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quinta-feira, 25 abril, 2024

A cultura como salvação

Quando falta harmonia à sustentabilidade a dimensão Cultural pode inspirar a retomada

Por Sidemberg Rodrigues

Em recente viagem ao Uruguai, para levar meu filho à final da ‘Copa Libertadores’, decidimos passar uns dias na Argentina. As celebrações de um ano de falecimento de Diego Maradona e o charme de Buenos Aires nos inspiraram a fazer uma escala na terra dos ‘hermanos’. Assim que desembarcamos, um país sofrido por longas crises traduziu-se em uma nação visivelmente mal gerida e triste.

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Pessoas em situação de rua acotovelavam-se; operadores informais de câmbio às dezenas pelas ruas, com risco de notas falsas para os turistas e uma notória falta de esperança no ar povoavam a cena urbana. Bem da verdade, a pandemia comprometeu economias mundo afora, mas algumas já estavam ruins e pioraram. A Argentina é prova de como a dimensão Política da sustentabilidade pode devastar a Econômica e, desestruturar a Social. Se a ética, a compaixão e a visão holística da dimensão Espiritual faltam, o individualismo e a corrupção são eficazes ralos da cidadania.

A desvalorização progressiva da moeda local e uma inflação inevitável são desafios adicionais, além de questões meramente cambiais. Apesar do aparente caos, a dimensão Cultural parece preservada, como se as referências, tradições, crenças e a identidade do povo sustentassem, ao menos em parte e por tempo limitado, o equilíbrio das demais. Painéis com anúncios de apresentações de tango; os doces Havanna; exposições de arte; museus; muitos cafés, música típica e a peculiar empanada gravitavam à órbita do que encanta o intenso fluxo de turistas. Eis um viés financeiro da cultura. Um outdoor exibia um artista local típico, com a seguinte frase: “a arte torna visível aquilo que é invisível”. Embora sem manutenção, fachadas do patrimônio artístico-histórico-arquitetônico argentino ostentavam a memória do passado próspero do país.

O museu do clube Boca Juniors exibia um tempo de glória do futebol argentino em seus monitores de vídeo, cuja qualidade contrasta com a desgastada infraestrutura do estádio anexo e do prédio em geral. Um mural do ídolo maior do futebol argentino, Diego Maradona, ilustrava com arte uma parte relevante da atuação argentina nos gramados. No coração do singular bairro Caminito um impensável sósia de Maradona posava com turistas cobrando muito pouco pelas fotos.

Na hora do pagamento, contudo, ele informava que não aceitava pesos argentinos: “só real ou dólar.” Metáfora de que ele pode não estar seguro do país que seu sósia encantou com o futebol e que o aclamou em vida e após a morte, haja vista a parede com o mural de homenagem ao craque, o farto noticiário pelo ano de seu falecimento e as diversas celebrações sobre sua importância. Em outra publicidade, a chamada dizia que “a arte transforma um instante em eternidade” por ser algo fundamental. Não há muito mais a dizer sobre a Argentina, além de que Buenos Aires continua um surpreendente destino cultural e turístico. No mais, o fundamental é indizível.

Sidemberg Rodrigues é Professor de Sustentabilidade em cursos MBA, escritor e cineasta

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