As narrativas bíblicas citadas nos oferecem uma perspectiva valiosa sobre como enfrentar os desafios climáticos, nos dando lições importantes para o futuro
Por Luiz Fernando Schettino
As histórias bíblicas da Arca de Noé e da Torre de Babel oferecem metáforas poderosas para refletirmos sobre a crise climática atual. Ambas as narrativas, embora antigas, trazem lições valiosas sobre a relação da humanidade com o meio ambiente e a importância da cooperação global.
Comecemos pelo relato da Arca de Noé, ou seja, a preparação e resiliência para enfrentar o Dilúvio anunciado, que Noé acreditou no aviso de Deus e assumiu seu papel de trabalhar intensamente para atender ao Seu chamado, construindo um instrumento, uma arca, para sobreviver e sua família, bem como proteger “um casal” de cada um os animais, simbolizando no nosso entender, a proteção da biodiversidade e sua sobrevivência, em face do Dilúvio que aconteceria e “varreria a face da Terra”.
A história da Arca de Noé, diz que, em função de um aviso de Deus sobre um dilúvio iminente, Noé foi instruído a construir uma arca para salvar sua família e os animais. Esta narrativa pode ser vista, em nosso entender, como os alertas dados pelos cientistas, faz tempo, sobre o aquecimento global e as consequências da degradação ambiental; bem como da necessidade de mudar os rumos das coisas no tocante ao uso dos recursos naturais e de combustíveis fosseis. E daí a urgência da preparação e resiliência diante das alterações climáticas, em função da ação humana.
Assim como Noé, o aviso dado pelos cientistas significa que precisamos agir com determinação e celeridade para mudar nossa relação com o meio ambiente e seus usos, especialmente de combustíveis fósseis. E assim, ter políticas públicas e ações, de forma integrada e harmoniosa, dos governantes, indivíduos e da sociedade, para mitigar os impactos das ações humanas sobre o meio ambiente e mitigar catástrofes naturais. Nesse sentido, “a construção da arca”, em termos climáticos, simboliza a acreditar no que os cientistas alertam, trabalhando para mudar a relação predatória do ser humano com a natureza; bem como, investir em infraestrutura sustentável e em políticas de adaptação que protejam ao máximo as comunidades vulneráveis e a biodiversidade.
Além disso, a arca representa a inovação e a capacidade humana de encontrar soluções criativas para problemas complexos. Noé não apenas seguiu as instruções divinas, mas também utilizou seus conhecimentos e habilidades para construir uma embarcação (um instrumento), capaz de resistir ao dilúvio. Da mesma forma, a humanidade deve trabalhar intensamente a conscientização ambiental, via processo educativo apropriado; e, realizar todas as ações possíveis para reduzir as emissões de carbono e investir em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e inovações que tornem o mais sustentável possível o modelo de desenvolvimento, com base em energias limpas e renováveis, sistemas agropecuários sustentáveis e cidades resilientes, para enfrentar os desafios climáticos.


A narração bíblica sobre a Torre de Babel, na verdade, representa a desunião e a falta de comunicação entre os povos, fenômenos, o que infelizmente estamos vivendo no mundo atual. Representado a falta de entendimento da gravidade e urgência da questão climática e a falta de uma comunicação adequada e real sobre a temática, onde o negacionismo e “Fake News” tem sido correntes sobre essa grave crise.
Na tentativa de construir uma torre que alcançasse o céu, a humanidade foi punida com a confusão de línguas, resultando na dispersão das pessoas. Esta mesma história vem ocorrendo, em relação ao clima, ao não se entender o óbvio e a querer a todo custo continuar num caminho sem sentido. Sintomas que se refletem nos desafios que enfrentamos nas negociações climáticas globais.
A falta de consenso e a defesa de interesses de algumas nações, corporativos, de grupos e mesmo individuais, acima do bem comum têm dificultado a implementação de ações efetivas que freiem as mudanças climáticas e, consequentemente, tem adiado as soluções. E a punição, nesse caso, são as crescentes catástrofes climáticas. Razão que precisamos superar essas barreiras e trabalhar juntos, como uma comunidade global, para enfrentar essa grave crise.
A Torre de Babel também nos lembra da arrogância humana e da crença de que podemos usar a natureza de qualquer forma e sem consequências. A construção da torre foi um ato de orgulho e ambição desmedida, que resultou em caos e fragmentação. Hoje, vemos um paralelo na forma como a exploração sem critérios dos recursos naturais e a poluição desenfreada têm levado a desastres ambientais – desesperança, perdas de vidas, de qualidade de vida, de patrimônio e às mudanças climáticas. É crucial que reconheçamos os limites do nosso planeta e adotemos uma atitude mais humilde e respeitosa em relação ao meio ambiente.
E, nesse sentido, cabe entender que as mudanças climáticas são uma realidade inegável que exige ação imediata e coordenada. A história da Arca de Noé nos ensina a importância da preparação e da resiliência, enquanto a Torre de Babel nos alerta sobre os perigos da desunião. Para evitar um futuro ainda mais catastrófico, devemos aprender com essas lições e promover, urgentemente, a cooperação, em todos os planos e sentidos, no âmbito local, regional, nacional e internacional, assim como uma comunicação eficaz e o compromisso, de fato, com a sustentabilidade.
Além disso, é essencial que governos, empresas e indivíduos assumam a responsabilidade por suas ações e trabalhem juntos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, proteger os ecossistemas e apoiar as comunidades mais afetadas pelas mudanças climáticas. A educação e a conscientização desempenham um papel crucial nessa jornada, capacitando as pessoas a tomar decisões informadas e a agir de maneira sustentável.
As narrativas bíblicas citadas nos oferecem uma perspectiva valiosa sobre como enfrentar os desafios climáticos, nos dando lições importantes para o futuro ser melhor e com qualidade de vida. E para tal, desde já, é preciso unir esforços e agir com responsabilidade, superar diferenças, barreiras e deixar a vaidade e interesses pessoais de lado. Desse modo podemos construir um futuro mais seguro e sustentável para nós e para os que nos sucederão.
Luiz Fernando Schettino é Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Ciência Florestal, Advogado, Escritor e ex-Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos