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quarta-feira, 15 DE janeiro DE 2025

2025: crescimento sem futuro?

O atual ciclo de crescimento oferece uma oportunidade única. Mas estaremos aproveitando este momento para construir um futuro diferente?

Por Eduardo Araújo

As projeções para a economia brasileira em 2025 desenham um quadro aparentemente positivo: crescimento entre 2% e 3%, alinhado à expansão global, mercado de trabalho aquecido e setores produtivos em recuperação. Mas até quando esse crescimento se sustenta sem enfrentar questões fundamentais? Em um cenário de múltiplas pressões – inflacionárias, fiscais e estruturais – é preciso questionar se estamos realmente construindo bases para um futuro sustentável ou apenas surfando mais uma onda temporária de expansão.

O mercado de trabalho ilustra bem esse paradoxo. A taxa de desemprego em 6,2%, menor nível da última década, e a criação de mais de 750 mil empregos formais sugerem dinamismo econômico. Mas que tipo de empregos estamos gerando? Com 39% da força de trabalho na informalidade, o aparente sucesso esconde uma fragilidade estrutural que compromete a capacidade de crescimento sustentado.

O cenário externo adiciona complexidade a esse quadro incerto. A expectativa de uma nova administração nos Estados Unidos, com potencial revisão da política comercial e tributária, expõe nossa vulnerabilidade a choques externos. Mais uma vez, nos encontramos dependentes de circunstâncias que não controlamos, reflexo de décadas postergando reformas essenciais para maior autonomia econômica.

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A situação fiscal evidencia o custo dessa procrastinação. Uma dívida pública de 78,6% do PIB não é apenas um número – representa o peso de escolhas passadas que continuam limitando nosso futuro. A teoria econômica e a experiência internacional são claras: níveis elevados de endividamento público drenam recursos que poderiam financiar investimentos produtivos. O novo arcabouço fiscal, embora necessário, é suficiente para reverter essa tendência?

As pressões inflacionárias emergem como sintoma dessa estrutura fragilizada. O aquecimento do mercado de trabalho e a expansão do consumo encontram uma economia com baixa capacidade de resposta produtiva, resultado de anos de investimento insuficiente. A Selic projetada em 12% para o final de 2025 é o preço que pagamos por não termos construído uma economia mais eficiente e produtiva.

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Os números do investimento são particularmente reveladores dessa deficiência estrutural. Como esperar um futuro diferente quando investimos apenas 17,2% do PIB, enquanto países emergentes comparáveis superam 30%? A reforma tributária recente é um passo importante, mas quanto tempo levaremos para colher seus frutos se não atacarmos simultaneamente outros gargalos estruturais?

O déficit educacional talvez seja o exemplo mais dramático desse crescimento sem bases sólidas. Com 30% da população adulta apresentando dificuldades em alfabetismo funcional, alimentamos um ciclo vicioso de baixa produtividade e desigualdade. Caímos na “armadilha do desenvolvimento médio” – crescemos o suficiente para deixar a pobreza extrema, mas sem a qualidade necessária para um salto definitivo em desenvolvimento.

O atual ciclo de crescimento oferece uma oportunidade única. Mas estaremos aproveitando este momento para construir um futuro diferente ou apenas repetindo o padrão histórico de expansões sem sustentação? A janela de oportunidade está aberta, mas o tempo para ação é limitado. Talvez a questão mais relevante não seja se cresceremos em 2025, mas se esse crescimento terá futuro além do ciclo atual. A resposta dependerá menos dos indicadores conjunturais e mais da nossa capacidade de enfrentar os dilemas estruturais que há décadas limitam o potencial do país.

Eduardo Araújo é Economista, Mestre pela Universidade de Oxford, Consultor do Tesouro Estadual e Conselheiro no Conselho Federal de Economia.

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