Clóvis Vieira é economista
Vivemos um tempo difícil e de incertezas. O ano de 2015 será duro para o Brasil e desafiador para o resto do mundo. O ano passado terminou com baixo crescimento (0,2%), um dos menores dos últimos cinco anos, e inflação preocupante (6,4%), com o pessimismo se alastrando e contaminando as previsões de crescimento para o ano em curso.
Teremos uma maior austeridade fiscal norteada pela nova equipe econômica, que assumiu com o compromisso hercúleo de colocar em dia as contas do governo e de trazer a inflação para até no máximo 4,5%, no ano de 2016. Para isso, trabalha com um cenário de elevação significativa da inflação no início do ano, em linha com o reequilíbrio de preços relativos da economia, tanto nos bens administrados quanto no câmbio.
Ainda com relação à inflação, o câmbio será um fator determinante ao longo do ano, dada a depreciação ocorrida e esperada, bem como o reajuste dos preços administrados, já adotado com o fim do financiamento do consumo de energia com recursos do Tesouro, o que levará a inflação acima de 6,5% no acumulado em doze meses, para recuar apenas ao final de 2015.
Quanto à austeridade fiscal, a nova equipe econômica já tem sinalizado com o realismo tarifário, o fim do patrimonialismo, a redução dos subsídios via crédito, o inicio da elevação da TJLP, a alteração nos requisitos para concessão do auxilio desemprego e do estabelecimento de padrões mínimos para a elegibilidade do FIES. O ajuste fiscal começa corretamente pelo lado das despesas de custeio.
E o aperto continua com o governo anunciando a redução dos empréstimos subsidiados e das linhas operacionais do BNDES, buscando novas alternativas para financiamentos como incentivos a debêntures de infraestrutura, “harmonização” do tratamento tributário como a taxação das LCI e LCA, até então isentas.
Com a política fiscal de corte contracionista, a atividade em 2015 terá um cenário de desaquecimento, podendo trazer reflexos contundentes no mercado de trabalho. Com isso, a inflação de serviços poderá recuar trazendo uma espécie de alívio a todos nós, em 2016, aliado ao menor impacto dos efeitos de ajustes de preços administrados.
Para a reconquista da credibilidade, o governo se valerá de esforço conjunto da autoridade monetária e fiscal. Cabe ressaltar que o COPOM deixou claro que fará mais duas altas de 0,5%, e uma de 0,25%, com a Selic sinalizando 13% na reunião de final de abril, e dada a evolução dos esforços fiscais, será possível ao BACEN manter a taxa inalterada por algum tempo.
Quanto à taxa de câmbio, dependerá tanto das medidas que as autoridades monetárias promovam aqui, quanto daquelas tomadas pelo resto do mundo. Possivelmente nada acontecerá até o final do segundo semestre de 2015, ainda que a abundância de liquidez permaneça nos Estados Unidos, trazendo a sensação de que o FED vai agir a qualquer momento, o que contribui para a valorização do dólar diante as outras moedas.
Finalizando, percebemos que estamos caminhando na direção de uma política econômica menos criativa e mais ortodoxa, com a nítida sensação de que os seus custos estão batendo à porta e os seus resultados só serão conhecidos num horizonte mais amplo. Oxalá, ao final de 2015, tenhamos uma boa ideia do que nos reserva o futuro.