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sexta-feira, 19 abril, 2024

Natália Gaudio

* Por Yasmin Vilhena – Conteúdo da Revista Samp – Produzida pela Línea Publicações (Next Editorial)

Considerada uma das grandes revelações da ginástica rítmica brasileira, a capixaba Natália Gaudio faz parte do seleto grupo de atletas que estão em busca da tão sonhada medalha olímpica nos Jogos Rio-2016. Treinando de maneira intensa para mostrar todo o seu talento à torcida brasileira, ela revela que está confiante para a competição e que espera que o país possa fazer bonito no maior evento esportivo do mundo.

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Como estão as suas expectativas para as Olimpíadas Rio-2016? Podemos esperar uma medalha na ginástica rítmica?
Eu sempre busco sonhar com os pés no chão. Infelizmente a ginástica rítmica ainda é um esporte que não é muito valorizado e conhecido no Brasil e, para melhorar, precisamos mudar muitas questões, como a falta de investimento e de estrutura necessária para que um atleta possa treinar. Nesse sentido, o que posso dizer é que o meu maior objetivo nessas Olimpíadas é mostrar que estamos evoluindo muito e que o Brasil tem condições de chegar lá. Mas é claro que para que, isso ocorra, precisamos de muito apoio. Conquistei a vaga com muita força e coragem e dei a minha “cara a tapa” para enfrentar todas as dificuldades e problemas. Tive que fazer vaquinha para viajar e arcar com as despesas, que por muitas vezes saíram do meu próprio bolso. Graças a Deus tenho a ajuda da Samp como patrocinadora, desde 2008, pois se eu não tivesse esse apoio, não teria chegado aonde cheguei.

Você terá a oportunidade de disputar uma Olimpíada dentro de casa e com o apoio da torcida, uma realidade que muitos atletas não conseguem vivenciar em suas carreiras. Como se sente em relação a isso?
Eu acho que é uma dupla realização, pois sempre sonhei participar de uma Olimpíada e ainda vou ter a chance de fazer isso dentro de casa. É uma felicidade em dobro, que vou poder compartilhar com meus amigos e minha família, que vão estar pertinho torcendo por mim e curtindo esse momento comigo. Vai ser incrível ver todo esse apoio por parte da torcida.

Por mais que o apoio esteja presente por parte de todos os brasileiros, acha que a pressão também aumenta?
Mesmo existindo essa pressão, eu sei lidar muito bem com isso tudo. Ainda existem muitas pessoas alienadas em relação ao esporte. Tem até uma charge que eu gosto bastante que fala exatamente sobre isso, pois a vida inteira o atleta batalha sozinho e sem apoio, e quando ele consegue participar de uma competição como essa, depois de muito suor, as pessoas chegam e começam a cobrar medalha. Tão importante quanto ganhar uma medalha é poder mostrar a evolução do esporte nesses últimos anos. Quero deixar um legado na ginástica rítmica que não necessariamente pode ser conquistado com uma medalha. Se eu fizer a minha parte, mostrando que trabalhei muito para estar lá, as pessoas vão reconhecer o meu trabalho, e isso já é muito importante.

Em junho do ano passado, você desbancou sua concorrente direta para as vagas nas Olimpíadas, ao conquistar pela quarta vez o título de campeã brasileira de ginástica rítmica em Vitória. Como foi subir no ponto mais alto do pódio em solo capixaba?
Quando eu estou em casa e na minha cidade, me sinto mais tranquila para entrar na quadra. O atleta acaba ficando mais confiante ao sentir de perto o calor da torcida gritando o seu nome. Eu sabia que essa era uma pré-disputa do mundial – que estava chegando assim como o Pan de Toronto –, o que fez com que mostrasse ainda mais o meu potencial, deixando claro para todos que eu estava treinando muito para ganhar essa vaga. Foi ótimo conquistar essa medalha no Espírito Santo. Fiquei muito feliz.

A rotina de treinamentos e o foco fazem com que uma equipe acabe se tornando uma família? Além das suas companheiras de ginástica, você costuma ter uma troca legal com competidores de outros esportes?
Somos uma grande família dentro da minha equipe; afinal, convivemos mais com quem está dentro do ginásio do que com quem está fora dele. Passamos horas viajando e treinando, e isso faz com que a gente realmente se considere como uma família. Nas competições, também temos a oportunidade de fazer amizade com atletas de outros esportes. Mas é claro que no Pan e nas Olimpíadas dá para matar a saudade e ainda fazer novas amizades.

Mesmo que não tenha vindo uma colocação entre os três primeiros lugares no Pan-Americano de Toronto, valeu a experiência? Acha que a competição serviu para você se preparar ainda mais para as Olimpíadas?
Foi essencial. Lógico que na hora eu fiquei bastante chateada com o resultado, porque realmente esperava conquistar uma medalha, mas bateu na trave. Fiquei em 4º lugar no arco, sendo que no primeiro dia eu estava em 2º. Recebi muitas mensagens de apoio de pessoas de diversas partes do mundo que falaram que eu merecia mais e que as minhas notas foram um pouco injustas. Um ponto que eu acho que pode ter pesado bastante nesse resultado é que nessa competição eu não tive a companhia da minha técnica; tive que ficar apenas com a técnica da Angélica (Kvieczynski), porque só poderia ir uma e, no caso, eles a escolheram. Imagine só ter uma pessoa treinando você a vida inteira e estar numa competição sem ela do seu lado para lhe dar apoio e incentivo? Quando estou com minha técnica, parece que a minha força aumenta e que ela entra junto comigo na quadra. Mas acho que toda essa experiência serviu para eu dar aquela “acordada” de que o Mundial estava chegando e que eu precisava treinar ainda mais.

A sua participação no mundial de Stuttgart foi bastante especial, pois foi na competição que você conseguiu conquistar a vaga para o Rio-2016. Ao ver o resultado, a sensação foi de dever cumprido?
Eu fiquei meio que “fora do ar” bastante tempo, parece que a ficha demorava a cair. Gostei muito da minha participação e acredito que tenha feito uma competição impecável e sem erros. Toda essa satisfação, aliada à conquista da vaga, me trouxe uma sensação única e inexplicável. Parecia que estava vivendo um sonho. Acho que a ficha só caiu mesmo quando eu cheguei ao Brasil e vi toda a recepção da torcida. Foi maravilhoso.

No ano passado, muitos competidores passaram por dificuldades financeiras, por conta de fatores como o corte do Bolsa Atleta. Podemos dizer que esse foi um grande desafio a ser superado?
Com certeza, esse foi um desafio enorme, até porque no ano passado nós também perdemos o programa do Estado que tínhamos havia muitos anos, que era o Compete, um projeto que cedia as passagens para a gente poder viajar e competir. E as viagens são uma das partes mais caras do esporte, ainda mais na ginástica rítmica, em que a maioria das competições acontece na Europa. Mas em nenhum momento desanimei, pois acredito que cada vez que surge um obstáculo na minha frente é para eu me tornar ainda mais forte. É preciso ter foco, fé, e ir em frente.

Para finalizar a entrevista, qual o recado que você gostaria de deixar para os atletas que estão começando suas carreiras?
Acredito muito naquela frase que fala que nem sempre o mais forte vence a batalha e o mais rápido vence a corrida. Para mim, temos que apostar sempre no mais sábio. Ou seja, para você ser campeão, não adianta ter só essas características; é preciso ter talento e também inteligência para saber lidar com o esporte, cuidar do corpo e até mesmo saber a hora certa de treinar para evitar uma lesão, por exemplo. Os mais sábios tendem a sair na frente.

Entrevista concedida para a Revista Samp, edição 32, com produção editorial Línea Publicações (Next Editorial)
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