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sexta-feira, 19 abril, 2024

Abido Saadi

O ex-mascate que transformou frustação numa grande cidade

Dois episódios, um bélico e um político, marcaram o destino de uma personalidade que teve seu nome definitivamente associado à vida econômica e social do nosso Espírito Santo.

Abido Saadi
O importante desbravador teve seu nome registrado na principal via de Jacaraípe, no município de Serra

No ano de 1914, a deflagração de um desses acontecimentos abalou os alicerces pacíficos de nações europeias e ocasionou verdadeiro êxodo de migração, uma fuga para países distantes do conflito que entrou para a História como a Primeira Grande Guerra Mundial.
Extensas levas, entre os 3 milhões de habitantes, deixaram o Líbano, cujo território tem apenas 10,5 mil quadrados. Muitas delas vieram para o Brasil, de dimensões continentais.  Entre as famílias que optaram por nosso país e que mais tarde se fixariam no Espírito Santo figurava a do casal Antônio Saadi e Kafa Mattar Saadi. Aqui eles plantaram raízes e novos sonhos, refeitos da fuga no porão de um navio que iria aportar no Rio Grande do Sul, dando-nos, tanto tempo passado, motivação para este levantamento.

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O outro episódio, de cunho político, ocorrido no Espírito Santo, transformou uma derrota eleitoral para a Prefeitura de Vitória, em 1963, num novo rumo que se refletiria em importantes conquistas, por força certamente de memória atávica desde a formação da pátria de seus pais pelos fenícios e babilônios. Falamos de Abido Saadi, nome que é uma chancela no mundo dos conquistadores de espaços.

Nasceu ele no dia 14 de setembro de 1915, na cidade gaúcha de Santa Maria da Boca do Monte, terra natal também de seus seis irmãos. Com a família, transferiu definitivamente seu domicílio para o Espírito Santo quando tinha 12 anos, inicialmente para João Neiva.

Na contramão dos imigrantes europeus, que vieram em busca de terras para a produção agrícola, os libaneses, como a família Saadi, dedicavam-se ao comércio e a pequenas indústrias. Muitos deles atuavam como mascates, visitando com tropas de burros pequenos núcleos de população no interior do país.

O jovem Abido Saadi formou sua personalidade nesse modelo de atividade comercial, comprando e vendendo café, milho e cereais em geral, segundo depoimento de seu genro Francisco Alfredo Lobo Junger.

Abido Saadi
Ao longo de seus quase 4,8 mil metros, a Avenida Abido Saadi, uma extensão da ES-010, abriga os principais estabelecimentos comerciais de Jacaraípe

Adolescente, ainda em João Neiva, foi atleta, jogando futebol na Ferroviária. O time havia sido criado por servidores da associação mantida pela Companhia Vale do Rio Doce, atual Vale, que sediava uma grande oficina de manutenção dos trens da Vitória-Minas naquela cidade. Adulto, mudou-se para Acioly, distrito de João Neiva, onde continuou trabalhando no ramo de comércio.

Em suas andanças percorrendo o interior do Estado, conheceu em 1973, em Colatina, a jovem Nair Dalla, de tradicional família capixaba, irmã do ex-senador da República Moacir Dalla. Com ela se casou e teve quatro filhos: Sônia, Izabel, Sandra e Kafa. Em maio de 1944, já com a primeira filha, Sônia, nascida, a família constituída mudou-se para Vitória.

De espírito extrovertido e comunicativo, nosso personagem conquistou   amigos e admiradores que o estimularam a se ingressar na atividade política. O seu primeiro passo, nessa área, levou-o a disputar, em 1963, a prefeitura da capital. Era cedo demais, e a vitória de Solon Borges Marques, figura muito popular na cidade, apresentador de programas na Rádio Espírito Santo, desencantou Abido Saadi. Uma derrota que o levou a uma espécie de exílio voluntário, transferindo sua residência para o balneário de Jacaraípe, na Serra, à época um lugar inóspito, onde era proprietário de um terreno à beira-mar com 50 alqueires.

Sua visão de futuro motivou-o a planejar e executar loteamento racional da área, plantando os alicerces do que iria se tornar, num futuro não muito distante, uma das mais importantes cidades do Espírito Santo.

Recuperou seu prestígio de liderança como força política, ultrapassando fronteiras. Sua casa era ponto obrigatório de passagem de políticos de expressão nacional, como o ex-governador de São Paulo Ademar de Barros. Francisco Lacerda de Aguiar, “Chiquinho”, o visitou pelo menos duas vezes, durante seu mandato como governador do Estado.

Uma de suas atividades paralelas em Jacaraípe foi exercida no ramo industrial, na produção de móveis e agregados para o setor de construção civil, com a exploração de uma pedreira de brita.

O nome desse desbravador se incorporou definitivamente à vida da cidade que seu idealismo e sua visão de futuro ajudaram a construir. E a homenagem que os capixabas lhe prestaram, com a decisão da Assembleia Legislativa de dar seu nome à principal via pública da cidade, reflete um pensamento comum.

A Avenida Abido Saadi contém a memória imortalizada desse construtor de sonhos que mudou de plano no dia 24 de novembro de 1984, aos 69 anos de idade.


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