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domingo, 13 DE outubro DE 2024

Bacia do Rio Doce: água percorre 879 km com relevância econômica e riscos de secas

Entenda as particularidades deste sistema fluvial que enfrenta problemas iminentes, biodiversidade ameaçada e impactos de desastres ambientais

Por Kebim Tamanini

Nos últimos anos, a Bacia do Rio Doce tem sido alvo de crescente atenção devido à sua situação de alerta. Especialistas têm advertido sobre a possibilidade de as nascentes dos afluentes secarem até 2030 durante os períodos de estiagem. 

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“Se não cuidarmos das nascentes dos afluentes do Rio Doce no Espírito Santo, esses cursos de água poderão secar até 2030 em períodos de estiagem”, afirmou Henrique Lobo, professor e ambientalista, durante sua palestra “Os Rios da Terra” na conferência “Sustentabilidade Brasil” em junho deste ano.

Bacia do Rio Doce: água percorre 879 km com relevância econômica e riscos de secas
Grande demanda por outorgas para utilização de água, aliada à escassez de chuvas, compromete disponibilidade de recursos hídricos da bacia do Rio Doce. Foto: Fabricio Lima/ES BRASIL

Este recurso ambiental é vital para a população, e entender suas particularidades e importância é crucial. A Bacia Hidrográfica do Rio Doce cobre uma área de drenagem de 86.715 quilômetros quadrados, com 86% dessa área no Leste de Minas Gerais e 14% no Nordeste do Espírito Santo. Seus principais rios afluentes são:

Margem Esquerda

  • Rio do Carmo
  • Piracicaba
  • Santo Antônio
  • Corrente Grande
  • Suaçuí Grande
  • São José
  • Pancas

Margem Direita

  • Rio Casca
  • Matipó
  • Caratinga/Cuieté
  • Manhuaçu
  • Guandu
  • Santa Joana
  • Santa Maria do Rio Doce

Henrique Lobo destacou a importância de trabalhar com todos os 16 afluentes do Rio Doce e a necessidade urgente de recuperar as nascentes, especialmente através da cobertura dos topos de morros. O especialista, reconhecido internacionalmente, enfatizou que a Bacia Hidrográfica do Rio Doce é pobre em águas subterrâneas e que a recuperação das nascentes é essencial para manter o volume de água durante os períodos de escassez.

O Rio Doce se estende por 879 quilômetros, com suas nascentes situadas nas Serras da Mantiqueira e do Espinhaço, em Minas Gerais. A bacia possui um relevo ondulado e montanhoso, caracterizado como um “mar de morros”. Essa configuração orográfica tem influenciado a ocupação urbana, frequentemente em áreas suscetíveis a inundações, como ocorreu em 1979 na cidade de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, quando uma enchente devastou a região.

Economia e População

Historicamente, a extração de ouro foi uma atividade econômica significativa que moldou a ocupação da região. Hoje, o sistema de drenagem da bacia continua essencial para diversos usos: água doméstica, agropecuária, industrial e geração de energia elétrica.

Bacia do Rio Doce: água percorre 879 km com relevância econômica e riscos de secas

A bacia é habitada por cerca de 3,5 milhões de pessoas, distribuídas em 228 municípios (200 em Minas Gerais e 28 no Espírito Santo). A economia local é diversificada, incluindo:

  • Agropecuária: café, cana-de-açúcar, gado de corte e leiteiro.
  • Agroindústria: açúcar e álcool.
  • Mineração e Reflorestamento.
  • Produção: celulose e laticínios.
  • Comércio e Serviços: voltados para complexos industriais.

Com 98% de sua área inserida no bioma da Mata Atlântica e 2% no Cerrado, a Bacia do Rio Doce é rica em biodiversidade, embora haja desigualdade na distribuição dos recursos hídricos entre suas regiões.

Bacia do Rio Doce: água percorre 879 km com relevância econômica e riscos de secas
Desastre com barragem da mineradora Samarco soterrou o distrito de Bento Ribeiro deixando 18 mortos e um desaparecido no interior de Minas Gerais. Foto: CBM-MG

Desastre Ambiental

A tragédia da barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco (Vale e BHP Billiton), em Mariana (MG), foi um marco negativo na história da bacia. O rompimento da barragem em 5 de novembro de 2015 liberou uma onda de rejeitos que percorreu cerca de 660 km, alcançando o mar em Regência, no município de Linhares (ES), em 21 de novembro de 2016. Este evento é considerado o maior desastre ambiental da história do Brasil e o pior acidente com barragens de rejeitos no mundo.

Desde o rompimento, instituições como a Agência Nacional de Águas (ANA), o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) têm monitorado a qualidade das águas e dos sedimentos do rio, produzindo relatórios técnicos e análises contínuas para avaliar o impacto ambiental e buscar soluções.

Bacia do Rio Doce: água percorre 879 km com relevância econômica e riscos de secas
O desmatamento generalizado e o mau uso dos solos têm conduzido a um intenso processo de erosão na região. Foto: Fabricio Lima/ES BRASIL

Perspectivas Futuras

O estado de alerta atual é corroborado por um estudo publicado no livro “Mudanças Climáticas: Efeitos sobre o Espírito Santo”, do Instituto de Estudos Climáticos do Espírito Santo (IEC-ES). O estudo revela que a combinação de baixas precipitações e altas temperaturas resultará em uma “diminuição drástica da disponibilidade hídrica da bacia”, representando um grande desafio para a gestão dos recursos hídricos do estado.

Os pesquisadores alertam que os modelos climáticos e os cenários futuros indicam graves problemas devido às reduções significativas das precipitações tanto nos períodos chuvosos quanto secos ao longo do século 21. A bacia do Rio Doce poderá enfrentar sérios problemas relacionados à redução das vazões.

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