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sexta-feira, 19 abril, 2024

Um sinal de luz na economia

Indicadores mostram retomada de atividade econômica e animam especialistas; Desafio ainda é taxa elevada de desemprego

Se na política o fator Lava Jato e a própria condução do governo Temer geram dúvidas, na economia alguns indícios já começam a surtir efeitos positivos. Há quase três anos em crise, a situação brasileira no quadro financeiro começa a dar alguns sinais de recuperação, e parecem ter melhorado as expectativas em 2017.

Apesar da queda de 3,6% do PIB em 2016, configurando a pior crise já registrada na economia nacional, alguns dados indicam uma luz no fim do túnel. Os principais fatores que impulsionam a economia são uma melhora na demanda por commodities, o aumento da safra agrícola e a queda da inflação e dos juros.

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A inflação já deu mostras disso e encolheu para 4,57% nos 12 meses encerrados em março, menor nível desde setembro de 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado do ano anterior, até janeiro de 2016, esse número era bem mais alto: 10,71%.

Um sinal de luz na economia O recuo dos preços tem permitido ao Banco Central cortar juros a um ritmo mais rápido neste ano. Em fevereiro, a taxa foi de 13% para 12,25% ao ano. Foi o segundo recuo dessa proporção desde que o BC começou o ciclo de baixa da taxa básica, em outubro. O Banco Central admitiu que algumas projeções internas baseadas nas estimativas das instituições financeiras podem abrir espaço para os juros básicos caírem quase 3 pontos percentuais até o fim do ano.

Os dois fatores, de acordo com analistas, são as principais explicações para a alta na confiança de consumidores e empresários, que atinge atualmente o maior nível desde dezembro de 2014.

Um sinal de luz na economiaO índice que mede a confiança do consumidor avançou 3,5 pontos em março em relação a janeiro, conforme pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “Apesar da tendência ainda declinante do mercado de trabalho, notícias favoráveis à retomada da economia, como a desaceleração da inflação, a queda dos juros e a liberação de recursos de contas inativas do FGTS, podem levar a uma alta mais consistente das variáveis que medem a situação dos consumidores ao longo dos próximos meses”, disse em nota Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da sondagem do consumidor da FGV. Já o otimismo dos empresários da indústria subiu 3,1 pontos no Brasil e 2,3 pontos entre os industriais capixabas.

A percepção é de que o pior da crise pode estar ficando para trás. Empresários têm reportado continuamente uma melhora das condições de seu negócio. Diretor da Totvs Espírito Santo, empresa de software e tecnologia, Eduardo Couto “vê pequenos sinais de um momento mais favorável no país”, com base na melhora da confiança e nos sinais de demanda. “Em janeiro, nossos clientes já começaram a demandar mais consultas, demonstrações de como funciona o sistema e propostas para aquisição de softwares e serviços. O volume de vendas deste trimestre cresceu 30% em relação ao mesmo período do ano passado”, diz.

A empresa espera colher os frutos dos ajustes feitos no ano passado, quando teve que cortar 15% da força de trabalho, e projeta um crescimento de 20% este ano em relação ao ano passado. “Estamos trabalhando bem próximos ao limite de nossa capacidade. Se a demanda continuar crescendo, em maio já começaremos a contratar novos profissionais para atender ao mercado”, afirma Couto.

Commodities em alta

O mundo também deu uma mãozinha para a economia brasileira neste começo de ano. As vendas de minério de ferro e petróleo cresceram nos dois primeiros meses do ano, levando a balança comercial brasileira a um patamar confortável, com um superávit de US$ 7,3 bilhões. Só as vendas para a China renderam ao Brasil US$ 6,246 bilhões no período, um avanço de 94,3% em relação aos dois primeiros meses de 2016. Petróleo, minério de ferro e soja puxaram as vendas para o gigante asiático.

A recuperação dos preços das commodities (que têm cotação internacional) foi um dos fatores que contribuíram para a elevação das exportações brasileiras e, consequentemente, para o saldo positivo da balança comercial. O petróleo bruto e o minério de ferro registraram, respectivamente, alta de 75,1% e 131,7% nos preços no primeiro bimestre deste ano em relação a igual período de 2016. No começo de 2016, a tonelada do minério de ferro era negociada um pouco acima de US$ 40; neste ano tem sido vendida por mais de US$ 90. Já o volume exportado subiu 61,3%, no caso do petróleo, e caiu 3,1%, no do minério de ferro.

O saldo da balança comercial capixaba também apresentou superávit (US$ 548,3 milhões) nesse período, contra US$ 505,7 milhões em 2016. Nas exportações, o incremento foi de 7% em relação ao mesmo período de 2016, atingindo a cifra de US$ 1,2 bilhão. Os principais itens que contribuíram para o crescimento foram minério de ferro, produtos siderúrgicos e petróleo bruto.
No caso do minério de ferro, houve queda dos volumes embarcados nos dois primeiros meses do ano, mas a recuperação dos preços compensou o movimento. Entretanto, a comparação com 2016 fica comprometida porque no ano passado sua produção foi altamente impactada pela paralisação da Samarco, com uma baixa de 59% em relação a 2015. Para o petróleo bruto, houve combinação de preços melhores e volumes maiores.

Um sinal de luz na economia
Antônio Doria Porto, diretor do Ideies
Produção industrial do ES

A indústria capixaba também começou o ano com perspectivas mais fortes no horizonte, obtendo o maior desempenho do país em janeiro, com uma expansão de 4,1% na comparação com o mês anterior, segundo levantamento do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies).

É o terceiro mês consecutivo em que o Espírito Santo apresenta resultado positivo. Na comparação com janeiro de 2016, a alta é de 13,4%. No Brasil, houve queda de 0,1% em relação a dezembro.

No entanto, diante de janeiro de 2016, a atividade fabril avançou 1,4%. Mas, como o desempenho da produção capixaba foi fraco em 2016, com um recuo de 16,1% nos últimos 12 meses, na projeção do Ideies a retomada da expansão estadual só deverá ocorrer de modo consistente a partir do segundo semestre. “A expectativa é que a Samarco resolva as questões ambientais com a Prefeitura de Santa Bárbara (MG) e retorne com suas atividades ainda no segundo semestre, o que demandará maior recuperação da indústria a partir de então”, explica Antônio Doria Porto, diretor do Ideies.

A expansão deve ser puxada por alguns vieses industriais: petróleo, com previsão de alta na produção; minério de ferro, se houver a retomada da operação da Samarco no segundo semestre; naval, com novas encomendas para o Estaleiro Jurong; e metalurgia e metalmecânico, com as empresas que fornecem serviços nas áreas de óleo e gás, minério e naval.

Safra agrícola recorde

O aumento da safra agrícola também explica o maior otimismo do mercado. O cenário é bem diverso do de 2016, quando o clima provocou fortes retrações na produção.
O Brasil deve produzir em 2017 um total de 221 milhões de toneladas de grãos (arroz, milho e soja, principalmente), a maior safra da história do país. E isso movimenta toda a cadeia produtiva. Algumas análises, como a do Santander, apontam que a performance pode responder por metade do crescimento da economia brasileira neste ano. Também é um fator determinante na balança comercial. Projeções apontam que o setor agrícola vá injetar R$ 546 bilhões na economia neste ano, R$ 15 bilhões a mais do que no ano passado.

Um sinal de luz na economia
Orlando Caliman, economista
Desafios

Apesar de o movimento do mercado estar sendo impulsionado por um cenário favorável, encontra-se longe de ser uma viagem tranquila, segundo os especialistas. Alguns dos desafios são o desemprego e o endividamento ainda altos de famílias e empresas, o que freia o consumo e, portanto, a retomada do setor de serviços.

Em fevereiro, o número de pessoas que perderam o emprego já foi menor, e o Brasil voltou a gerar 35.612 vagas com carteira assinada, interrompendo 22 meses consecutivos de perdas de postos, desde março de 2015, o que foi um alívio.

Mas os números ainda são altos. Em fevereiro de 2017, o desemprego atingiu 13,5 milhões de pessoas no país, o maior valor da série histórica do IBGE. No Espírito Santo, 32.543 vagas foram fechadas nos últimos 12 meses.

A recessão corroeu ainda mais a renda do brasileiro e reduziu o seu poder de compra. Em 2016, o consumo das famílias caiu 4,2%, queda ainda maior do que a retração de 3,9% já registrada em 2015. Além de frear o consumo, o desemprego foi determinante para que a parcela de famílias com dívidas em atraso alcançasse 23,6% em 2016.

Para o economista Orlando Caliman, além de algumas variáveis que apontam para um ambiente mais favorável, como queda da inflação, redução dos juros, comportamento da economia internacional, que está trazendo de volta a força das commodities – minério de ferro, celulose e produtos do agronegócio -, observa-se que com o quadro geral e a pequena melhora no mercado de trabalho, o consumo dos gastos das famílias começa a ter uma pequena retomada. “Com uma pequena melhora no quadro, os consumidores começam a esboçar um comportamento maior em relação ao consumo”, afirma.

Entretanto, o desemprego costuma ser a última das variáveis econômicas a responder a mudanças de cenário econômico. Segundo Caliman, a confiança das empresas na recuperação tem que ser grande para voltarem a contratar. “O nível de ociosidade da estrutura produtiva ainda é muito alto. Uma retomada na produção necessariamente não acionará imediatamente o nível de emprego, pois as empresas continuarão com cautela em relação ao futuro. Tanto os consumidores como os empresários ainda estão cautelosos nos movimentos e estão à espera de sinais mais firmes”, explica.

Entre as variáveis positivas e os riscos adiante, há um consenso entre economistas de que o ritmo de recuperação e o potencial de crescimento dependem da capacidade do governo de avançar com o ajuste fiscal e a aprovação de reformas no Congresso. “As reformas previdenciária, trabalhista e tributária têm um papel importante e decisivo para a recuperação da economia, até mais do que potenciais impactos provenientes da Lava Jato. Se elas avançarem, já será um grande salto. Outro fator fundamental é que o governo deve criar condições mais favoráveis para as concessões e privatizações, viabilizando novos investimentos em infraestrutura”, observa Caliman.

Sinais devem ser analisados com cautela

Apesar disso tudo, é importante manter expectativas realistas. A queda do PIB em todos os trimestres do ano passado garante que, na melhor das hipóteses, o país terá um crescimento ínfimo do PIB neste ano. Não porque a recuperação econômica necessariamente será fraca ou lenta, mas por razões do método estatístico.

O crescimento do PIB anual é calculado somando-se o PIB dos quatro trimestres do ano e comparando-o com a soma do PIB dos quatro trimestres do ano anterior. E enquanto o PIB do Brasil ficou negativo em 3,6%, no Espírito Santo o PIB caiu 12,2%, com uma alta de 1,6% no último trimestre. É desta base menor que iniciamos 2017.

Por isso as projeções são baixas. O mercado, de acordo com o boletim Focus, aposta em um crescimento de cerca de 0,47% no PIB. Pouco, mas um alívio após dois anos de encolhimento. O importante, agora, é que as condições para a retomada do otimismo começam a virar realidade.

 A matéria acima é uma republicação da Revista ES Brasil. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi escrita.

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