A disparidade salarial entre os gêneros acontece por questões multifatoriais e, justamente por isso, o caminho para fechar essa conta se dá através da ação coletiva
Por Kamilla Matos
Apesar dos avanços no mercado de trabalho, a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda é uma realidade preocupante. De acordo com o relatório Tendências em Gestão de Pessoas 2025, elaborado pelo GPTW, as mulheres ganham, em média, 20,7% menos que os homens, e o cenário é ainda pior para mulheres negras, que recebem 27,9% menos. Esses números mostram que, mesmo ocupando funções equivalentes, as mulheres continuam enfrentando barreiras estruturais para alcançar uma remuneração justa.
No livro Faça Acontecer, Sheryl Sandberg destaca que mulheres costumam negociar menos seus salários em comparação aos homens, seja por receio de serem vistas como “difíceis” ou pela falta de transparência das políticas salariais, que não trazem clareza sobre quanto deveriam ganhar.
Além disso, vieses inconscientes – de gênero, capacidade ou familiaridade – no momento da contratação e promoção, também contribuem para que os salários femininos fiquem estagnados em relação aos dos colegas homens.
Cris Kerr, em Viés Inconsciente, explica que esses preconceitos automáticos afetam as decisões de gestores e recrutadores, perpetuando desigualdades históricas dentro das organizações.
Para enfrentar esse desafio, é fundamental que as empresas adotem práticas salariais mais transparentes e estruturadas.


Isso significa implementar auditorias salariais periódicas, estabelecer faixas salariais claras para cada cargo e eliminar a prática de basear ofertas salariais no histórico de remuneração da candidata, algo que perpetua desigualdades preexistentes.
A conscientização sobre vieses inconscientes e treinamentos estruturados para lideranças também são essenciais para transformar a cultura corporativa e garantir uma remuneração justa para todas.
A disparidade salarial entre os gêneros acontece por questões multifatoriais e justamente por isso o caminho para fechar essa conta se dá através da ação coletiva.
Mulheres precisam se sentir seguras para negociar seus salários sem receios; empresas devem revisar suas políticas com seriedade; e lideranças devem assumir um papel ativo na promoção da equidade.
A mudança não virá apenas do tempo, mas do compromisso real de todos os envolvidos.
Kamilla Matos é diretora da ABRH-ES e facilitadora de aprendizagem corporativa