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sexta-feira, 19 abril, 2024

O Calvário da Integridade

Recentemente, o Brasil assistiu a um verdadeiro desmonte de reputações. Pessoal e institucional; pública e privada. O fogo da depuração ética não poupou recônditos por mais ocultos que estivessem. Uma questão veio à baila: a integridade não é como uma política corporativa, que se pendura na parede e aquilo parece blindar a instituição eternamente. Não! Integridade precisa de cultivo e muito cuidado.

Na amplitude de seu sentido, abrange desde a ética e a transparência em si, transações comerciais e financeiras, relacionamento externo e interno, até o trato humano na relação capital x trabalho. Bem da verdade, quando a integridade é ferida, normalmente houve escorregão na combinação dinheiro, sexo e poder. Mas ela é muito mais que isso. Atualmente, até um estilo de liderança pernicioso suscita discussões à órbita do conceito de integridade.

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Imagine alguém que mande cortar, irresponsavelmente, custos de manutenção de equipamentos em uma atividade de risco, e, paradoxalmente, exige estabilidade operacional, assim como segurança do trabalho e qualidade de vida entre seus liderados e servidores outros. Inclusive terceiros.  Essa não é uma atitude íntegra.

E tampouco moral. A questão da integridade tem evoluído muito e já não se pensa a gestão – pública, privada ou no terceiro setor – da mesma forma. Se o produtor de insumos está no além-mar, mas desconsidera questões ambientais, escraviza adultos ou explora crianças, a chance de uma marca explodir ou de um CEO ser responsabilizado é cada vez maior, em um cenário de crescente transparência tecnológica. Até porque não precisa de delação premiada para algum insatisfeito trazer provas a público.

E se os responsáveis não estão atentos a isso, a polícia e os órgãos responsáveis estão de olhos bem abertos. Já não é possível transferir responsabilidades nem economizar em práticas fraudulentas. Comprar produtos piratas, manter água parada ou jogar o lixo fora do coletor já compreende faltas graves. Explorar para prosperar está tão fora de moda quanto achar que ainda existe “mercado” como nós o compreendíamos.

Lealdade de cliente hoje é tão volátil quanto a duração de uma inovação no tempo, antes de ser copiada e virar commodity. A ganância começa a entrar na mira das reflexões sobre desigualdade social. A moralidade não é esperada apenas dos que se postam como líderes, pois conduta é uma coisa exigida de qualquer cidadão.

As regras estão ficando densas para os que ignoram câmeras nos tetos, microfones nos bolsos e olhos em um universo de possibilidade de registro. Por isso, para muitos, a era da integridade foi, está sendo ou será um grande tormento. Considerando que somos todos humanos e sujeitos aos mais impensáveis escorregões, urge que respeitemos a Lei e cuidemos do aprimoramento de nosso senso moral.

O velho “orai e vigiai” nunca esteve tão na moda. Apenas para abordar as questões visíveis da gestão, pois a contar pela complexidade da quântica existencial, a mais infalível e dura das justiças pode estar muito além dos homens.

Sidemberg Rodrigues é escritor, mestre em Sociologia, MBA em Gestão e membro da Academia Brasileira de Direitos Humanos

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