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sexta-feira, 19 abril, 2024

Anonimato nas redes sociais impulsiona ataques a políticos

Governadores, prefeitos e secretários de saúde são alvos de ofensas e xingamentos por adotarem medidas restritivas contra a Covid

Por Josué Oliveira

As redes sociais facilitaram a comunicação entre o poder público e a sociedade, principalmente em tempos de pandemia. Mas com a adoção de medidas mais duras para conter o vírus em todo o país governantes precisam enfrentar um volume maior de críticas e até fake news.

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Com a polarização política no país, as medidas tomadas por gestores públicos para enfrentar a pandemia do novo coronavírus têm ganhado visibilidade, e o tom das críticas muitas vezes é exagerado e até vira ofensa, garantida, às vezes, pelo anonimato proporcionado por perfis falsos.

De acordo com a agência de checagem Aos Fatos, em pesquisa feita entre 28 de janeiro e 28 de abril passado, no Brasil os personagens mais atacados por fake news foram os governadores, responsáveis pela adoção das medidas de restrição de circulação. No mês de abril de 2020, nomes como o de João Doria (PSDB-SP), do então governador do Rio Wilson Witzel (PSC-RJ), de Camilo Santana (PT-CE) e de Rui Costa (PT-BA) foram os que mais figuraram entre os mencionados em fake News.

No Espírito Santo, é possível verificar a tendência do discurso de ódio nas postagens de prefeituras e do governo do Estado e nas lives para comunicar as mudanças nos mapas de risco feitas pelo governador Renato Casagrande, quando ele anuncia medidas restritivas ou aberturas graduais. O governador, inclusive, disse em alguns momentos que, apesar de algumas pessoas não concordarem, as medidas precisam ser tomadas pelo bem da saúde de todos. O comportamento dos usuários, no entanto, não desmotiva os chefes de Estado. Muito pelo contrário. Eles seguem firmes no trabalho que deve ser feito para conter o avanço da pandemia.

Secretário de Saúde é alvo de haters

O secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, por exemplo, é um dos alvos dos chamados “haters”, expressão inglesa que na tradução significa odiadores. Segundo ele, o momento em que estamos vivendo exige que a população expresse um maior grau de civilidade e consciência para combater um mal que está tirando tantas vidas.“Nossa responsabilidade como gestores públicos é no enfrentamento aos líderes inconsequentes e não ao povo, que é enganado e iludido por eles neste país”, disse.

Nésio garante que, em situações como essas, prefere não responder para não alimentar ainda mais a polêmica. “Ignoro, não discuto. Em situações em que há agravo classificado no Código Penal aciono judicialmente para responsabilização. Considero desnecessárias, principalmente neste momento de pandemia, as narrativas de ódio”, ponderou.
E concluiu: “Não me sinto desmotivado pelas narrativas de ódio, pois essas expressões atrasadas que existem nas redes sociais precisam ser superadas, para isso lutamos por uma sociedade avançada, plural, que respeite a diversidade, aposte na ciência e em boas práticas como uma saída para o ser humano”.

Na mesma linha, o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo, prefere considerar as mensagens positivas que recebe pelas redes sociais.“Muitas pessoas nos incentivam diariamente reconhecendo o trabalho que estamos promovendo, pelas entregas que estamos realizando, mesmo em pouco tempo de gestão. Não tenho medo de cobrança, porque só quem não trabalha tem medo dela. Nossa equipe tem se empenhado muito para entregar melhorias para os moradores de nossa cidade e é nisso que estamos focando. O diálogo sadio é importante sempre”, disse.

Nesio Fernandes
“Não me sinto desmotivado pelas narrativas de ódio, pois essas expressões atrasadas que existem nas redes sociais precisam ser superadas” – Nésio Fernandes, secretário de Estado da Saúde

Coragem pelo anonimato

Muitas pessoas se sentem encorajadas a ofender e espalhar o ódio nas redes sociais pela falsa impressão do anonimato. O advogado criminalista e professor de Processo Penal Rivelino Amaral afirma que a facilidade do acesso à internet acabou criando essa cultura de que se pode falar tudo nas redes sociais, porém, segundo ele, não é bem por aí.
Mas até onde vai o limite da opinião e a ofensa? O que deixa de ser posicionamento e vira crime? Segundo Amaral, a resposta é simples. “É quando ataca a honra. Quando desrespeita a outra pessoa. Quando tenta diminuir, menosprezar, menoscabar. Quando há xingamentos ou atribuição de prática de crime”.

O especialista alerta que muitas vezes as pessoas acham que não serão identificadas por estarem usando perfis falsos. “Todas as pessoas, mesmo que mudem nomes, não utilizem foto nas redes sociais, são facilmente identificadas pela polícia. E esse [falso] anonimato é a válvula propulsora de crimes dessa natureza por acreditarem que vão ficar impunes”.
Os principais crimes que os haters podem ser enquadrados são aqueles contra a honra, como injúria, difamação e calúnia. A pena varia de seis meses até dois anos de prisão.

“Saúde virou alvo de disputa política”, afirma cientista político

Embora estejam seguindo todas as orientações das autoridades de saúde, os políticos viraram alvo de uma polarização que tem dividido o país e provocado uma verdadeira intolerância nas redes sociais. Essa é a avaliação do cientista político e coordenador do mestrado em sociologia da Universidade de Vila Velha (UVV), Pablo Ornelas.
Segundo ele, uma questão técnica de saúde coletiva passou a ser politizada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que na sua avaliação, desde o início da pandemia, minimizou seus efeitos.

“O mundo inteiro assumiu as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, diferente do Brasil onde o presidente fez campanha contra uso de máscara, o lockdown e com a premissa equivocada de que com poderes validados pelo STF a governadores e prefeitos limitariam a autonomia do Governo Federal”.

Diante desse comportamento, o que se observa nas redes sociais são ataques reproduzidos pelos pensamentos do presidente Jair Bolsonaro, embora as medidas restritivas adotadas pelos governos estejam seguindo a cartilha da OMS e aplicadas no mundo inteiro.

“É a politização da questão técnica. O presidente desconhece essas questões e toma a ‘autoverdade’ dele que se orienta pelo conflito. Com isso se cria o engajamento nas redes sociais. E quanto mais radical o discurso, maior o alcance. E essas pessoas se colocam como heróis de uma guerra digital”, explicou.

A matéria acima é uma republicação da Revista ES Brasil, Edição nº 188, do ano de 2021. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita. 

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