24.9 C
Vitória
sexta-feira, 19 abril, 2024

O impacto da saída do Reino Unido da União Europeia

Em referendo, opção por deixar o bloco europeu, que venceu por mais de 1,2 milhão de votos, levou o primeiro ministro à renúncia. 

O continente europeu entrou em transe desde a madrugada desta histórica sexta-feira (24), quando foi divulgado o resultado do referendo em que os habitantes do Reino Unido (UK), que entendem estar em situação econômica diferenciada dos demais países componentes do bloco da União Européia (UE), escolheram por deixar essa união que perdura desde 1973. A decisão, que deverá alterar a geopolítica mundial nas próximas décadas, venceu por mais de 1,2 milhão de votos de diferença, a opção que se julgava majoritária de permanecer no bloco europeu.

- Continua após a publicidade -

O impacto dessa decisão ainda não é conhecida em sua totalidade, mas pode-se auferir as consequências econômicas imediatas, como a queda da libra esterlina e das Bolsas Mas uma piora do cenário econômico internacional poderá prejudicar a recuperação do Brasil, avalia o economista e consultor Clóvis Vieira. Ele destaca que esse fenômeno de mudanças bruscas impacta todo o mundo dado os cenários negativos dele advindos: ” Quando a economia não cresce e a insatisfação é generalizada, amplia-se a chance de correntes políticas contrárias conquistarem um maior espaço. As experiências nos ensinam que quanto maior o impacto econômico, maior o risco que nos propomos a aceitar as mudanças e os novos atores. Isso é da natureza humana”, enfatiza

Para os cientistas políticos, a lição política deixada ao mundo com a saída do Reino Unido da União Europeia também é negativa, pois se trata da vitória de um grupo nacionalista que prega a intolerância aos estrangeiros e que têm uma visão econômica mais fechada.

A votação 

A apuração foi divulgada por áreas de votação e a disputa, bastante acirrada. O “sair” começou à frente e chegou a ser ultrapassado pelo desejo de continuar na UE, mas logo retomou a liderança e foi abrindo vantagem até vencer com quase 51,9% dos votos. Foram 17.410.742 votos a favor da saída e 16.141.242 votos pela permanência.

Logo após o resultado, o primeiro ministro britânico, David Cameron, renunciou ao cargo. Ele afirmou que ama o país, que a vontade dos britânicos deve ser respeitada, que acredita sim na força do Reino Unidos, mas que não pode mais “ser o capitão daqui por diante.”, afirmou o premiê, que deve deixar o cargo em outubro. “A negociação deve começar com um novo primeiro-ministro”, ponderou Cameron. Em entrevista publicada pelo jornal “The Times” no sábado (18), o premiê disse que se sentia “responsável” pela consulta, por ter prometido convocar o referendo caso ganhasse com maioria as eleições gerais de 2015, mas também era a pessoa mais adequada para liderar as negociações necessárias graças a suas “sólidas relações” na Europa.

O impacto da saída do Reino Unido da União Europeia

O referendo dividiu não só a União Europeia, mas o próprio Reino Unido. Apesar da vitória do “sair”, votaram pela permanência a Escócia (62,0%), a Irlanda do Norte (55,8%) e a região de Londres (59,9%). Todas as outras regiões da Inglaterra e o País de Gales votaram por “sair”, com percentuais que variaram de 52,5% (País de Gales) a 59,3% (West Midlands). 

Na Escócia, o “permanecer” venceu em todos os distritos. A chefe de governo escocês, Nicola Sturgeon, disse que o país “vê seu futuro” como parte do bloco europeu. “A votação aqui mostra claramente que os escoceses vêem seu futuro como parte da UE”, declarou a dirigente do Partido Nacional Escocês (SNP). E o chefe do movimento Sinn Fein, da Irlanda do Norte, afirmou que vai pedir um referendo sobre a união do país com a Irlanda – que fica na mesma ilha da Irlanda do Norte, mas é um outro país e não faz parte do Reino Unido. “O resultado desta noite muda dramaticamente o cenário político aqui no norte da Irlanda e nós vamos intensificar nosso caso para chamar por um referendo”, disse Declan Kearney, em comunicado.

O plebiscito não torna obrigatória a decisão de sair do bloco europeu e o Parlamento também pode bloquear a saída da União Europeia, mas muito provavelmente isso não ocorrerá. O futuro primeiro-ministro britânico ou os parlamentares não deverão contrariar a decisão da população. 

A vitória do “Brexit”-“abreviação das palavras em inglês “Britain” (Grã-Bretanha) e “exit” (saída) – derrubou as Bolsas na Ásia e os mercados futuros da Europa e dos Estados Unidos antes mesmo do resultado oficial ser divulgado. A libra esterlina, moeda do Reino Unido, despencou e atingiu o menor valor frente ao dólar em 31 anos. No Japão, a Bolsa de Tóquio desabou quase 8%. O presidente do Banco Central da Inglaterra, Mark Carney, afirmou que levará algum tempo para que o Reino Unido estabeleça novas relações com a Europa e o resto do mundo. Disse também uma volatilidade econômica “deve ser esperada”,mas não vai hesitar em tomar medidas adicionais para levar a economia adiante.

Líder do Partido pela Independência do Reino Unido (UKIP), Nigel Farage comemorou vitória no Twitter: “Temos nosso país de volta. Obrigado a todos vocês”. Pouco depois, defendeu a formação de um novo governo. “Agora precisamos de um governo Brexit”, disse Farage à imprensa em frente ao Parlamento. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, afirmou em entrevista à CNN que constitucionalmente o próximo premiê não precisa ser eleito em novas eleições. “Um novo líder do Partido Conservador pode assumir, mas eu suspeito que haverá uma pressão para eleições gerais de uma nova liderança”, afirmou. 

As casas de apostas britânicas, que na quinta-feira (23) apostavam na vitória do “permanecer”, mudaram sua tendência na madrugada desta sexta e passaram a prever a vitória do “Brexit” após a divulgação dos primeiros resultados. Após o fechamento das urnas, às 18h de quinta-feira (23) em Brasília, as casas de apostas de Londres apontavam 90% para a vitória da permanência do Reino Unido na União Europeia. Algumas horas depois, com a divulgação dos primeiros resultados, a tendência inverteu e passou a ser 60% a favor da saída do bloco europeu.

União Europeia – a união econômica e política criada após a 2ª Guerra Mundial, funciona como um mercado único, com livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.
Formado por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, o Reino Unido começou a fazer parte da União Europeia em janeiro de 1973. Dois anos mais tarde, os britânicos foram  às urnas para decidir se deveriam continuar fazendo parte do bloco, pelo mesmo motivo do plebiscito deste ano, as questões econômicas. Mas, naquela votação, o resultado, foi diferente: 67,2% dos eleitores disseram sim, e apenas 32,8% defenderam a saída da Comunidade Econômica Europeia (CEE), hoje chamada de União Europeia. 

O Reino Unido, no entanto, não faz parte da zona do euro – formada pelos países que têm o euro como moeda oficial. Dentre os 28 países do bloco europeu, 19 compartilham a moeda única. Os britânicos continuam usando a libra esterlina.

Fotos: Reuters

Entre para nosso grupo do WhatsApp

Receba nossas últimas notícias em primeira mão.

Matérias relacionadas

Continua após a publicidade

EDIÇÃO DIGITAL

Edição 220

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Vida Capixaba

- Continua após a publicidade -

Política e ECONOMIA