminhos do Campo mede 25,5 km e ficou pronto em 2006. A estrada liga Viana a Baía Nova, distrito de Guarapari. O segundo maior trecho fica em Domingos Martins: são 24,5 km, pavimentados em 2008, melhorando as condições de tráfego entre a ponte do Rio Jucu e as localidades de São Miguel e Melgaço.
Uma das características do programa é ter um custo baixo. No início, o preço por km girava em torno de R$ 200 mil, enquanto o de uma rodovia contratada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) custava R$ 1 milhão. Essa diferença no custo se deve ao objetivo da via, que é o de fornecer trafegabilidade, e não o de aumentar a velocidade média do percurso. Por isso mesmo, os projetos do Caminhos do Campo não necessitam de grandes obras e aterros. Eles seguem os traçados das próprias estradas.
“O Caminhos do Campo foi pautado – e eu digo isso porque eu fui um dos que escreveu esse programa, e eu tenho o maior orgulho disso, – ele foi pautado no burro. Porque o burro, para reduzir o esforço, anda em nível. E as nossas estradas seguem isso. Tanto que o Caminhos do Campo é feito em estradas antigas, no mesmo traçado. Eu, agrônomo. o Gilmar Dadalto, agrônomo também, tivemos uma dificuldade, na época, de achar um engenheiro que topasse fazer fora das curvas tradicionais. Precisamos ainda convencer os órgãos de controle, que estavam acostumados com rodovias e queriam seguir as mesmas normas aplicadas a elas”, relembra Enio Bergoli, secretário de Estado da Agricultura, que acompanha o programa desde 2003. O secretário estima que o Espírito Santo tenha uns 180 mil km de rodovias municipais rurais. “Então, ainda temos muito trabalho”, disse ele.
Nos últimos anos, o Caminhos do Campo recebeu um reforço de outro programa, chamado Calçamento Rural, que não é para estradas tão longas, mas sim para pequenos distritos, ou algum trecho que tenha problema de trafegabilidade. Nesse programa, o material utilizado é o bloco intertravado.
Municípios têm diversas localidades com estradas revitalizadas
Em todo o estado, mais de 150 trechos de estrada rural já foram atendidos pelo Caminhos do Campo, incluindo obras e ações de conservação. Ao todo, são cerca de 1.100 km revitalizados por meio do programa.
Atualmente, há cerca de 20 iniciativas do programa Caminhos do Campo em andamento no interior do Espírito Santo, desde a elaboração do projeto até a contratação de empresa parceira e execução de obras, segundo informações da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag).
A secretaria informou ainda que, ao longo do ano passado, sete novos trechos foram concluídos. O investimento total em 2023, incluindo novos projetos e conservação dos trechos já contemplados, foi de R$ 52,4 milhões.
As últimas estradas concluídas estão nos municípios de Brejetuba (13,77 km); Água Doce do Norte (12 km); Alfredo Chaves (3,7 km); dois trechos em Colatina (5 km e 3,97 km) e dois trechos em Cariacica (3,7 km e 4,8 km).
Em 2023 foram investidos cerca de R$ 52,4 milhões através do Programa Caminhos do Campo, divididos em obras e novos projetos. As conservações de todos os trechos já existentes também foram, e seguem, sendo realizadas em todas as regiões do Estado, com operações de limpeza, manutenção e tapa-buracos.
Além do valor mencionado, mais R$ 24,4 milhões foram investidos em 2023 na conservação dos mais de 150 trechos de Caminhos do Campo em todo Estado, que somados ultrapassam 1.100 km de extensão.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 223, de setembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Agronegócio capixaba aqui.