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terça-feira, 19 março, 2024

Riscos (e oportunidades) da desglobalização para o Brasil

Há mais malefícios que pontos positivos na tendência à desglobalização que hoje se aprofunda no mundo todo.

Por um lado, se o consumidor está acostumado a comprar um brinquedo no Vietnã por uma fração de custo, ele provavelmente está tirando posto de trabalho de alguém que faria esse produto no Brasil ou nos EUA. Por outro, esse mesmo consumidor é compensado com um bem muito mais barato.

Essa dinâmica permite uma melhora na eficiência da economia. Aquelas pessoas que produziriam o tal brinquedo em países de maior custo relativo poderiam ser (re) treinadas para fazer outras coisas em que o país tenha mais vantagens comparativas.

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Vamos supor que essa retórica desglobalizadora vingue cada vez mais nos EUA e na Europa. O resultado disso será inflação no mundo. Aumentos no custo de produção dos bens serão repassados aos consumidores. Maior inflação convidará a políticas monetárias mais apertadas. E eventualmente políticas comerciais ainda mais protecionistas.

Ora, como fica o Brasil nesse cenário? Na área fundamental da globalização que é o comércio exterior, o Brasil é um dos países isolados do mundo. Alguns dizem que é o país mais fechado do mundo se desconsiderarmos Coreia do Norte, Cuba e Venezuela.

E isso não é só problema que emergiu do longo período petista. Do Descobrimento ao Brasil do século 21, raramente temos mais do que 25% do PIB resultantes da soma de valores de exportação e importação.

Depois de ter passado por uma experiência nacional-desenvolvimentista nos últimos 13 anos, em que se manteve o país fechado, o Brasil resolveu se abrir. Nesse momento, contudo, o mundo está com mais portas fechadas.

Há, no entanto, algumas boas oportunidades. Acordos entre países latino-americanos e europeus têm agora boa chance de sair do papel. Os europeus comunitários estão ávidos por tais tratativas, pois querem mostrar que a saída dos britânicos da União Europeia não abalará o bloco.

Com os EUA de Donald Trump, pergunta-se, o cenário comercial para o Brasil fica ainda pior? Nosso país não será muito afetado por políticas mais protecionistas da Casa Branca. Isso é bom, mas pelas razões erradas.

O Brasil é dos poucos países que consegue a façanha de acumular sucessivos déficits comerciais com os EUA. Isso faz com que nós não estejamos na tela de radar protecionista de Trump como México ou China.

Isso significa que aumentaremos as exportações para os EUA? Não necessariamente, com possível exceção das commodities minerais. Se nestes próximos quatro anos Trump for de fato agressivo na questão da infraestrutura, isso vai jogar o preço das matérias-primas minerais lá para cima.

Em outras regiões do mundo, também é forçoso reconhecer que a situação não está necessariamente ruim para nós. O Sudeste Asiático cresce de forma robusta e desloca para cima a curva de demanda por alimentos. E, nesse particular, destacam-se nossas relações econômicas com a China.

Tal intercâmbio já é volumoso, sobretudo se levarmos em consideração o histórico dos últimos 15 anos, em que um comércio bilateral de US$ 1 bilhão foi alçado a US$ 80 bilhões.

Quando, no entanto, examinamos de perto a composição de nossas exportações à China, basicamente enxergamos minério-de-ferro, complexo soja e alguns outros poucos bens de baixo valor agregado. E, no fluxo de exportações chinesas para o Brasil veem-se máquinas, satélites, computadores.

Nunca é demais repisar um dado estarrecedor: uma tonelada de produto brasileiro exportado para a China vale US$ 200. Uma tonelada de produto chinês exportado para o Brasil vale US$ 3 mil. Há, então, um desequilíbrio estrutural na balança comercial Brasil-China que não vai mudar porque os EUA se fecharam.

Ainda que o cenário externo esteja mais desafiador, nossos problemas internos —falta de estratégia, coordenação e ambiente para se concentrar nos grandes temas do desenvolvimento— continuam sendo os principais determinantes de nossa baixa participação no comércio global.


Marcos Troyjo é Economista e cientista político

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