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quinta-feira, 28 março, 2024

Arraial virtual outra vez

Enquanto a pandemia de Covid-19 avança, aqueles que se dedicam às quadrilhas juninas buscam alternativas para que o fogo não cesse e, quem sabe em 2022, volte a ocupar um lugar central nos festejos tradicionais do Nordeste

Por Manoel Goes

Pelo segundo ano consecutivo, neste mês de junho não haverá balões no ar, nem xote e baião no salão para as comemorações de Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06) Enquanto a pandemia de Covid-19 avança, aqueles que se dedicam às quadrilhas juninas buscam alternativas para que o fogo não cesse e, quem
sabe em 2022, volte a ocupar um lugar central nos festejos tradicionais do Nordeste. As festividades continuam suspensas devido aos protocolos sanitários para impedir aglomerações e conter o avanço da agora novas cepas do corona vírus.

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A cidade paraibana de Campina Grande, dona de uma das principais festas do país terá mais um ano toda a sua conhecida programação presencial suspensa. Mais uma vez as apresentações serão transmitidas de maneira virtual por causa da pandemia de
Covid-19. O São João 2021 de Campina Grande homenageará o cantor Genival Lacerda, falecido em janeiro deste ano, em decorrência da Covid-19.

“Povo vem deixando de acordar João…” e “Festas Juninas apagam-se”, com datas entre 1968 e 1971”. Entre as explicações expostas nas matérias desse tempo, estava a ausência de motivação espontânea das comunidades na realização da festa. Porém,
logo a partir de 1976, os jornais periódicos já apresentavam outra realidade: títulos como São João: bairros animados; e Muita alegria na noite de São João; refletiam uma retomada das festividades e da prática de se dançar quadrilha.

Tirando essa situação do final da década de 1960, nos últimos 30 anos não houve interrupção da festa, nem quando estivemos em momentos mais críticos de seca nos meados da década de 1990. Os anos de 2020 e 2021 entrarão para a história do
movimento junino como anos de interrupção dos festejos.

Como é comum às artes, sobretudo nesse estrato da cultura tradicional popular, o potencial de reinvenção, de se renascer das cinzas é possível e foi imediatamente ativado, e sim, tivemos São João neste período pandêmico, virtual, remoto do modo possível e seguro à manutenção da vida. É inevitável, porém, pensar que o digital jamais vai proporcionar a mesma sensação que o ciclo junino presencial oferece.Perde-se em termos de socialização, confraternização e práticas culturais. As festas juninas movimentam a maioria dos estados do nordeste na sua base comunitária, assim percebe-se que o dano foi amplo e profundo.

Uma importante cadeia econômica produtiva deixa de funcionar, onde costureiras, sapateiros, maquiadores, figurinistas, chapeleiros e aderecistas, entre outros, estão sofrendo com essa obrigatória paralisação dos seus ofícios, com irreparáveis perdas de ganhos e a manutenção econômica de si e das suas famílias. Mas o nordestino é além de tudo um povo forte, e vencerão mais este desafio.

O sentido da festa e de se festejar o São João nos próximos anos será mais forte, mas guardará a memória de todos os entes queridos que se foram durante essa pandemia. Afinal, a pandemia nos empurra para o uso, a descoberta, o aproveitamento de diversos artefatos ‘novos’, e é padrão das quadrilhas juninas buscar o novo, experimentá-lo e se for válido incorporá-lo à tradição do fazer junino. Os espetáculos juninos, em sua forma e conteúdo, não serão exatamente os mesmos depois dessa experiência pandêmica.

Por Manoel Goes – escritor e subsecretário de Cultura de Vila Velha

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