Com 60 mil negócios e participação de 7,5% no PIB do estado, mercado do turismo capixaba cresce e se qualifica para integrar roteiros nacionais e internacionais
Por Daniel Hirschmann
O Espírito Santo se consolida cada vez mais como um grande destino turístico do Brasil. O Boletim Economia do Turismo, elaborado pela Secretaria do Turismo (Setur), o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), revelou que o Índice de Atividade Turística (Iatur) do estado cresceu 6,2%, no 2º trimestre de 2024, em relação ao trimestre anterior. Além disso, a receita gerada pelo turismo aumentou 2% no acumulado do ano, reforçando a competitividade do Espírito Santo no cenário nacional.
Segundo a Setur, hoje há 60 mil negócios ligados ao setor, representando 11,5% das empresas registradas. Com uma participação de 7,5% no PIB capixaba, o turismo emprega diretamente mais de 187 mil pessoas, o que coloca o Espírito Santo em uma posição de destaque: é o décimo estado que mais gera empregos formais no setor, superando até destinos turísticos consagrados como Bahia e Minas Gerais.
A expectativa é de que esses números sejam ainda melhores daqui para a frente, impulsionados pela Lei nº11.970/2023, que instituiu a Política Estadual de Turismo. A nova legislação dá diretrizes, princípios e eixos de atuação para a atividade, reconhecendo a importância das instâncias de governança e definindo o Sistema Estadual do Turismo, entre outras ações que ajudam a profissionalizar o setor em solo capixaba.
O secretário estadual de Turismo, Philipe Lemos, diz que a lei alia conhecimento e técnica. “Já existia um conhecimento, mas faltava essa técnica. A lei chegou trazendo isso e aproximando, criando uma sinergia entre os setores, entes públicos e privados”, pondera.
“Não é mais cada um para o seu lado. A gente está caminhando de mãos dadas – governo, municípios, entidades ligadas ao Sistema S, Fecomércio, Senac, Sebrae, e os próprios empreendedores.”
As novas diretrizes abrem a possibilidade de a Setur apoiar, inclusive financeiramente, eventos que estejam no calendário do estado e as instâncias de governança. “A Secretaria de Turismo, juridicamente, não poderia repassar recursos, apoio e patrocínio, como acontece com as empresas públicas, como a Cesan e o Banestes. Eles podem injetar recursos; a Setur, não. Só por meio dos editais”, explica. “Com o advento da lei, a gente passa a poder apoiar eventos e ações das instâncias de governança. Isso fortalece o trabalho de divulgação regional.” A lei gera, também, um ambiente de desenvolvimento que viabilizou a criação do primeiro distrito turístico capixaba – o Distrito Turístico de Pindobas, em Venda Nova do Imigrante.
Melhorias na infraestrutura
Com a nova legislação e os atrativos turísticos do estado, o setor tem aproveitado o momento para crescer. No entanto, esse crescimento também exige investimentos em infraestrutura turística, que é um dos eixos da Lei do Turismo capixaba.
O secretário lembra que, em 2023, uma estrada de 6 km foi pavimentada no programa Caminhos do Turismo. Em 2024, será possível pavimentar quatro estradas. “A importância disso é levar conforto para quem vai para uma pousada, para uma cafeteria, para um restaurante. Não adianta só o empreendedor fazer uma baita pousada, uma baita cafeteria, se o turista não tem como chegar”, afirma.
Ele diz que os investimentos estão sendo possíveis porque, apesar de a Setur ter iniciado o ano com orçamento de R$ 16 milhões, basicamente para custeio, foi possível chegar a R$ 30 milhões, graças a suplementações. Assim, há mais recursos não só para a pavimentação de estradas, mas também para a sinalização turística.
De acordo com o secretário, no ano passado foram instaladas 26 placas sinalizadoras, e em 2024 esse número subiu para 270, beneficiando regiões de grande procura turística, como o Caparaó e o litoral sul. “Hoje, tem GPS, mas também é importante ter a placa para indicar que rota é, onde está aquela rota, por onde o turista vai, o que vai encontrar ali na frente. E a placa também compõe o cenário”, destaca.
Fluxo de veículos é monitorado
Além de orientar o turista e facilitar seu deslocamento, o governo procura monitorar esses movimentos. No programa Conecta Turismo, a Setur trabalha com dados da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) para apurar a arrecadação e os fluxos de recursos nas atividades turísticas. O objetivo é saber o impacto do setor na economia capixaba de forma quase automatizada, usando dados da estrutura do próprio governo.
Outra parceria é com o Detran, utilizando o Programa Cerco Inteligente e as câmeras que monitoram o trânsito no estado, em tempo real. “Elas têm o perfil de computar as placas, então, é possível fazer uma contagem de veículos e um cálculo do fluxo turístico em feriados, por exemplo, quase em tempo real”, explica o gerente de Estudos e Negócios Turísticos da Setur, Rafael Granvilla Oliveira. A expectativa é de que até a metade de 2025 essa ferramenta seja lançada como Monitor de Fluxo Turístico.
Observatório mostra perfil de turistas
O Conecta Turismo é uma das inovações do Observatório do Turismo, comandado pela gerência de Granvilla, visando a automatizar processos, em parceria com a Fapes e com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). São dois laboratórios atuando no projeto – o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), voltado para impacto e engajamento em mídias sociais, e o LabCidades, para dados econômicos.
O Observatório pesquisa o perfil dos turistas, para detectar quais são os destinos prioritários, os hábitos de consumo, o tempo de programação para a viagem, quanto gastam, opiniões sobre o atendimento e o destino, entre outras informações. Também colhe os dados econômicos do setor, apontando quantos empregos são gerados, o salário médio, o saldo de admitidos e demitidos, de acordo com a sazonalidade – verão, inverno e feriados.
As opiniões têm sido positivas. “A gente faz uma avaliação no destino, e o turista, além de recomendar e de ter a sua expectativa atendida quando visita o Espírito Santo, ele também faz uma ótima avaliação, quanto à sinalização, quanto à limpeza pública, entre outros pontos. Na nossa gastronomia e na nossa hospitalidade, são sempre notas entre ótimo e bom – 90% a 95% dos turistas tendo isso como positivo”, comenta Rafael Granvilla.
A pesquisa ajuda a entender o que o turista encontra de positivo e o que é possível melhorar. “É importante a gente poder analisar os dados, de uma forma que a gente possa propor novas políticas”, explica o gerente.
Aumenta oferta de qualificação
Essas informações também servem para definir projetos de qualificação. Nesse quesito, o número de vagas em cursos saltou de pouco mais de 900 em 2023 para 1,73 mil em 2024. “Intensificamos principalmente o curso de idioma, para quem trabalha diretamente com os receptivos. Taxistas, motoristas de aplicativo, recepcionistas de rede hoteleira e restaurantes”, conta o secretário Philipe Lemos.
Também foram ofertados cursos de barista, café da manhã, camareira, hotelaria, ou mais específicos, voltados para gestores, como os de marketing turístico e de planejamento, sempre privilegiando municípios que fazem parte do Mapa do Turismo.
A gerente de Gestão de Turismo da Setur, Bárbara Kuster, explica que a Secretaria oferta esses cursos aos municípios, no início do ano, e as prefeituras e secretarias municipais informam quais os que interessam. A Setur também atua no programa Qualificar ES, com a Secretaria de Tecnologia (Secti), para oferecer cursos profissionalizantes específicos aos municípios durante o ano todo.
Outra iniciativa é o Edital de Fomento Turístico, que contempla todas as regiões. Foram beneficiados seis projetos em 2023 e outros seis em 2024. Cada projeto pode receber até R$ 100 mil de incentivo para o fomento ao turismo regional. “Existem projetos de qualificação, de promoção, de gestão, de inovação. Cada região envia um projeto, que a gente avalia”, explica Kuster.
Divulgação será ampliada
As pesquisas de perfil também influenciam na presença do estado em feiras do setor. Só em 2024, foram dez participações pelo Brasil. A tendência é de aumentar esse número, incluindo novos estados.
“A gente identificou Paraná, Distrito Federal e Goiás. São três regiões que passaram a praticar mais o turismo no Espírito Santo”, revela o secretário Philipe Lemos. A partir daí, a Setur está reorganizando sua participação em feiras para 2025, acrescentando eventos nesses locais de origem dos turistas.
Além disso, a Setur está preparando uma campanha de divulgação que será veiculada em emissoras de TV e aeroportos do país, a fim de atrair turistas para o próximo verão. “É importante que a gente se mostre. Quem não se mostra não é visto”, salienta Philipe Lemos.
Novo Pavilhão de Carapina vai pôr ES no calendário nacional
Um dos principais projetos em andamento no Espírito Santo para impulsionar o setor de turismo é a ampliação e modernização do Pavilhão de Carapina, que deverá atrair eventos nacionais e internacionais.
A transformação do local envolve investimento de mais de R$ 100 milhões, segundo a Secretaria de Estado do Turismo (Setur). O projeto final deve ser apresentado no final de novembro e a previsão é de que a licitação seja concluída no primeiro semestre de 2025.
Pelo projeto, serão 18.000 m² de área expositiva, com três pavilhões de 6.000 m² cada um. Um dos pavilhões terá um mezanino, que servirá como centro de convenções, e também haverá uma área externa multiuso.
A Setur espera entregar o novo centro de eventos pronto em 2026. Segundo o gerente de Estudos e Negócios Turísticos do órgão, Rafael Granvilla Oliveira, a modernização do espaço colocará o Espírito Santo no calendário de grandes eventos do Brasil. “No futuro, após a construção, o local deve ser concedido para a iniciativa privada administrar”, acrescenta.
Experiências turísticas geram engajamento
Uma tendência mundial pós-pandemia está sendo aplicada no Espírito Santo para proporcionar jornadas de experiência turística em diversos municípios capixabas. Em Santa Teresa, por exemplo, vários empreendimentos já realizam o Turismo de Experiência, voltado a proporcionar uma experiência memorável, que gera emoção e engajamento.
“Se o turista for no Pepe Chocolates, de Santa Teresa, ele visita a fábrica onde se produz o chocolate e pode entender sobre a produção, ver que o cacau é plantado aqui no Espírito Santo, como é a sua produção artesanal. Ele conhece quem faz parte da criação, entende aquele processo, conhece os chocolates que foram premiados e faz uma degustação. Todo esse circuito é uma experiência turística”, relata a gerente de Gestão de Turismo da Setur ES, Bárbara Kuster.
Segundo ela, neste ano são 60 experiências turísticas no estado, envolvendo agroturismo, alimentos e bebidas, hospedagem, turismo de natureza e turismo étnico. Para o ano que vem, a ideia é chegar a 90 empreendimentos. Entre 2021 e 2022, foram atendidos 58, e a expectativa é de que até 2026 sejam 180 os empreendimentos participantes do projeto, que é executado em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
A volta dos grandes cruzeiros ao estado
O Espírito Santo deve ser reintegrado à rota dos cruzeiros marítimos na temporada 2025. A Setur está realizando estudos e mantendo conversações com a Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil), empresa representante do setor, para viabilizar o fundeio remoto, já que o porto da capital capixaba não comporta mais os navios de cruzeiro, que hoje chegam a mais de 300 m de comprimento.
O gerente de Estudos e Negócios Turísticos da Setur, Rafael Granvilla Oliveira, diz que já foi detectada uma área possível para o fundeio em alto mar e agora são feitos estudos complementares, visando à primeira “parada teste”. O desembarque para o passeio na Grande Vitória poderá ser feito com o uso de escunas.
Cálculos do órgão estadual indicam que cada cruzeiro traz, em média, 2,5 mil passageiros, com gasto de R$100 por pessoa em duas diárias, o que resulta em um impacto econômico de R$ 500 mil por navio. Durante a temporada de cruzeiros, de novembro a abril, o impacto econômico total pode ser de até R$ 20 milhões.
*Matéria publicada originalmente na revista ES Brasil 224, de novembro de 2024. Leia a edição completa sobre o Turismo no ES aqui