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sexta-feira, 29 março, 2024

Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados

Brasil precisa equilibrar contas públicas e melhorar eficiência de gestão. Maior desafio do Espírito santo será atrair investimentos

A economia brasileira enfrentou nos últimos três anos uma das mais fortes e duradouras recessões da nossa história. O período de pico da crise parece ter chegado ao fim, mas o que impressiona é a recuperação, de forma muito mais lenta do que em outras depressões brutais, como a de 1983 e a de 1992. Terminamos 2018 ainda quase 5% abaixo da nossa situação pré-turbulência. O fim da incerteza eleitoral deverá ser um impacto decisivo no direcionamento dos investimentos a partir de agora, mas ainda há grande desconfiança do mercado e pouco otimismo.

O valor do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 2016 foi 6,9% menor do que em 2014, porém já há um avanço de 1% em 2017. A estimativa da consultoria Tendências é que cresça 1,7% em 2018 e 2,9% em 2019. No entanto, esse movimento não deverá ser igual para todos os estados. Segundo a empresa, no Espírito Santo, por exemplo, o patamar ainda deverá ficar 6,9% abaixo do observado em 2014.

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Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados
Jair Bolsonaro posa com o diploma de presente da República (Agência Brasil)

A estimativa é que o PIB capixaba seja o quarto mais distante do nível pré-crise, por conta do recorde de perdas no biênio 2015/2016, em grande parte devido aos efeitos da tragédia de Mariana (MG). O resultado aponta para ser melhor apenas que o de Alagoas (nível 8,4% menor), Sergipe (-7,8%) e Pernambuco (-7,5%).

De acordo com levantamento da Tendências, todos os estados que irão apresentar uma recuperação mais rápida e expressiva estão nas regiões Norte e Centro-Oeste, impulsionados principalmente pelo agronegócio e pela mineração, além da forte exposição ao mercado externo.

Cenário político

A economista e professora da Fucape Arilda Teixeira destaca que, diante do novo cenário político que está sendo desenhado, com um militar no poder, ainda não é possível prever os impactos das decisões do presidente, Jair Bolsonaro (PSL). “Ele está montando a estrutura para governar. Por enquanto, está indo na direção certa. Mas o confronto dos momentos de decidir ainda não chegou, ou seja, a corda ainda não esticou.

Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados
Fonte: Folha de São Paulo

O futuro da economia depende do tipo de reforma que ele vai conseguir aprovar e de como conduzirá a política econômica. Retórica nunca levou país a lugar algum. O que define são atitudes”, analisa.

A especialista adverte que ainda não é possível fazer um prognóstico positivo em relação à economia nacional. “Faltam base para um crescimento sustentável e fôlego para competir. A qualificação de capital humano é insuficiente para dar ao país a produtividade necessária para alcançar a competitividade exigida para um crescimento sustentável e inserção externa”, pondera.

Para a professora, não há, por ora, infraestrutura suficiente que suporte um crescimento mais acirrado. “Nem investimento para reverter essa situação”, completa.

Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados
O Banco Central (Bacen) definiu a quero dos juros para o menor nível da história (Fotografia – Bacen)
Projeções

Arilda Teixeira aponta que as projeções para crescimento do PIB até 2023 são de taxas médias de 2,2% ao ano: “O volume de investimento em proporção ao PIB está em torno de 16,5% ao ano, e são necessários, pelo menos, 25%”. Para se ter ideia, a China investe quase 45% do seu Produto Interno Bruto; a Índia, quase 33%; México e Peru, em torno de 23%.

Essas estatísticas explicam, por exemplo, a posição do Brasil no ranking do Índice de Competitividade Global de 2018, um score de 59,5 (0 a 100). Na China, o nível é de 72,6; na Índia, de 62; na Rússia, de 65,6; e na África do Sul, de 60,8. Já na América Latina vemos México com 64,6, Colômbia com 61,6, Chile com 70,3, Peru com 61,2, e Uruguai com 62,7.

O Doing Business – relatório anual produzido pelo Banco Mundial – ratificou que o Brasil está na 125ª posição entre 190 países em facilidades para se fazer negócios, atrás de todos os seus pares no Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul – e na América Latina.

“É difícil justificar como a maior economia de uma região é a menos competitiva. Esses resultados também são efeitos da irresponsabilidade fiscal do setor público. Gerar um Estado endividado, ineficiente e caro freia a economia através de suas necessidades de financiamento e da má qualidade das decisões de política econômica. As deficiências de capital humano do país explicam-se aí. A regressividade da estrutura tributária, e tudo de negativo que reproduz, também”, observa.

Por isso, a professora afirma que equacionar o desequilíbrio fiscal será fundamental. “Mas, como isso passa necessariamente pelas reformas previdenciária, tributária e administrativa, que precisam de aprovação do Legislativo, tudo vai depender de como vão se comportar e se comprometer o Executivo e o Legislativo com o ajuste fiscal. Se tiverem juízo, aprovarão o que é necessário para o país voltar a crescer.”

Pessimismo

Também professor de Economia, Arlindo Villaschi, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), avalia com pouco otimismo o cenário para 2019. “O novo governo será subserviente aos interesses da financeirização mundializada. Podemos, sim, esperar por privatizações e que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em vez de se colocar ao lado da produção, posicione-se a favor dessas privatizações”, prevê.

Villaschi argumenta que, para a volta da expansão econômica, o BNDES deveria ser usado majoritariamente para impulsionar o lado produtivo, como obras de logística, infraestrutura e financiamento de empresas de bens e de serviço, além do apoio a negócios de pequeno e médio portes voltados para o mercado interno e para a agricultura familiar. “O modelo que foi posto nas eleições dará continuidade ao modelo que endeusa o mercado como se ele fosse a única forma de tocar a economia”, opina.

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Renato Casagrande assumiu o governo do Estado em 2019 ara o seu segundo mandato no Executivo
Economia estadual

Para Villaschi, a segunda gestão de Renato Casagrande será uma continuidade dos 12 anos de Paulo Hartung (com um mandato intermediário do governador): “conservadora e pouco determinante no sentido de negociar melhor os interesses do Estado, utilizando-se dos mecanismos que ainda estão disponíveis, como financiamento com Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) e Banestes ou mesmo qualquer tentativa de uma política social mais progressista”.

O maior desafio, segundo ele, será como os interesses das micros, pequenas e médias empresas vão se fazer representar. “Aí, será preciso cobrar uma atuação mais forte das federações e sindicatos empresariais.”

O economista acredita que 2019 não será um ano de grandes mudanças nem para o Brasil nem para o Estado. “Teremos reformas que prejudicam o funcionamento da economia produtiva e privilegiam o capital financeiro e o mercado especulativo e que dão pouca voz e vez aos interesses da população, especialmente a mais carente”, conclui.

Responsabilidade fiscal

Levantamento do jornal Folha de S.Paulo mostra que o Espírito Santo ocupa atualmente o quarto lugar na lista das unidades federativas que entregam mais resultados em saúde, educação, infraestrutura e segurança à população. Ferramenta inédita usada pelo veículo de comunicação, o REE-F (Ranking de Eficiência dos Estados – Folha) aponta o cumprimento, por parte dos governos estaduais, de funções básicas e previstas em lei, segundo seus recursos financeiros.

O Espírito Santo está entre os que menos gastam para ter médicos nos hospitais, crianças e jovens nas escolas, redes de água e esgoto, índices mais baixos de violência, entre outros aspectos que aumentam a qualidade de vida. Para Arilda Teixeira, a expectativa é que, em 2019, o Estado mantenha a responsabilidade fiscal e o compromisso de melhorar a qualidade do ensino. “Por estar com as contas públicas sob domínio, terá o controle fiscal como aliado para atrair investimentos para o Estado.” Ela lembra que a economia capixaba é pouco diversificada. Há potencial econômico timidamente explorado, como a indústria do turismo. “A melhoria da infraestrutura, principalmente de acesso, poderá atrair investimentos para o Espírito Santo”, acredita.

Se, para o Brasil, um dos maiores desafios em 2019 será reformular a estrutura de ensino para aprimorar o perfil de seu capital humano, equilibrar as contas públicas e elevar a eficiência do Estado, além de aumentar o grau de abertura e capacidade de inserção externa, para o Espírito Santo, a meta maior, segundo Arilda, será empenhar-se em atrair investimentos.

Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados
Fonte: Folha de São Paulo
Empreender é necessário

O grupo das pequenas e médias empresas foi bastante afetado pela turbulência econômica, por representar a quase totalidade dos negócios brasileiros e capixabas, 95% e 99%, respectivamente, de acordo com o Sebrae-ES, instituição que oferece apoio e suporte a essas organizações. Em 2015, por exemplo, ápice da crise, o crescimento do número de firmas que pedem falência foi maior entre aquelas de menor porte: 13,3%, conforme indicador da Serasa Experian.

Mas o que pequenos e médios empreendedores podem esperar de 2019? Quem tem vontade de investir encontrará um cenário promissor? “Podemos afirmar que sempre é hora de empreender, desde que se observem alguns princípios básicos. Para abrir um negócio e ter sucesso, é preciso oferecer condições diferenciadas daquelas já existentes no mercado. É necessário apresentar alguma inovação, algum diferencial, seja no produto, seja no serviço, seja no modelo de negócio”, recomenda o diretor técnico do Sebrae-ES, José Eugênio Vieira.

Segundo o dirigente, no mercado, em qualquer momento econômico, sempre há empresa falindo, empresa apenas se mantendo, empresa crescendo de 5% a 10% e empresa avançando muito acima desse percentual. “Depende, principalmente, de o quanto o empreendedor está preparado para entrar no mercado”, assinala.

A economia brasileira cresceu 1% em 2017 após dois anos de retração
Fonte: ONG OXFAN e IBGE
Crescimento

Sobre a possibilidade de retomada do crescimento na atividade de empreendedorismo, José Eugênio afirma que há um conjunto de reformas que precisam ser feitas, como a previdenciária, a política e a tributária. “Esta última deve ser executada para simplificar nosso sistema e melhorar a vida das empresas.”

O ambiente de negócios no país, classifica, é extremamente burocratizado, num mercado muito disputado e com recursos escassos. “E como o empreendedor vence essas dificuldades? Com planejamento, ações assertivas, decisões corretas e muito trabalho”, orienta.

A aposta é que áreas voltadas para serviços, como alimentação, principalmente fora do lar, delivery e setor de beleza, continuem a se sobressair. “Porém não há, ainda, como mensurar percentual de crescimento. Independentemente da atividade,
se tiver diferencial, seja no preço, seja na qualidade, seja no valor de entrega, o negócio irá se destacar, e o empreendedor terá mais chances de alcançar sucesso.”

Indústria

Nos últimos dois anos, a atuação dos parlamentares capixabas em Brasília foi fundamental para a aprovação de projetos essenciais à retomada da economia do Espírito Santo, segundo levantamento produzido pelo Conselho Temático de Assuntos Legislativos (Coal), da Federação das Indústrias (Findes).

Interesses do Espírito Santo terão de ser mais bem negociados
O volume de projetos no Estado para os próximos anos, com participação da iniciativa privada, totaliza cerca de R$ 18 milhões

Na avaliação do presidente do Sistema Findes, Léo de Castro, será necessário muito mais empenho de nossos deputados e senadores nesta nova fase política. Ele reitera que, além da atenção ao Executivo, vai ser preciso, sobretudo, posição incisiva da bancada em pautas cruciais à geração de emprego e ao desenvolvimento socioeconômico. “Os parlamentares terão de decidir pelas reformas e pela aprovação do Cadastro Positivo, do distrato imobiliário e do Gás Para Crescer”, cita.

O industrial acrescenta que será fundamental cobrar dos parlamentares capixabas mais compromisso “com a agenda modernizadora que vai promover um país melhor para todos”. Consequentemente, concluiu, isso se refletirá de forma positiva
no Espírito Santo.

Entre os avanços registrados, o dirigente cita as mudanças no pré-sal, por meio do fortalecimento dos leilões da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANP), que resultaram em novas perspectivas a essa cadeia no Estado. “A participação da iniciativa privada ampliou o volume de projetos, totalizando R$ 18 bilhões em investimentos previstos para o setor nos próximos anos em terras capixabas, irradiando oportunidades em nossa economia.”

O empresário é contundente ao apontar a força da iniciativa privada como fundamental à melhoria do ambiente de negócios, uma vez que são as empresas que criam empregos. “Sem a força do setor produtivo, não há economia que se desenvolva.”

No dia 26 de novembro, Léo de Castro assumiu a presidência do Conselho Temático de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico (Copin) da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na ocasião, o grupo debateu propostas para os primeiros 100 dias da nova equipe do governo federal, como a continuidade das políticas industriais e a atuação desenvolvimentista do BNDES.

A CNI preparou para o Executivo a “Agenda dos 100 Dias”, listando 36 propostas urgências em 10 áreas centrais. Entre as prioridades apontadas no documento estão o equilíbrio fiscal, a reforma da Previdência e a melhoria do ambiente de negócios, vinculada à simplificação do regime tributário. “Temos de preservar os acertos, identificar o investimento feito para apoiar pequenas e médias empresas e dar continuidade ao esforço de financiamento do setor”, enfatizou Castro.

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