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terça-feira, 23 abril, 2024

Felipe Rigoni avalia momento político e aponta expectativas para 2020

“Acho que a Câmara e o Senado mostraram que estão prontos para tocar as reformas mais importantes do país, independentemente das confusões do governo”

Não tem como falar da atuação da bancada capixaba na Câmara dos Deputados em 2019 sem se lembrar do deputado federal Felipe Rigoni (PSB). Ele já chegou chamando atenção ao conseguir o feito de silenciar um ambiente que abriga 513 deputados e em seguida arrancar aplausos deles ao contar sua história pessoal. Rigoni perdeu a visão completamente na adolescência, por causa de uma uveíte, um tipo de inflamação nos olhos. Formado em engenharia de produção, Rigoni foi o segundo deputado mais votado no Estado no último pleito. E foi ao contar parte dessa história que o fez começar a se destacar não só no Estado, mas no plano nacional.

Ele chamou atenção também ao contrariar orientação de seu partido, o PSB, e votar a favor da Reforma da Previdência. Hoje aguarda decisão da Justiça que pode ou não liberar sua saída do PSB, sem que com isso perca o cargo. Sobre isso e outras questões que rondaram 2019, ele fala na entrevista a seguir.

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O que te surpreendeu positiva e negativamente na Câmara?
Cheguei à Câmara naturalmente com muita vontade de fazer muita coisa pelo nosso país. Duas coisas que foram surpresas muito positivas, se você entra nos assuntos que você tem como pauta de uma maneira tecnicamente profunda, você ganha um espaço muito grande. Por exemplo, a primeira coisa que eu falei com Rodrigo Maia foi sobre a Lei de Licitações, ele já me colocou em contato com o relator, e eu fui uma das pessoas que mais influenciou nesse processo até ela terminar de ser aprovada na Câmara dos Deputados, e foi agora para o Senado. Percebemos que se você constrói as coisas tecnicamente consolidadas, você ganha um espaço importante. A segunda surpresa é que, se você chega lá com disposição de dialogar, entendendo que todo mundo lá é legitimamente representante, você também ganha um espaço muito grande. Acho que a única coisa que não digo que é uma frustração, mas a constatação de algo ruim, é a demora com a qual as coisas acabam sendo discutidas no Congresso. Tudo bem que somos 513 deputados, 81 senadores, naturalmente é mais demorado que no setor privado. Mas o que me deixa “p” da vida é que às vezes estamos atrasando uma discussão muito importante porque queremos marcar posição política para algo que não tem a ver com o assunto em questão. Isso acontece muito na Câmara. No dia daquele vídeo que viralizou, estávamos votando cadastro positivo, algo extremamente importante. Vai ser bom para milhões de pessoas, mas estava havendo uma obstrução muito forte, por causa de algo que o presidente havia dito aquela semana, não lembro exatamente. E estava atrasando a votação de tudo.

Felipe Rigoni avalia momento político e aponta expectativas para 2020
Foto: Reprodução

Qual foi o momento mais desafiador?
A votação da Reforma da Previdência com certeza. Apesar de eu nunca ter dúvida sobre o meu voto, naturalmente é uma discussão que ficou muito polarizada. E querendo ou não, é um sacrifício para as pessoas, não que não fosse necessário, sem dúvida, mas é um sacrifício. O processo como um todo ficou muito personificado e as pessoas atacavam muito a gente. Foi um processo muito duro. Foi muito cobrado pelo seu eleitorado ou eles já esperavam aquele posicionamento? Não, muito pouco (cobrado). Já sabiam, eu vinha desse posicionamento há muito tempo, desde que ela tinha sido levada para a Câmara, eu sempre dizia que era a favor, com algumas mudanças, e fui sempre comunicando isso com muita clareza.

O senhor faz parte da Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação (MEC). Qual avaliação faz?
Foi um ano perdido para a educação brasileira em 2019. Deixando de lado as confusões, problemas de ataques políticos que alguém faz ao ministro ou que o ministro faz a alguém, nossa preocupação no relatório da comissão externa era fiscalizar o que tinha sido prometido, planejado e feito. Não existe planejamento no Ministério da Educação. Eles não sabem o que querem para os próximos três anos e não sabem como vão implementar. Os dois trabalhos da secretaria são muito vagos, apesar de terem um pouquinho mais de especificidade. Mas eles não têm meta, não têm prazo, não têm responsabilidade. E as áreas específicas em que eles falaram que estavam focando e que falaram que iam focar era alfabetização. Eles só fizeram duas coisas. Lançaram o Plano Nacional de Alfabetização, que não é um plano. É só uma revisão bibliográfica do assunto dizendo que o foco desse governo vai ser o método fônico. E A Conferência Nacional de Alfabetização, que é outra revisão bibliográfica. Mas não tem plano, não tem meta, não tem como os municípios e estados vão tocar isso para frente. E foi executado de dinheiro para a educação este ano zero reais. Tinham sido enviados R$ 146 milhões para os municípios e estados, que era da gestão anterior, da gestão Temer, pediram para não gastar. Ou seja, nada foi gasto com alfabetização. Ou seja, quem está na ponta não faz ideia do que fazer.
Só foram feitas duas grandes coisas na nossa opinião no MEC. Um foi a realização do Enem, que foi boa. E outra foi a carteira eletrônica. De resto, nada foi feito. Até o Future-se, que é o grande programa do MEC, nem foi lançado ainda.

Como avalia o ano de 2019?
Tivemos uma grande vitória, que foi a aprovação da Reforma da Previdência. Temos desafio na parte fiscal, na parte econômica, na educação, na parte de meio ambiente muito, muito grande, que não estão sendo enderaçadas nem na velocidade nem na qualidade em que deveriam ser feitos. Acho que a Câmara e o Senado mostraram que estão prontos para tocar as reformas mais importantes do país, independentes das confusões do governo. Agora que as confusões do governo trazem uma complicação e uma demora muito maior para as votações na câmara, elas trazem. Dito isso, até 2020, nos próximos anos, seria muito importante que o governo federal, independente de qual for, coloque seu posicionamento para os assuntos que estão sendo discutidos e foque nos assuntos que ele considere prioritário, não essas confusões que acabam sendo feitas. Isso vai acelerar o trabalho do parlamento, que já está pronto para fazer as reformas, e vai gerar o resultado para o Brasil. É sempre um caso da semana que complica.

Esperava ser o destaque?
Eu não esperava que fosse ser tanto destaque. Naturalmente me esforçava muito e sempre desejei ter um destaque e conseguir ter relevância no Congresso Nacional, mas foi uma surpresa muito positiva por estarmos no patamar que estamos. Ganhamos dois prêmios este ano (prêmio Congresso em Foco e Ranking dos Políticos), com muita responsabilidade na câmara e influência em uma série de matérias.

Expectativa para 2020?
Nossa meta central é aprovar a agenda de desenvolvimento social até o primeiro semestre. Fazendo isso vamos dar uma resposta muito positiva para o Brasil que o momento difícil que estamos passando. É trazer uma grande rede de proteção social para as pessoas. E tem a continuidade das políticas fiscais. Não estão prontas. Tem lá aquelas três PECs que o ministro Guedes mandou para o Senado mas tem uma série de coisas que ainda precisam ser feitas para que a política fiscal brasileira seja e que a gente tenha um estado capaz de gastar bem onde mais precisa.

Como avalia a participação da bancada capixaba?
Acho muito boa. Nós temos uma bancada muito unida. Então sempre vamos juntos. Quando não são os 13, são sempre oito ou nove para fazer as demandas que o nosso estado tem. É uma bancada que, quando trata-se de Espírito Santo, esquece as divergências políticas e vai fundo mesmo, muito unida para fazer as coisas acontecerem. Fiquei feliz de encontrar e tenho grandes amigos na bancada.

Alguma decisão sobre a ação na Justiça para sair do PSB?
O processo está em andamento e não sabemos quando sai o resultado. Vamos ver, o que a Justiça disser, vou tomar as decisões após o término deste processo. Há convites de outros partidos, mas não avalio outros partidos porque o mandato não é meu para eu decidir o que fazer com ele.

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