Alison dos Santos ficou tão eufórico com a medalha de bronze conquistada nesta terça-feira (03) nos 400m com barreiras nos Jogos Olímpicos de Tóquio que até se confundiu na hora dos agradecimentos.
Por Raphael Ramos (Agência Estadão)
Depois que já tinha passado pela área de entrevistas, quis voltar para lembrar de todos aqueles que o ajudaram em sua trajetória até o pódio olímpico em uma prova na qual o atletismo brasileiro não tem tradição alguma e nunca havia conquistado um resultado tão expressivo como o feito de Alison.
“Foi uma prova louca, uma prova muito forte, uma prova histórica onde fizeram o que achavam que era impossível, quebrar a barreira dos 46 segundos. Três atletas correram abaixo de 47 segundos, a prova mais rápida da história, e eu fico muito feliz de estar fazendo parte disso”, disse em referência ao norueguês Karsten Warholm, campeão olímpico com direito a quebra de recorde mundial, ao cravar 45s94, e ao norte-americano Raj Benjamin, prata com 46s17. Alison quebrou o recorde sul-americano com 46s72.
“Quando você está correndo não tem noção do tempo que vai fazer, mas eu sabia que a prova estava muito forte e que eu estava brigando para fazer um bom tempo, correr rápido, fazer história. Quando eu olhei o telão e vi o resultado, sabia que tinha feito minha melhor marca, fiquei muito feliz por isso”, disse.
Com apenas 21 anos, Alison chama atenção no cenário internacional desde os 16, quando passou a participar de provas contra adultos. Confiante no seu crescimento, ele já faz planos para o próximo ciclo. “A gente quer mais, evoluir cada vez mais e, quem sabe, um dia se tornar um recordista mundial.”
Sorridente, Alison comemorou ainda o fato de o atletismo ter mudado a sua vida. Quando tinha dez meses de idade, ele teve um acidente doméstico e sofreu queimaduras de terceiro grau em várias partes do corpo. “O atletismo me fez ser uma pessoa diferente, fez eu melhorar o meu jeito de ser, entender e me aceitar mais. Antes eu era muito tímido, tinha muita vergonha, só que hoje eu sei que isso faz parte de mim, não tem porquê eu querer ficar tímido por isso”, contou.
Entre as cicatrizes daquele acidente, ele tem falhas no cabelo que o fazem ter uma aparência de mais velho. “Não é questão de vergonha, era questão de timidez mesmo, de algum comentário que não faziam para você, mas dava para perceber que estão comentando com outras pessoas. Isso mexia um pouco e abalava um pouco a confiança. Mas o atletismo me fez entender que todos nós somos iguais. Ninguém é melhor que ninguém por nada.” Com Alison, o atletismo brasileiro conquistou em Tóquio a sua primeira medalha.