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quinta-feira, 28 março, 2024

Avenida Américo Buaiz

A marca de Américo Buaiz faz evocar um capítulo da história da humanidade

Homenageada pela população de Vitória, com os poderes políticos batizando com seu nome importante via pública da capital, a figura de Américo Buaiz nos leva a refletir sobre a significativa presença de libaneses e seus descendentes na formatação dos negócios que deram perfil à moderna economia do Espírito Santo. Mas antes que ele se integrasse com sua família ao cotidiano da vida capixaba, há uma longa história a ser registrada.

O calendário assinalava o ano de 1880 quando ocorreu a grande imigração de libaneses para o Brasil. Dom Pedro II, o imperador, visitara o país árabe quatro anos antes, numa viagem que iria confirmar o estreitamento das relações entre os dois povos, abrindo as portas aos que buscavam novas frentes para o exercício de sua atividade, principalmente na área de negócios, uma das especialidades dos antigos fenícios.

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Centenas de famílias vieram para o Brasil e aqui fincaram raízes, implantaram ideias de comércio, abriram rotas de penetração e desbravaram o sertão como se fossem bandeirantes de novos tempos. Muitas desses clãs de imigrantes e seus descendentes aqui nascidos, com o colapso do Império Otomano em 1920 e o início do mandato francês outorgado pela Liga das Nações, retornaram à sua terra natal. O vínculo com o Brasil, porém, nunca foi por eles esquecido. Ao contrário, cerca de 15 mil libaneses de origem brasileira formaram na terra dos antepassados uma colônia de brasilibaneses, mantendo sempre próximos os povos que Juscelino Kubitschek, quando presidente da República, chamou de irmãos.

Avenida Américo BuaizAtualmente, segundo estimativa do Ministério das Relações Exteriores, o Brasil soma à sua população entre 7 milhões e 10 milhões de descendentes de libaneses. O Espírito Santo se orgulha de se ver inserido nessa página épica da saga de uma nação conhecida 3 mil anos antes de Cristo, habitada pelos semitas, os cananeus, e que, após sua independência em 1943, mantém seguras suas fronteiras, as mesmas desde 1926.

Os libaneses que se instalaram no Espírito Santo deram importante contribuição para o desbravamento de territórios e a consequente implantação de polos de desenvolvimento. Atendo-nos à nossa capital, é justo destacar a presença atuante de Alexandre Buaiz, que chegou ao Brasil em 1908, aos 16 anos de idade, marcado pela fatalidade da morte de seu pai, ainda a bordo, em pleno oceano.

Aportando no Rio Grande do Sul, foi acolhido por um dos seus tios. Mas, passado algum tempo, o imponderável destino o trouxe para Vitória, onde seu sobrenome seria sinônimo de empreendedorismo e sucesso.

Aos 20 anos de idade, em 1912, já citado como exemplo de persistência, dinamismo e inteligência, contraiu núpcias com a senhora Maria Saliba Buaiz, uma libanesa com quem teve seis filhos: José (advogado), Benjamin (médico), Américo (advogado e empresário), Luíz (médico), Lair e Maria de Lourdes (donas de casa).

Seguindo o exemplo do pai, Américo e os irmãos começaram a trajetória de vida como simples empreendedores – um deles, Alexandre, como vendedor ambulante.

O café, em fase de expansão, atraiu a atenção dos Buaiz (vale lembrar que a marca “Super Brasil”, fundada pelo também libanês Chucri Makari, em 1970 já exportava mais de 150 contêineres de café brasileiro por ano).

De mascate, o filho Alexandre passou a atuar no comércio de Vitória com a firma Buaiz, situada no mesmo local em que hoje ainda funcionam alguns de seus empreendimentos.

Os filhos do patriarca Alexandre, com visão de futuro, sem descurar dos seus negócios em permanente expansão, dedicaram-se com o mesmo afinco aos estudos, atingindo posições de destaque na sociedade capixaba.

Em 1927, foi criada a A. Buaiz e Cia, com a participação precoce do filho Américo, então com apenas 15 anos de idade. A empresa passou a representar grandes firmas nacionais, entre elas Ângelo Matarazzo. Nos anos 50, a companhia começou a investir também no segmento da indústria e da construção civil. Mas não parou aí e, com as fábricas de sacos de papel, pregos, grampos para cercas, velas, sabão, sabonete, glicerina, tubos plásticos e refino de açúcar, a criatividade do grupo parecia não ter limites.

Veio a seguir o Moinho de Vitória, também conhecido como Moinho Buaiz, inaugurado em 1956 e ainda hoje existente.

Homem de visão, nos anos em que a crise econômica havia se instalado na economia capixaba, principalmente pela erradicação da maioria dos cafezais, Américo Buaiz tomou a iniciativa de fazer agregar às frentes produtivas do Estado numa entidade de empresários para enfrentar e superar os problemas instalados. Partiu dele a iniciativa da fundação, em 1917, da Federação do Comércio do Estado do Espírito Santo (Fecomércio), da qual foi o seu primeiro presidente.

Na outra vertente dos negócios fundou, em 1958, a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes). E foi escolhido pelos homens da indústria para ser presidente da entidade, cargo ocupado por 10 anos, até 1968.

Sempre olhando para a frente e para o alto, o infatigável Américo Buaiz lançou a ideia da criação de um distrito industrial como forma de favorecer a implantação de indústrias no Estado, o que se materializou com a criação do Civit – Centro Industrial de Vitória.

Em 1958, dia 2 de novembro, faleceu seu pai, o pioneiro Alexandre Buaiz, com quem tudo começou. Descia o véu sobre uma singular figura de rompedor de barreiras para quem somente o céu era o limite. Seus filhos assim o viam e assim deram continuidade à realidade em que os sonhos se transformaram.

Américo Buaiz teve a mesma envergadura do pai, e a cidade Vitória e seu povo muito devem a ele pelo que hoje podem desfrutar.

Do seu casamento com a senhora Arlete Zorzanelli Buaiz, nasceram os filhos Carlos Augusto (empresário), Alexandre (empresário), Américo Filho (“Mequinho”, economista e empresário), Cristina (administradora), José Roberto (investidor) e Ângela (jornalista).

O seu segundo filho, Américo Filho, cursou Economia na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, onde também concluiu MBA e Gerência, além de efetuar um estágio no Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e na Casa da Moeda.

Quando em 1974 se preparava para iniciar uma pós-graduação no exterior, foi chamado pelo pai para integrar-se às empresas do grupo, tornando-se seu sucessor na direção dos seus múltiplos negócios. Capitalizado o grupo, efetivou-se participação no Moinho Três Rios do Rio de Janeiro, procedeu-se ao arrendamento do Moinho de Petrópolis e foi adquirido e modernizado o Café Número Um, que existia desde 1927.

Na área da comunicação, a partir dos anos 80, novos investimentos levaram o grupo à participação societária da Eldorado Publicidade e à aquisição da TV Vitória, ampliada com a compra da Rádio Vitória, de uma rádio FM e da Vitória Vídeo e Áudio e, mais recentemente, da inauguração do jornal on-line Folha Vitória.

Grande passo, superando o conceito de risco da iniciativa, foi a criação e implantação do Shopping Vitória, hoje um dos mais importantes estabelecimentos do gênero no Estado.

Vitória e seus moradores se enlutaram com a morte de Américo Buaiz em São Paulo, aos 76 anos de idade, no dia 14 de dezembro de 1999. Seu corpo foi transladado para a capital capixaba e sepultado no cemitério de Santo Antônio.

Imortalizando seu nome, a cidade de Vitória, por sua edilidade, denominou a antiga Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, entre os bairros Praia do Canto e Enseada do Suá, de Avenida Américo Buaiz.


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