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sexta-feira, 19 abril, 2024

Morre, aos 86 anos, Ferreira Gullar

Dois anos após se tornar imortal pela Academia Brasileira de Letras, Fernando Gullar deixa a poesia brasileira triste neste domingo.

O poeta, dramaturgo, crítico de arte, ensaísta, tradutor, biógrafo e memorista maranhense José Ribamar Ferreira, mais conhecido como Ferreira Gullar, morreu neste domingo, por volta das 11h, aos 86 anos. Gullar internado há 20 dias, no Hospital Copa D’Or, com complicações pulmonares. O velório teve início na noite deste domingo, na Biblioteca Nacional, e continuará nesta segunda-feira (05), desde as 9h, quando o corpo foi levado para a sede da Academia Brasileira de Letras (ABL).

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Segundo relato do jornalista Zuenir Ventura, que esteve com o escritor e sua família no hospital nos últimos dias, o poeta estava consciente da gravidade de seu estado de saúde e decidiu não mais prolongar sua vida por meio de aparelhos. 

Trajetória

Um dos fundadores do neoconcretismo, o poeta participou de todos os acontecimentos mais importantes da poesia brasileira. Nascido no dia 10 de setembro de 1930, em São Luiz, no Maranhão, José Ribamar Ferreira foi o quarto dos 11 filhos do casal Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. E foi lá que ao ter contato com a poesia de Gonçalves Dias, Olavo Bilac e Raimundo Correia que decidiu se enveredar pelas palavras. Se mudou, no início da década de 1950, para o Rio de Janeiro, onde conheceu o crítico de arte Mário Pedrosa e buscou introduzir na sua poesia as novas leituras: Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes, entre outros.  

Morre, aos 86 anos, Ferreira GullarFerreira Gullar no exílio argentino, em 1975, por conta da ditadura militar em pleno vigor no Brasil

Em 1956, participou da exposição concretista, considerada o marco oficial do início da poesia concreta. Em 1959, com Lígia Clark e Hélio Oiticica, fundou o neoconcretismo, que valoriza a expressão e a subjetividade em oposição ao concretismo ortodoxo. 

Na década de 1970, durante a ditadura militar, viveu na União Soviética, na Argentina e Chile. Militante do Partido Comunista, manteve exilado até 1977, quando retornou ao Brasil e foi preso por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) no dia seguinte ao desembarque, no Rio. Foi libertado depois de 72 horas de interrogatório, graças à intervenção de amigos junto a autoridades do regime. Depois disso, retornou aos poucos às atividades de critico, escritor e jornalista.

Morre, aos 86 anos, Ferreira GullarGullar em seu discurso de posse na ABL, no dia 05 de dezembro de  2014, quando passou a ocupar a cadeira nº 37. 

Eleito em 2014 para a Academia Brasileira de Letras, colecionava uma vasta lista de prêmios. Em 2002, foi indicado por nove professores dos Estados Unidos, do Brasil e de Portugal para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, seu livro “Resmungos” ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano. A obra, editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, reúne crônicas de Gullar publicadas no jornal Folha de S.Paulo ao longo de 2005.

“… e como minha vida tem se caracterizado, não pelo previsível, mas pelo inesperado, ao decidir-me pela candidatura a que nunca aspirei, não fiz mais do que agir como sempre agi, ou seja, optar pelo imprevisível. E, por isso mesmo, aqui estou, feliz da vida, uma vez que, aos 84 anos de idade, começo uma nova aventura, tomo um rumo inesperado que a algum lugar desconhecido há de levar-me. Pode alguém se espantar ao me ouvir dizer que posso encontrar o novo nesta Casa, que é o reduto mesmo da tradição. E pode ser que esteja certo. Não obstante, como a vida é inventada, em qualquer lugar e em qualquer momento, algo inesperado pode acontecer. Espero que aconteça, mas que seja uma surpresa boa”, disse em seu discurso de posse na ABL, no dia 05 de dezembro de 2014, quando foi recebido pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin. 

 

 

 

 

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