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quinta-feira, 18 abril, 2024

Quanto vale o seu pet?

Com o status de membros da família, os animais de estimação têm gerado custos cada vez mais elevados aos seus donos

Quanto vale o seu pet?

“Há quase um ano, meu filho morreu. E todo o amor que tinha foi transmitido ao meu cachorro. Ele é muito mimado. É o caçulinha da família. Eu não sei o que seria de mim sem meu bichinho de estimação. Ele me salvou e resgatou minha alegria de viver.”

Esse é o relato da pensionista Clara Falcão, 79 anos. Todos os dias, pela manhã, ela se senta no sofá, com o maltês Thor, de sete meses. Assiste à televisão e faz crochê com o animalzinho deitado ao seu lado. Ela e sua filha, a vendedora Denise Falcão, 57 anos, investem uma parte da renda familiar em cuidados com o cão.

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“Gasto, em média, R$ 50 por semana, mas é necessário. Uma comida de boa qualidade, banhos, petiscos e brinquedos e exigem investimento. E fazemos tudo isso, porque ele é nosso companheiro. Ele veio para a família, e não nos arrependemos disso”, contou Denise.

As donas do Thor integram um universo de milhões de brasileiros que gastam mais de 7% da renda familiar em cuidados com os animais. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o consumo do mercado pet está concentrado na classe média, que prioriza banho e tosa, alimentação e vacinação.

O faturamento anual do setor foi de R$ 19,2 bilhões em 2017. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o país é o quarto no mundo com a maior população de animais de estimação, perdendo apenas para a China, com 289 milhões de pets.

O território brasileiro abriga 52,2 milhões de cães, 22 milhões de felinos, 18 milhões de peixes, 38 milhões de aves e mais 2,2 milhões de outros animais. São 132,4 milhões de pets no país representando uma média de 44 animais a cada 100 famílias.

Quanto vale o seu pet?
Fonte: Abinpet

Em setembro de 2017, um levantamento feito com internautas pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), apontou que as famílias brasileiras gastam em média R$ 189 mensais com seus animais de estimação. Entre os consumidores das classes A e B, a média é de R$ 224 mensais.

Números que movimentam o setor que, em 2016, chegou a ocupar 0,37% do PIB – Produto Interno Bruto – nacional. A Pet Brasil, projeto que auxilia e orienta empresas que queiram exportar produtos para animais, atribui boa parte desse percentual ao fato das vendas de pet food (produtos alimentícios) ser a maior fonte de receita, ocupando 67,5% do faturamento do ano passado.

O pet serv (segmento destinado a pet shops) representou 16,7%; o pet care (produtos de cuidados animais), 8,1% e o pet vet (segmento de produtos veterinários), 7,8%.

Para o presidente executivo da Abinpet, José Edson Galvão de França, isso demonstra que o setor tem muito potencial, uma vez que os bichinhos são considerados membros da família. “No entanto, a carga tributária sobre o produto tem prejudicado toda a cadeia.

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A massoterapeuta Jennifer Stelet e seus pais, com as “mascotes”. Em média, eles gastam mil reais por mês com os animais

Um dos motivos é que o alimento para animais de estimação é considerado “supérfluo” pelo sistema de tributação brasileiro, apesar de ser uma fonte de alimentação completa, balanceada e essencial para a qualidade de vida e bem-estar do animal.”

Indústria pet

O Brasil está conquistando cada vez mais espaço no cenário internacional. No primeiro semestre deste ano, as exportações da indústria pet movimentaram R$ 29,752 milhões.

O Uruguai foi o país que mais importou produtos pet nacionais, seguido de Chile e Colômbia, segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Jamaica e Indonésia também importam, representando um fortalecimento da economia e a afirmação da indústria pet no alcance global.

Há 36 anos no mercado, a Alcon Pet, localizada em Camboriú, Santa Catarina, desenvolve linhas completas para pássaros, roedores e répteis, e a especialidade são alimentos para peixes ornamentais. A empresa comercializa os produtos no Brasil e exporta há 10 anos para países das Américas do Sul e Central e Ásia.

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O proprietário do My Pet, João Pedro Rutowitsch, afirmou que investe cada vez mais no atendimento aos pets, ofertando
até espaço para comemorar aniversário

A Furacão Pet atua no mercado brasileiro há 20 anos. A empresa, localizada em São Carlos, São Paulo, comercializa casinhas em plástico, caixas de transporte, brinquedos de borracha para cães e de plástico para gatos, além de comedouros e bebedouros. Atualmente, exporta para países das Américas do Sul, Central e do Norte e África.

Muitas empresas também estão migrando para o segmento de franquias pet, que tem crescido consideravelmente nos últimos anos. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), esse setor faturou cerca de R$ 124 milhões em 2017.

Mais estabelecimentos

A quantidade de pet shops cresce a cada dia. Brinquedos, petiscos, kit de higiene, roupa, acessórios e muitos outros produtos estão à disposição nas prateleiras dos estabelecimentos. Na Serra, por exemplo, entre 2015 e 2017, aumentou em 250% o número de lojas especializadas para atender a esse público, incluindo veterinários. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Paulo Menegueli, o número de pet shops triplicou nesse período.

O presidente do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), Aroldo Natal, reiterou que, no segmento de serviços, os animais de estimação representam um valioso nicho em diferentes frentes de negócios: alimentos, medicamentos veterinários, serviços e cuidados, equipamentos, acessórios e produtos para higiene e beleza, entre outros. “E o Bandes acompanhou essa evolução de mercado e oferece crédito para os interessados em investir no setor, desde a abertura e expansão de negócios até a melhoria dos estabelecimentos e qualidade dos serviços já existentes.”

Aproveitando a oportunidade, os sócios Heverton Gonçalves e Daniel Braga notaram que esse é um segmento diferenciado para investimento. Assim, inauguraram em 2017, o Calm Down, em Jardim Camburi, Vitória. O espaço reúne em um mesmo lugar pet shop, consultório veterinário, produtos e serviços para os animais e, ao mesmo tempo, proporciona uma experiência agradável aos donos, com música para relaxar e espaço para brincar com os pets em um ambiente acolhedor.

Localizado em Bento Ferreira, Vitória, o My Pet funciona exclusivamente no atendimento dos animais de estimação. “Investimos cada vez mais no atendimento aos pets. Ofertamos banho e tosa, acessórios, atendimento veterinário 24 horas, taxi dog, hotelzinho e um espaço para realizar aniversários dos animais de estimação de clientes que já estão conosco há bastante tempo. Cedemos o espaço, bem como indicamos profissionais que criam bolos e cup cakes especiais, decorações temáticas, entre outras coisas”, contou o proprietário João Pedro Rutowitsch.

Há um mês trabalhando nesse setor, o empresário João Marcos Boone Nascimento, proprietário da Boone Pet, localizada em Jucutuquara, Vitória, garantiu que o faturamento está sendo muito bom. “A maioria dos donos de animais busca uma alimentação saudável e livre de corantes para não prejudicar a saúde do animal. A procura por acessórios e brinquedos também é grande. Os tutores investem bastante em produtos para os bichinhos”, afirmou.

Pet Friendly

Visando a atender ao público e estimular ainda mais as vendas, estabelecimentos da Grande Vitória adotaram o pet friendly, cultura de levar o bichinho em locais que, provavelmente, ele não entraria. Em 2012, o Shopping Boulevard Vila Velha foi o primeiro centro de compras a aderir ao serviço.

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A professora Tatiane Ribeiro usa a criatividade e confecciona roupas e acessórios para a pinscher com chihuahua Xereta,
de três anos

A tendência também chegou ao Shopping Vila Velha, quando foi inaugurado o Pet Park, em 2017, um espaço com 1200 m² de playground arborizado, equipado com bebedouros com água filtrada e todos os brinquedos confeccionados com madeira garapa, resistente a chuva e ao sol. Além disso, animais de todos os portes são bem-vindos ao parque.

Segundo o gerente de marketing do mall, Bruno Saliba, o Pet Park recebe em média 125 pessoas por dia, chegando a 700 nos fins de semana. Por isso, precisou ser ampliado em quase 30% para promover mais conforto a quem deseja levar o bichinho para brincar no local. Ele destacou que a maioria dos donos que visitam o parque é de classe A e B, e, geralmente, são famílias e jovens casais entre 24 e 38 anos, apaixonados pelos pets.

“Geralmente, as pessoas que frequentam o parque residem em bairros no entorno do shopping, mas também vêm da Praia da Costa, Itapuã e Itaparica. Moradores de Vitória também levam os animais para se divertirem. É um público que busca o conforto do bichinho e que investe nisso. Para nós, é muito satisfatório fazer parte disso”, pontuou Bruno.

O Shopping Praia da Costa também adotou o serviço. O centro comercial disponibiliza recipientes com água fresca para os bichinhos e permite o passeio deles pelas dependências. Além disso, o Shopping promove feiras de adoção em parceria com algumas ONGs de animais.

A saúde do “melhor amigo” é importante

A chegada do inverno e do frio mais intenso, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, é o momento de maior cuidado com os pets. Eles também sentem a queda da temperatura e estão sujeitos a doenças respiratórias como gripe e pneumonia.

A veterinária Rachel de Azevedo destacou que os gastos com os animais se tornam altos quando não há periodicidade às consultas ao veterinário. “Existem tutores que só procuram o profissional quando o animal está debilitado. Por isso, acabam gastando realmente um valor muito alto com medicamentos, às vezes, internações, entre outros procedimentos.

É um valor justo, pois nós prestamos a assistência necessária e fazemos tudo por amor a eles”, disse. Massoterapeuta e amante de animais desde criança, Jennifer Stellet, 30 anos, tem seis bichos em sua residência em La Plata, na Argentina. Ela disse que a família gasta em média mil reais com os pets, entre alimentação, vacinas, produtos de higiene, e, principalmente, medicamentos.

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Denise e Clara Falcão consideram o maltês Thor, de sete meses (centro),
um membro da família

“A Mia é uma Bretton Spaniel de 17 anos e tem um problema no coração. Ela toma diurético e remédio para insuficiência cardíaca, que custam R$ 400. Aqui na cidade também não existe plano de saúde para animais, somente em Buenos Aires, por isso pago todas as consultas, tratamentos, medicações e outros procedimentos particulares. É um gasto muito grande, mas que vale a pena”, frisou Jennifer.

Em geral, os bichinhos de hoje estão longe de levar uma “vida de cão”, com o significado do dito popular. A tendência é que os atendimentos a eles sejam cada vez mais humanizados. Por isso, diariamente, surgem oportunidades de negócios na área de saúde animal. Pensando nisso, o Lifepet chegou ao Espírito Santo.

“O Bandes acompanhou essa evolução de mercado e oferece crédito para os interessados em investir no setor, desde a abertura e expansão de negócios até a melhoria dos estabelecimentos e qualidade dos serviços já existentes” – Aroldo Natal, presidente do Bandes

Com várias modalidades de planos que vão desde os mais básicos, com coberturas de consultas e exames laboratoriais, até os especiais, com cobertura de internações e cirurgias, a operadora tem conquistado espaço no Estado. Além disso, é o primeiro plano de saúde animal regulamentado e com registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).

Rachel de Azevedo argumentou que com a regularidade nas visitas ao veterinário não é essencial fazer um plano para os animais.
“Se o dono entender que precisa levar o animal uma ou duas vezes ao ano a uma consulta de rotina e fazer os exames, ele economizará bem mais e vai garantir a saúde do bicho”, garantiu.

Toda economia é bem-vinda

De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações), houve uma estagnação nas vendas das rações por conta do conturbado cenário político, e a projeção de crescimento das vendas passou de 3,5% para 2% em 2018. Sendo assim, o valor do frete aumentou em até 40%, o que levou as rações a encarecerem.

Segundo Rachel, muitos tutores têm optado por oferecer comidas naturais caseiras aos pets. “Os donos têm investido em miúdos (vísceras, pulmão, entre outros), mas toda a dieta é acompanhada por nutricionista para não colocar em risco a saúde do animal. Essas carnes devem ser congeladas até serem preparadas. Em Vitória, existem profissionais que criam essas dietas, mas com carnes cozidas. Acho mais saudável”, aconselhou.

Uma pesquisa realizada pelo Cuponomia, portal que reúne ofertas e descontos para compras on-line, apontou que a busca por roupinhas e acessórios para pets no e-commerce foi até três vezes maior no mês de junho em comparação ao mesmo período no ano passado.

“O setor pet no país tem muito potencial, porque os animais são considerados membros da família. No entanto, a carga tributária sobre o produto tem prejudicado toda a cadeia.” – José Edson Galvão de França, presidente executivo da Abinpet

Quem tem pouco de tempo e criatividade pode fazer uma roupinha para aquecer o seu bichinho. Este é o caso da professora Tatiane Ribeiro, de 23 anos, que tem duas cachorrinhas, a pinscher com chihuahua, Xereta, 3 anos, e a bulldog francês, Amora, 3 meses. A professora afirma que o gasto com as “meninas” é muito alto, mas que sente um prazer enorme em confeccionar acessórios para elas.

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*Impostos sobre preço base da indústria (preço + margem)
Fonte: Abinpet. Atualização: LCA Consultoria.

“Temos mais gastos com Xereta, porque ela faz acompanhamento por conta das crises de convulsão. Precisa tomar Gardenal e brometo de potássio. Já as roupinhas e laçinhos, geralmente, eu e minha mãe fazemos, nunca pagamos por isso. Nos aniversários da Xereta sempre fazemos um bolinho para tirar foto, só foto mesmo, não tem festa, e as fotos sou eu mesma que tiro”, contou a professora.

Além das cachorras, Tatiane tem uma calopsita macho chamada Zoio, 5 anos. “Ele também é um dos xodós da casa. Mas, por ser tão querido, no aniversário de 1 ano dele fiz um pequeno bolo apenas para simbolizar a data. Ele também merece todo o nosso carinho”, finalizou.

Abandono não é legal!

A demanda de animais abandonados é muito alta, principalmente em período de férias, fim de ano e carnaval, períodos em que as pessoas viajam, e o pet não se “enquadra” mais na família. A representante da ONG Patinhas Carentes, Laryssa Metzker Neves, acredita que esses abandonos também acontecem por questões econômicas, mas que não é o principal motivo.

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Há um mês trabalhando no setor, o proprietário do Boone Pet, João Marcos Nascimento, contou que o faturamento tem sido satisfatório

“A maioria das pessoas não tem conhecimento sobre a importância da vacinação, principalmente em bairros de periferia, em que o número de animais que não têm donos e que, ao mesmo tempo, passam maior parte do tempo na rua, se reproduzindo, se contaminando com doenças é muito grande.

Muitas pessoas querem se desfazer do seu animalzinho e nos procuram alegando que moram de aluguel e não tem como ter um animal onde vão morar, outros porque a esposa engravidou e o médico proibiu ter animais (médico mal informado), ou o animal cresceu demais”, destacou Laryssa.

Ela sugeriu que o interessado em adotar um animalzinho tenha consciência e faça um planejamento sobre a adoção e que não adote por impulso, mas o faça com responsabilidade.


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