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sábado, 20 abril, 2024

Renato Rodrigues

Renato Rodrigues

“Quem não souber se adaptar a esse mundo, ainda mais lotado de informação, ficará de fora da nova economia.” A afirmação, cada vez mais verdadeira nos dias atuais, é de Renato Rodrigues, editor-executivo do IDG Now!, maior site brasileiro de tecnologia, onde mantém também o blog Inova.

Vivenciando intensamente a explosão da tecnologia da informação desde 2000, quando começou a cobrir as questões relativas à Internet, Renato tem passagem pelo portal UOL e pelas revistas Connect, sobre tecnologia móvel, e Stuff, sobre gadgets e estilo de vida digital. Nesta entrevista, ele fala sobre a adaptação de pessoas, empresas e governos à nova dinâmica socioeconômica advinda da consolidação da Internet e dos desafios que ela ainda enfrenta no Brasil.

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Vivemos a era da informação, do real time. Em consequência disso, mudam-se os modos de vida e de trabalho na contemporaneidade. Quem somos, afinal, neste contexto? E o que é o trabalho, nos dias de hoje?

Acredito que somos sobreviventes. A pressão do mercado de trabalho por mais produtividade com menores custos está criando uma nova geração de paranóicos – em todos os sentidos – pela informação. Hoje, o trabalho é saber ordenar e processar um volume crescente de dados.

A mobilidade e a fluidez do trabalho (passamos de uma era de apertar parafuso das 8 às 18 horas para uma era em que surtos criativos e resolutivos podem acontecer a qualquer momento e lugar) dão nova dinâmica às relações de trabalho? As relações de trabalho mudaram muito em função dos novos tempos? Ainda vão mudar?
Sim, deveriam mudar, mas no Brasil ainda não na velocidade em que deveria ser. Conceitos como o de home office ainda esbarram na cultura corporativa que prevê o funcionário das 8 às 18 horas apertando parafusos. Eis uma barreira ainda complicada de transpor.

Levando isso em consideração, como deve ser a gestão das empresas nesse novo cenário?
Acredito que deve ser espelhada nas melhores práticas das empresas que estão liderando a revolução digital, como Google, Apple e Facebook. O que elas têm de bom? Espaço e incentivo para a criatividade, pressão por resultados com espaço para qualidade de vida e, sobretudo, recompensa – tanto financeira quanto em termos de benefícios – para quem se destaca.

Muito se discute hoje sobre a possibilidade de empregadores “vigiarem” seus funcionários nas redes sociais? Isso é válido? Se sim, por quê? O que um perfil ou uma página pode dizer sobre uma pessoa e seu comportamento corporativo?
Um funcionário pode causar muito dano à imagem da empresa se ele dedicar suas páginas e perfis em redes sociais – mesmo sendo particulares – para emitir opiniões desabonadoras sobre sua companhia e/ou seus produtos. Cabe sim às empresas vigiarem seus funcionários, mas também é fundamental que deixem bem claro – e por escrito – o que pode e o que não. Também é necessário bom senso de ambas as partes.

Há “regras de etiqueta” sobre o uso das redes sociais? O que uma pessoa pode ou não fazer para não ver manchada sua reputação profissional?
Se você está em uma rede social, chega ser ingenuidade achar que o conteúdo publicado ali será somente para os olhos de amigos íntimos. Opiniões racistas emitidas no Twitter, por exemplo, se espalham pela rede como fogo. Se você está concorrendo a uma vaga em uma empresa conservadora, não vai pegar nada bem seu Facebook ser lotado de fotos de festas com você bêbado. E por aí vai.

Com relação à “Geração Y”, qual sua opinião sobre ela?
Vai ser um desafio para as empresas acomodarem em suas culturas jovens cuja noção de hierarquia e comprometimento com uma marca são completamente diferentes daquelas praticadas pelas gerações anteriores. Esses jovens têm compromisso, em primeiro lugar, consigo mesmo.

Jovens e adolescentes mais “antenados” são, ou serão, necessariamente mais competentes? Em que medida, eles serão bons funcionários de uma empresa apenas por serem bons de tecnologia e se adaptarem rapidamente às mudanças do mundo?
Não, de maneira alguma. A grande maioria dessa geração Twitter/Facebook peca pela superficialidade, pela leitura em 140 caracteres. Vão se destacar aqueles que souberem aliar essa capacidade de se adequar a novos paradigmas com o interesse por absorver conteúdos que vão muito além dos posts em redes sociais.

Qual sua opinião sobre os sites de compras coletivas? Para o mercado e as empresas que desejam aumentar suas vendas e estenderem suas marcas, esses sites são uma boa estratégia?
Ainda é cedo para dizer. Prevejo que em alguns meses haverá uma concentração em torno de dois ou três grandes sites, com o desaparecimento dos outros. Para as empresas, eles são úteis, desde que façam parte de uma estratégia bem azeitada. O consumidor que chega pelo cupom de desconto, por exemplo, tem de ser tão bem tratado quanto o que paga o preço cheio – afinal, a ideia é que ele volte. No entanto, isso nem sempre acontece.

Qual é o panorama do mercado tecnológico no Brasil? Como estamos em relação a outros países?
No setor de tecnologia, como em praticamente todos, o Brasil possui ilhas de excelência cercadas de oceanos de atraso. Há empresas no Rio e em São Paulo, por exemplo, que estão alinhadas com o que se faz de melhor no mundo. No entanto, para a maior parte da população, tecnologia ainda é um conceito tão difuso quanto distante. O Brasil precisa acelerar a massificação de tecnologias como banda larga e acesso móvel, por exemplo. Isso sem falar nos impostos para a importação de bens de consumo, como tablets.

O Brasil é um bom lugar para uma empresa de tecnologia investir? Quais são os maiores desafios e oportunidades?
É, em termos. Os desafios são o de quase todas as empresas do país: uma carga de impostos de nível escandinavo com burocracia soviética e infraestrutura africana. Além disso, temos uma imensa fatia da população absolutamente incapaz de lidar com novas tecnologias, devido ao atraso educacional do país. No entanto, vejo oportunidades no setor de educação e no de redes móveis, cuja expansão terá de ser acelerada nos próximos anos.

O uso da Internet pelo brasileiro (que é elevadíssimo comparado a outros países) e o crescimento de redes sociais por aqui (vide o caso do Orkut e do Facebook) indicam o quê? Que há mercado para a Internet em terras tupiniquins?
Acredito que números como tempo online e total de internautas não refletem exatamente o que seria um cenário ideal. Que tipo de conteúdo a maioria das pessoas está consumindo? É só ver o tempo despendido nas tais redes sociais, que, francamente, não são nenhum exemplo de ferramenta que ajuda na ascensão pessoal e/ou profissional. A rápida adoção delas, no entanto, mostra um lado bom do brasileiro: ele é aberto a novidades e está sempre curioso por inovações, o que é bom para o setor de tecnologia.

O crescimento das empresas de tecnologia, das redes sociais e da própria Internet assusta? É algo com o qual devemos nos preocupar (há a preocupação de que não haja mais emprego, futuramente, em função da substituição do homem pela máquina) ou isso já é assunto superado entre as corporações e seus funcionários?
O crescimento da Internet é inevitável e até bem-vindo. É uma ferramenta sem igual para a disseminação de informações e de liberdade de opinião. Já o fenômeno das redes sociais ainda é recente para poder ser analisado dentro de uma perspectiva histórica respeitável. Não vejo isso ligado à substituição do homem pela máquina – na nova economia digital, na qual o Brasil precisa se incluir, máquinas jamais farão o papel do homem, ou seja, criar, inovar.

Como, afinal, se adaptar aos novos tempos?
Estando atento, sempre, ao que está acontecendo lá fora, e sempre se atualizando, estudando. A imobilidade é mortal nos dias de hoje.

Um dos setores que desponta em crescimento é a indústria de games. Como algo que parece tão supérfluo ou menor (do ponto de vista que é “só” um jogo, criado para entretenimento) pode movimentar milhões e fazer milhares de pessoas se interessarem por esse mercado?
Pouca gente fala disso, mas a indústria dos games é maior do que a do cinema. Em uma cultura em que as pessoas cada vez mais se voltam para seus lares e famílias, faz todo sentido que um entretenimento totalmente doméstico como esse esteja em franca expansão. Além disso, os consoles, cada vez mais sofisticados, hoje servem como centrais de mídia para toda a família – neles é possível ver suas fotos, ouvir músicas, ver vídeos.

Estamos falando de pessoas e empresas, mas em relação ao governo? Como ele pode se adaptar e começar de fato um ciclo de governança eletrônica? Que preocupação o Brasil tem tido nesse sentido?
Nenhuma. O Estado brasileiro tem uma estrutura medieval, com impostos punitivos, a já dita burocracia soviética, e uma inaceitável lentidão nas reformas que desatariam nós da economia. Não vejo qualquer movimentação no sentido de incentivar empresas da nova economia.
Chega a ser incrível que o país se destaque em setores como a votação eletrônica, no qual somos líderes mundiais, e na declaração do imposto de renda, também sem igual no planeta.

Para finalizar, para onde caminhamos, “tecnologicamente” falando? O que podemos esperar da evolução vertiginosa da tecnologia e do novo modus operandi que ela empreende?
Eis uma pergunta bem difícil… Se eu soubesse responder, estaria mais rico do que o Palocci! Mas eis um chute: em poucos anos, a Internet será onipresente em nossas vidas. O seu rádio-relógio vai exibir seus e-mails na parede, sua geladeira vai mostrar a previsão do tempo e a situação do trânsito, seu carro vai ler os posts no Twitter. Quem não souber se adaptar a esse mundo, ainda mais lotado de informação, ficará de fora da nova economia. É triste, mas vejo que a tendência é termos uma vida cada vez mais acelerada, principalmente nos grandes centros urbanos.

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