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terça-feira, 16 abril, 2024

O aumento da avaliação positiva do governo e auxílio emergencial

Bolsonaro

Muitos dos que recebem o auxílio acreditam que ele será permanente e esse é o maior problema para o governo

Por Rodrigo Augusto Prando

Não causa espanto a recente pesquisa do Instituto Datafolha que apresenta que Bolsonaro tem a maior aprovação desde que assumiu a presidência, pois, em junho, 32% consideravam o governo bom/ótimo e, agora, são 37%. Alguns fatores podem explicar o quadro geral. Vejamos.

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O ponto fulcral, aqui, está no auxílio emergencial. O dinheiro transferido pelo Governo Federal aos que, na pandemia, se encontram em situação de vulnerabilidade é o principal motivo para a melhora da avaliação. O auxílio foi solicitado por cerca de 40% da população brasileira – número que já mostra a tragédia econômica em curso – e, ainda, são 75% dos desempregados que procuram emprego, 71% entre os assalariados sem registro e 61% entre autônomos e liberais.

São estes, portanto, os responsáveis pela variação positiva pró-governo, segundo artigo de Mauro Paulino (Diretor Geral do Datafolha) e Alessandro Janoni. Há outros elementos, especialmente, mudança de postura de Bolsonaro que reclamam atenção. Do início do mandato de Bolsonaro até a prisão de seu amigo Fabrício Queiroz tivemos um estilo que chamei, em artigos e entrevistas, de presidencialismo de confrontação.

Bolsonaro e os bolsonaristas raiz estavam, se não cotidianamente, ao menos semanalmente, confrontando e atacando os atores políticos e as instituições da república, cujos alvos principais eram o Congresso Nacional (a “velha política”) e o Supremo Tribunal Federal.

Foi, assim, na conjugação de alguns eventos que essa mudança de atitude são mais visíveis, como, por exemplo: a prisão de Queiroz; as investigações no bojo do STF que miram o presidente, familiares e bolsonaristas; a saída de Weintraub do Ministério da Educação; a reação da sociedade e de investidores e, consequentemente, a tutela de Ricardo Salles por Hamilton Mourão no que tange à Amazônia; a busca de uma base política com o abraço caloroso no Centrão (naquela tão xingada “velha política”) e, por fim, até mesmo o silêncio de Bolsonaro pelo curto período no qual indicou que havia sido contaminado pelo coronavírus.

Assim, de maneira inédita teremos, talvez, ocupando o Planalto, um confrontador, que atacou as instituições, por um ano e meio e um candidato pelos próximos dois anos e meio, sem, com isso, termos conhecido um Presidente da República. Os dois pilares da gestão Bolsonaro já não existem mais: Moro, no combate à corrupção e Guedes com sua agenda liberal. Moro foi defenestrado do governo e Guedes encontra-se escanteado pelo “Bolsonarinho paz, amor e gastador”.

Há que se admitir que Bolsonaro sempre gostou de fazer campanha e não de governar. No universo das contradições, a popularidade do governo está atrelada a tudo aquilo que o candidato Bolsonaro atacou na campanha, ou seja, a maior presença do Estado na economia e o aggiornamento do Bolsa Família. Muitos dos que recebem o auxílio acreditam que ele será permanente e esse é o maior problema para o governo, ou seja, qual a mágica que será apresentada? Será o “Programa Renda Brasil”, um novo e hipertrofiado “Bolsa Família”?

Muitos – sensíveis que estão –  se questionam: e o menoscabo de Bolsonaro com a pandemia, sua falta de liderança e empatia e os mais de 100 mil mortos? Isso não seria suficiente para derrubar sua aprovação? A resposta, aqui, é não! Nós, brasileiros, normalizamos a anormalidade e, para lembrar Maquiavel, a política é o que é e não o que gostaríamos que fosse.

Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie, do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

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