ES Brasil ouviu especialista político que analisou cenário das eleições estadunidenses após atentado contra Donald Trump no último fim de semana
Por Robson Maia
O atentado contra o ex-presidente e candidato Donald Trump poderá nortear as eleições nos Estados Unidos da América. No último sábado, o candidato Republicanos discursava em um comício na Pensilvânia, quando foram disparados tiros na direção do púlpito e contra apoiadores presentes.
Trump foi retirado do local pelas forças de segurança que acompanhavam o ex-presidente durante o comício. Antes de deixar o local, mesmo com o rosto sangrando após um dos disparos atingir a orelha direita, Trump ergueu o punho direito em direção aos presentes e gritou “Lutem, lutem, lutem”, sendo ovacionado pelos presentes.
O ex-presidente deixou o local com segurança, tendo apenas ferimentos leves, de acordo com boletins médicos e atualizações da Casa Branca.
O atirador responsável pelos disparos foi morto pela equipe de segurança após os disparos. Ele foi identificado como Thomas Matthew Crooks. O adolescente de 20 anos era um republicano registrado no partido e já havia feito uma pequena contribuição para um grupo alinhado aos democratas, de acordo com registros públicos.
Crooks morava no subúrbio de Bethel Park, em Pittsburgh, cerca de 56 km ao sul do local comício de Trump. O pai de Crooks, Matthew Crooks, disse que estava tentando descobrir “o que diabos está acontecendo”, mas que “esperaria até falar com a polícia” antes de falar sobre seu filho.
O autor do atentado estava a cerca de 150 metros de Trump, segundo análise da CNN. Além do atirador, uma pessoa da plateia morreu, segundo as autoridades, e outros dois participantes ficaram gravemente feridos. O caso está sendo investigado.
Ataque gerou repercussão
O ataque gerou uma onda de condenação global. Líderes dos principais países aliados aos Estados Unidos condenaram o episódio e classificaram o atentado como um ataque à democracia. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), manifestou solidariedade a Trump em suas redes sociais e repudiou o evento.
Adversário político de Biden na disputa pela Casa Branca, o presidente Joe Biden manifestou repúdio ao atentado e conversou no telefone com Trump, de acordo com a Casa Branca.
Paralelo com o ataque à Bolsonaro e rumo das eleições
A tentativa de assassinato de Donald Trump rapidamente recuperou a memória de diversos brasileiros do ataque sofrido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2018, ainda durante a corrida eleitoral. Nas redes sociais, diversos perfis brasileiros apontaram semelhanças entre o caso ocorrido na Pensilvânia, nos Estados Unidos, e em Juiz de Fora, em Minas Gerais, quando Bolsonaro recebeu uma facada no abdômen.
Para o analista político Darlan Campos, é inevitável a associação dos episódios, sobretudo devido aos espectros políticos ocupados por Trump e Bolsonaro. Ainda de acordo com Campos, o episódio pode ter um forte impacto nos rumos da corrida eleitoral.
“Há uma comparação que a gente pode fazer entre os dois atentados. São dois candidatos em plena campanha eleitoral que são de alguma forma atacados de forma violenta. As investigações ainda vão dizer o que houve, mas, do ponto de vista de comunicação, podemos dizer que há uma consequência “positiva” no caso de ambas as candidaturas. Elas são impactadas positivamente por mensagens e por conteúdos ligados aos candidatos. Agora as consequências a gente vai ter que avaliar, mas a tendência é que seja positiva para a candidatura de Trump, assim como foi para a candidatura de Bolsonaro em 2018”, ponderou Campos.
Trump já era avaliado como favorito entre os principais especialistas da política norte-americana, sobretudo após o desempenho recente em um debate contra Biden. Campos aponta que o ataque a um presidenciável ou parlamentar estadunidense não é exatamente uma novidade, contudo, o analista aponta que o discurso político de Trump tende a ganhar força com o episódio.
“O atentado ao Trump se insere num contexto importante de violência política nos Estados Unidos. Vale lembrar que por lá não é o primeiro caso de presidente atacado, inclusive com outros casos, com morte declarada. O importante é a gente analisar que o caso teve ampla repercussão, o que significa que é uma percepção positiva no caso do Trump”, apontou o analista.
Campos frisou que o cenário de polarização política observado na política mundial, sobretudo na disputa norte-americana, cria impactos em ondas de violência contra adversários.
“Há sim uma relação entre a polarização e as redes sociais, o que não quer dizer que necessariamente isso leve à realização de atentados como esse. Eles devem ser entendidos numa outra lógica, mas no que tange a polarização, isso é totalmente factível no sentido em que a lógica das próprias redes é do embate, do conflito, da viralização a partir do compartilhamento, daquilo que de alguma forma desperta a emoção e as disputas desperta a emoção. Isso faz com que muitas vezes candidatos que têm um discurso extremista consigam um grande alcance dentro do ambiente digital”, finalizou o analista.