Apesar da recessão, os resultados do setor ainda são bastante positivo
A preocupação com a qualidade de vida conquista um número cada vez maior de brasileiros, que têm alterado hábitos alimentares e aderido à prática de atividades físicas. Essa mudança de prioridades gerou um crescimento invejável no mercado fitness, incluindo academias, venda de equipamentos, moda e prestação de serviço. Entre 2009 e 2013, o faturamento do setor quase dobrou, sendo ampliado de US$ 1,21 bilhão para US$ 2,35 bilhões (R$ 9,28 bilhões).
Academias
Em quatro anos, o número de empreendimentos aumentou 55%, saindo de 15 mil unidades em 2010 para 30.767 em 2014, quando somente esses estabelecimentos reuniram quase 8 milhões de alunos em todo o país, trazendo um faturamento de, aproximadamente, R$ 6,5 milhões. Tal expansão levou o Brasil ao segundo lugar global em número de academias, ficando atrás somente dos Estados Unidos, que possui 1.383 empresas a mais, conforme levantamento da International Health, Racquet and Sportsclub Association (IHRSA), do Conselho Federal de Educação Física (Confef) e da Associação Brasileira de Academias (Abrac).
Em termos de faturamento, a situação é menos vantajosa. O Brasil ocupa a 10ª colocação do mundo para o segmento, com projeção de US$ 2,5 bilhões para 2016, enquanto a estimativa é de US$ 22,4 bilhões nos EUA. Mas, considerando a realidade econômica atual, os empresários brasileiros ainda podem comemorar os resultados, avalia Sérgio Ribeiro, sócio da Tribes Company, conglomerado de unidades cujo carro-chefe é a Body Systems, que licencia aulas coletivas de ginástica para aproximadamente 2,3 mil academias na América Latina (Brasil, Argentina e México) e movimenta mais de R$ 25 milhões ao ano.
E mesmo que a onda de pessimismo gerada pela crise nacional já tenha chegado à área fitness e resultado em ações preventivas por parte de academias e lojas, levando até ao fechamento de alguns pontos menos estruturados, as ampliações e os surgimentos de novos negócios não param. “Em 2015, por três vezes ficamos entre as três maiores agências do mundo em termos de volume de vendas, um percentual de 33% ao mês de crescimento. Em razão da crise, foi preciso sim buscar alternativas, elevar o investimento para melhor servir aos clientes. Os empresários diminuíram a margem de lucro, mas garantiram que o impacto no faturamento não atingisse a dimensão do prejuízo registrado na indústria”, explicou Sérgio.
Entre os desafios que as academias enfrentam está o de aumentar o número de frequentadores, atualmente limitado em menos de 4% da população, a quarta posição mundial em total de clientes, com 7,6 milhões de matrículas. Em contrapartida, isso significa um imenso mercado ainda a ser explorado. “A necessidade de adequações está sendo uma realidade, mas, ainda assim, quem
está trabalhando direito não tem o que reclamar. O mercado fitness é um setor com diversas oportunidades. É realmente preciso fazer muita força para falir uma academia”, comentou o empresário.
Consultor especializado nesse campo, desde a venda de produtos esportivos e equipamentos até projetos de espaços de academias, residências, condomínios e empresas para este fim, Sérgio Gilotti hoje mora no Espírito Santo, mas atua em todo o país, inclusive no mais recente projeto do lutador Lyoto Machida, a academia BodyFit, no Pará. Ele destaca que o cenário ainda é positivo, mas para isso, é preciso que o negócio esteja bem organizado.
“Apesar da crise, o mercado continua em crescimento, porém as academias que já não estavam bem estruturadas, tanto organizacional quanto financeiramente, vão passar forte recessão, com risco de fechamento. E essa era uma situação que não se ouvia falar no ano passado”, reforça Gilotti, que já atuou também como diretor das academias Bio Ritmo e Smart Fit nas suas matrizes.
Em 2016, o mercado brasileiro continuará a sofrer os impactos do panorama econômico. “A polarização do modelo low-cost (baixo custo) e das redes de maior valor agregado deverá se acentuar, o que provocará uma pressão ainda maior nas academias intermediárias. O desafio para as academias de nicho e os estúdios também não será fácil, mas a especialização ainda terá seu espaço
garantido”, analisa.
Referência em Linhares, a Health Way registrou uma média de 14% de expansão anual, desde 2006, fechando 2014 com 1.400 alunos. Ao final de 2015, havia 950 clientes, mas para reverter essa queda, os gestores apostaram na ampliação da oferta de serviços, em um mesmo pacote de preço. “Temos piscina aquecida e coberta, ampla área de musculação e de ergometria muito bem
equipada, criamos uma área de treinamento funcional em areia, ampliamos as opções de estilos de luta e de oportunidades de descontos. Hoje, com uma mensalidade de R$ 165,00, o aluno pode utilizar todos os serviços da academia. Além disso, estamos trabalhando forte juntos aos nossos profissionais para fidelização dos clientes”, enumerou o diretor financeiro da Health Way, Willian Batista Araújo.
Equipamentos
Em novembro de 2015, a Life Fitness, líder mundial no mercado de equipamentos de ginástica, inaugurou mais uma loja em Balneário Camboriú, Santa Catarina; neste mês, também abriu um espaço com 900 metros quadrados, 300 a mais do que a antiga loja, no bairro dos Jardins, área nobre de São Paulo, com direito a espaço de convivência que estimula a atividade física,
a saúde e o bem-estar.
Pedro Goyn, diretor-geral da Life Fitness Brasil, destaca que nos últimos cinco anos o país ganhou imensa importância no cenário global das operações da marca. “É certo que essa mudança veio acompanhada pelo crescimento do mercado fitness no Brasil, incluindo grandes redes, expansão das já existentes e fortalecimento do crescimento do mercado que chamamos de ‘vertical’, notadamente condomínios, hotelaria e serviços.
O mais significativo foi que esse crescimento veio em todos os segmentos de uma vez, fato que chamou a atenção de nossa matriz. Em relação ao tamanho, estamos hoje à frente de países como Japão e Alemanha e nos equiparando ao Reino Unido, onde há uma das mais robustas operações internacionais”, detalha. Quanto aos resultados dos negócios, apesar de não explicitá-los, Pedro Goyn confirma que os valores são positivos. “Não divulgamos números específicos de cada operação, mas temos colhido um expressivo crescimento no Brasil, a uma taxa média de 20% nesses últimos quatro a cinco anos. O crescimento foi menor em 2015, se comparado a 2014, por razões de mercado e cenário da economia que já conhecemos, mas ainda assim estamos satisfeitos em termos avançado em um período tão complexo.
Essa taxa média seguramente nos coloca entre as três operações internacionais que mais cresceram neste período”, garante. A alta da demanda em residenciais é outro indicador comemorado. “Estamos vivenciando também um padrão crescente das academias em condomínios e empreendimentos residenciais. O que era visto como um acessório, hoje, tem tanta importância quanto as demais facilidades dos prédios, como a piscina e o espaço social. E, no mesmo caminho, estamos observando uma movimentação forte no setor hoteleiro, ainda como preparação a uma demanda que virá ligada às Olimpíadas, com certa concentração natural em torno do Rio de Janeiro (a cidade-sede). A diversificação das linhas e a oferta ampla para todas as demandas vão se acentuar ainda mais em 2016.
Em tempos de cenário econômico mais desafiador, o cliente fica mais exigente e quer ter mais opções”, avalia o diretor. No mercado capixaba, o cenário tende a ser um pouco menos positivo em 2016, embora ainda melhor que os quadros dos demais segmentos, projeta Madson Barros Mayrink, proprietário da Art Fitness, empresa que representa a franquia Moviment no Espírito Santo, há 21 anos no mercado. “Em 2013, tivemos o melhor desempenho da área fitness no Brasil. Nossa empresa, por exemplo, registramos um crescimento de 50% no faturamento, ultrapassando R$ 3,5 milhões. Já no ano seguinte, tivemos um salto menor, e em 2015, houve uma queda de 20% no faturamento em relação a 2014.”
Segundo ele, a dificuldade de acesso ao crédito será um grande limitador para a abertura de novos negócios. “Temos clientes com pedidos de financiamento já abertos há seis meses, mas eles não conseguem liberação do recurso. E para abrir uma academia, é preciso pensar em um investimento mínimo de R$ 300 mil. Se for considerar o objetivo de cobrar uma mensalidade entre R$ 120 e R$ 150, o gasto será de R$ 500 mil. Por isso, a maioria das expansões e dos novos negócios que temos visto é de grandes grupos ou de academias que possuem boa margem de capital de giro”, afirma Mayrink.
Suplementos
Companheiros inseparáveis da maioria dos frequentadores de academias, os suplementos alimentares têm ganhado cada vez mais adeptos. Desde 2010, o setor de nutrição esportiva no Brasil se expande a uma média de 23% ao ano. Este ano, a estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) é que o segmento avance 15%.
Até 2014, em boa parte das lojas especializadas, cerca de 50% do que era oferecido eram suplementos vindos de fora. Em 2015, a disparada do dólar impactou não só os produtos importados, mas também os nacionais, pois a maior parte da matéria-prima usada na fabricação dos suplementos é originária do exterior. A consequência foi a perda de muitos consumidores. A valorização da moeda americana, por outro lado, impulsionou a indústria brasileira, que detém pelo menos 70% de participação de mercado. “O esportista de academia não vai deixar de consumir suplemento, porque aquilo é o estilo de vida dele”, frisa o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos Nutricionais e Alimentos para Afins Especiais (Brasnutri), Sinézio Batista da Costa.
De uma forma ou de outra, a recessão atingiu todas as áreas, mas a maior parcela dos frequentadores assíduos de academia, em busca do corpo sarado, não abre mão dos produtos e faz questão de comprá-los, embora possa até ter diminuído a frequência do consumo, estabelecendo intervalo de meses, em determinados casos.
Proprietário de seis lojas Nutri Center na Grande Vitória e da importadora Nutri Import, Cloves Monteiro estima que o mercado tenha amargado retração média de 35% no segundo semestre de
2015, enquanto o grupo registrou alta de 250% no faturamento entre 2011 e 2013, fechando aquele ano com quase R$ 50 milhões. “Em 2015 esse valor foi diminuído em, aproximadamente, 35% nas importações e 20% nas vendas das lojas, e 2016 será de muitos desafios.” Para o empresário, além da alta do dólar e da crise, que gerou uma perda do poder de compra da população, um dos motivos para a baixa nas vendas de suplementos está nas muitas ofertas de alimentação saudável que surgiram. “Até alguns anos atrás, não existiam tantas opções em alimentos saudáveis e também tantas receitas saudáveis circulando pelas redes sociais”, lembra.
Somente em 2014, o mercado de suplementos alimentares faturou US$ 320 milhões, com 2,5 milhões de consumidores. São 250 marcas pertencentes a 100 empresas, sendo 60% nacionais e 40% internacionais, que têm seus produtos oferecidos em 11 mil pontos de venda, entre lojas especializadas e farmácias. Em comparação, os Estados Unidos contam com 50 milhões de consumidores de nutrição esportiva, um mercado que fatura US$ 4 bilhões ao ano com mais de 2 mil marcas disponíveis em 100 mil estabelecimentos. Quanto aos canais de comercialização, de 20% das compras são feitas pela internet, 50% nas lojas físicas especializadas e 30% em drogarias.
Personal
O cenário também está favorável para os profissionais de Educação Física que atuam como personal trainer, ao menos para aqueles que já conquistaram credibilidade no mercado. No Espírito Santo, os mais renomados cobram entre R$ 55 e R$ 80 a hora/aula, o que pode render um faturamento mensal acima de R$ 15 mil quando há disponibilidade de prestar o serviço durante todo o dia. “Por enquanto, não há do que reclamar. Esse é um serviço caro para a média salarial brasileira. Então quem contrata personal é um público de maior poder aquisitivo, que não sente a recessão tão facilmente. A maioria das desistências se dá por novos compromissos profissionais que passam a inviabilizar o treino. Mas, no máximo em duas semanas, o horário é preenchido por um novo aluno”, garante Simone Spínola, há 15 anos na atividade.
Moda fitness
E a preocupação com a boa forma impulsiona o setor de vestuário específico para a prática de exercícios. Segundo boletim do Sebrae, o segmento possui mais de 7 mil lojas especializadas em artigos esportivos; outras 14 mil vendem algum tipo de artigo desse estilo. E o faturamento anual do varejo de nicho no país é de R$ 4,7 bilhões. A empresária Letícia Modenese percebeu essa oportunidade em 2007, quando se associou à Suzana Hamasaki, criadora da Bordot. Hoje, com um estabelecimento próprio e uma franquia, além de atender multimarcas no interior do Estado, ela vende uma média de duas mil peças por mês. Em 2014, época do grande boom da marca, o crescimento foi de mais de 80%. De lá para cá, a Bordot mantém uma média de avanço em torno dos 8% ao ano.
“Estamos investindo em representação, com o intuito de dar visibilidade nacional à marca. Também estamos nos preparando para exportar ainda este ano para Flórida e Califórnia. Temos muito procura tanto de outros estados brasileiros quanto do exterior e estamos nos estruturando para dar esse passo ainda no primeiro trimestre deste ano”, disse a empresária. Após um ano de inseguranças, 2016 será um período de desafios ainda maiores. Mas os especialistas são unânimes em afirmar que empresas e profissionais que apresentarem qualidade diferenciada de atendimento a seus clientes irão passar bem pela crise. Saúde, bem-estar, qualidade de vida e condicionamento físico estão definitivamente na moda.
A matéria acima é uma republicação da Revista ES Brasil. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita. |