Por que trabalhamos? O trabalho é a maneira proposta pela sociedade para conseguir uma remuneração que proporcione uma vida mais digna e confortável. Além disso, trabalhamos para desenvolver uma carreira, sermos bem-sucedidos profissionalmente e felizes com aquilo que escolhemos fazer. Se antes trabalhávamos para sobreviver, hoje a lógica se inverteu e muitos estão vivendo para o trabalho e esquecendo que a vida tem muito mais a oferecer. Será que esse é o seu caso? Que tal parar e rever suas atitudes, antes que seja tarde demais?
Nos dias de hoje, qualificar-se para ter um bom emprego tornou-se o principal objetivo de vida de muitos. O sucesso é visto, cada vez mais, como sinônimo de um emprego de qualidade e uma boa remuneração. Nesse contexto, muitos são os que se dedicam exclusivamente à vida profissional, esquecendo-se de dar atenção à família, aos amigos e ao seu próprio bem-estar.
A prática do “vivo para trabalhar” tem sido a realidade de muitos profissionais, que se dedicam intensamente ao trabalho e a outras coisas que não deveriam ser, verdadeiramente, suas prioridades. Para o psiquiatra Jovino Araújo, comportamentos extremos, como o vício no trabalho e o consumismo, são grandes riscos para o ser humano. “De um lado, temos a adoção de posições fundamentalistas, radicais; de outro, encontramos o consumismo sem limites, o que é um grande exemplo da indiferença entre os seres humanos. Nos dois lados, o ser humano se afasta de si mesmo e dos outros, num rumo contrário ao sentido da vida”, enfatiza.
E Por causa da rotina intensa de trabalho, alguns profissionais acabam não tendo “tempo” para desenvolver sua vida pessoal e social, deixando de fazer muitas coisas que têm vontade. É comum, quando chegam ao final da vida, que essas pessoas percebam o quanto perderam, deixando, por exemplo, de passar mais tempo com os filhos, de ver o crescimento deles, de fazer uma caminhada na praia ou até mesmo de dedicar umas horinhas aos seus melhores amigos. “A maior herança que podemos deixar para nossos filhos é a possibilidade de viver livremente a vida afetiva. E esse ensinamento é transmitido diretamente, no cotidiano, com tempo disponível, atenção sincera, espaço para o diálogo e carinho”, ensina o psiquiatra.
Muitos até acreditam que o conceito de felicidade e bem-estar está ligado ao dinheiro, sendo por isso necessário trabalhar excessivamente para conseguir o que se deseja e tornar-se uma pessoa feliz. Segundo o diretor-executivo da Acroy Consultoria em RH, Elias Gomes, essa visão é totalmente enganosa. “Para ter êxito profissional, é necessário também ter êxito familiar, saúde, de crescimento pessoal, e não ir em busca apenas do consumo. De que adianta, por exemplo, dar a casa mais luxuosa para a sua família, sendo que você nunca poderá estar presente?”, questiona.
Equilíbrio
No entanto, ao contrário do que o mundo pós-moderno sugere, é possível sim reorganizar o tempo e conseguir manter o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. A dica é distribuir sua energia entre todos os campos de interesse, sendo que o trabalho deve ser apenas um deles. O espaço dedicado à família, aos amigos, ao crescimento espiritual, ao corpo e a todas as outras áreas deve ser reservado e preservado, sempre.
Elias Gomes explica que, para quem não consegue se desligar do trabalho, a solução pode ser determinar metas. “É importante programar que uma vez na semana vai jantar fora, ou vai levar os filhos ao cinema… A questão é abrir o calendário e marcar na agenda. Com o tempo, essas ações vão se tornando um hábito, que, depois de adquirido, não é mais desfeito”, conta Elias.
Ainda segundo o executivo, as pessoas já passam a maior parte da vida trabalhando e, por isso, é necessário se organizar para aproveitar o resto do tempo. “A maior parte da vida a pessoa passa dentro do escritório, realizando o seu trabalho. Para aproveitar o restante dela, o profissional tem que saber equilibrar todas as áreas de interesse”, aconselha.
Identificação
A questão principal é: você sabe se está passando dos limites no trabalho? Está, afinal, vivendo para trabalhar? Comece a prestar atenção nos seus principais hábitos, como o sono e a alimentação. Se o sono está alterado, para mais ou para menos, ou então se há cansaço e indisposição para o trabalho e a vida pessoal, esses podem ser sinais de alerta.
Segundo o psiquiatra Jovino Araújo, essas observações são essenciais para perceber se a pessoa está ou não se excedendo. “A rigor, o padrão de trabalho que gira em torno de jornadas semanais de 40 a 45 horas já é um limite, e deveria sempre ser respeitado. Mas se as pessoas estão sentindo cansaço e indisposição, é necessária uma mudança urgente nos hábitos”, alerta.
Outro indício de que sua vida não está tão nos eixos assim é a manifestação do estresse, que pode causar danos psicológicos, como instabilidade emocional, ansiedade e depressão; danos físicos, como enxaqueca, disfunções circulatórias e alergias; e danos sociais, como queda no desempenho profissional, ausências, entre outros.
Agora, faça uma reflexão: onde você estará quando não estiver mais trabalhando? Desfrutando de uma velhice doente e solitária? Usando as economias para cuidar do estresse causado pelas exaustivas horas trabalhadas? Lamentando não ter passado mais tempo com a família? Ou vai estar com uma mente saudável, sem remorsos, porque viveu intensamente com amigos, família e, também, com o trabalho. O conselho é: trabalhe, dedique-se e dê o seu melhor, mas não deixe de aproveitar as coisas que realmente fazem bem para você. O tempo passa rápido, e quando você menos perceber vai querer fazer coisas que já não podem mais ser feitas.