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sexta-feira, 19 abril, 2024

Mobilidade Urbana: iniciativas simples podem reduzir o caos

Mobilidade Urbana: iniciativas simples podem reduzir o caosOs dados assustam quando comparados ao ano de 2001: a frota de Vila Velha subiu 87% e a da capital, 60%. No Estado, a frota atual é de 1,2 milhão de veículos, o que contribui para transformar o trânsito capixaba numa aventura imprevisível.

Na hora do rush, a velocidade na avenida Saturnino de Brito, na Praia do Canto, por exemplo, dificilmente ultrapassa 20 quilômetros por hora. Isso se nenhum carro enguiçar. “Só diante do McDonald’s, no entroncamento das avenidas Desembargador Santos Neves com Saturnino de Brito, passam diariamente 90 mil veículos nas duas vias”, afirma o analista de trânsito da capital, Roney Costa Severo.

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Em 2018, a frota ultrapassará 1,1 milhão de veículos na Região Metropolitana, segundo o Detran, o que representa um crescimento de 132%.

A questão é intermunicipal e afeta moradores de Cariacica, Vila Velha, Serra e Vitória. Os gargalos se encontram próximos às divisas entre os quatro municípios e prejudicam todo o sistema de acesso à região central da capital, que acaba recebendo um fluxo de veículos três vezes maior que sua frota. Os engarrafamentos, então, se estendem além de seus limites. Só de Cariacica e de Vila Velha, vindos da Segunda Ponte, entram 42 mil veículos por dia em Vitória. Pela Terceira Ponte, já trafegam 70 mil veículos/dia.

Maiores soluções não são milionárias

Além do excesso de veículos, o trânsito de Vitória sofre influência direta do excesso de semáforos e de obras nas vias, da falta de sincronia dos sinais, dos retornos mal planejados, do falta de bom senso por parte dos motoristas e da falta de faixas exclusivas para o transporte coletivo.

Mas as soluções não se restringem às edificações estruturantes. É inquestionável a melhoria com grandes obras viárias, como pontes, metrôs e viadutos, mas alternativas precisam vir antes, em virtude do crescimento abrupto que a cidade experimentou ao longo dos anos. Em duas décadas, a população da Região Metropolitana mais que dobrou. Inflada pelo crescimento econômico e industrial, saltou de 706 mil habitantes em 1980 para 1,7 milhão em 2009. E o último grande investimento feito na Grande Vitória com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana foi a Terceira Ponte – isso, há 21 anos (em 1989).

Boas soluções, hoje, não são necessariamente milionárias. Curitiba é um exemplo disso. A administração não fez nenhuma obra faraônica. Nem viadutos ou metrôs. Suas iniciativas foram singelas e relativamente baratas. “O segredo de Curitiba é a simplicidade”, explica Jaime Lerner, que foi prefeito da cidade e ex-governador do Paraná. Para o urbanista, que implantou o sistema de corredores exclusivos para ônibus na cidade, o futuro das grandes metrópoles brasileiras não está no metrô. Em vez de procurar saída no subsolo, Lerner propõe a redescoberta da superfície, a integração dos sistemas de transporte.
Corredor exclusivo só daqui a seis ou oito anos

Enquanto não houver uma política de mobilidade que desencoraje o automóvel e priorize o transporte coletivo, a solução será mais demorada. “Ninguém muda se não houver uma alternativa melhor. Hoje, em Curitiba, 25% das pessoas que têm automóvel usam o transporte coletivo”, explica Lerner. A Região Metropolitana aposta na melhoria do trânsito com o projeto para implantar os corredores exclusivos para ônibus. Mas este ainda não tem data para ser implantado. O secretário estadual de Transportes, Neivaldo Bragato, estima que vá levar de seis a oito anos, por conta das intervenções urbanas a serem realizadas.

A implantação dos corredores promete acabar com a superlotação dos coletivos e encurtar o tempo de viagem dos passageiros, segundo a subsecretária estadual de Mobilidade Urbana, Luciene Becacici. Isso será possível com a operação do sistema BRT (em inglês, Bus Rapid Transit) nos municípios da Grande Vitória. Lerner, que apresentou o BRT em Vitória, disse que o custo do sistema é 20 vezes menor do que um metrô de superfície. “Cada cidade tem uma característica, mas acredito que é possível melhorar a mobilidade urbana de um lugar rapidamente. O importante é começar”, disse. A primeira etapa terá 52 km de extensão e investimento de R$ 800 milhões. No total, serão 102 km de vias.

Excesso de semáforos

Não são apenas obras caras e ideias radicais que amenizam o caos no trânsito. Iniciativas simples, inteligentes e baratas podem causar efeitos imediatos nos engarrafamentos. Uma delas é a questão dos semáforos. Apesar de não ser a cidade brasileira com maior número de luminosos por quilômetro quadrado, Vitória sofre com o excesso deles. Há, em média, um semáforo a cada 1,9 quilômetros. Mas em algumas vias, como na avenida Saturnino de Brito, há sinais a cada 100 metros. Na Nossa Senhora dos Navegantes, há semáforos a cada 50 metros. “Não adianta fazer só a faixa exclusiva para ônibus se todas as etapas não estiverem funcionando com excelente qualidade. De nada vai adiantar embarcar rápido se uma avenida tiver muito sinal”, alerta Jaime Lener em relação à futura implantação dos corredores exclusivos.

Para testar a quantidade de semáforos, o tempo percorrido, distância e a velocidade de umas das principais vias da cidade, a reportagem da ES Brasil foi às ruas. O teste foi realizado numa quarta-feira, iniciando-se às 18h20 a partir da Ponte de Camburi, passando pela avenida Nossa Senhora dos Navegantes, até o Clube Álvares Cabral, na avenida Marechal Mascarenhas de Moraes. São 22 semáforos em 5,1 quilômetros de via, o que resultou numa distância média de 231 metros entre eles, fazendo, consequentemente, com que o trânsito fluísse tão lentamente que o sinal chega a fechar duas vezes antes que o carro consiga atravessar o trecho.

Vitória tem, ao todo, 182 cruzamentos com semáforos e 350 km de vias. Para o secretário de Trânsito da cidade, Fabio Ney Damasceno, a quantidade é suficiente para controlar uma frota de cerca de 550 mil veículos da cidade e de municípios vizinhos, que circulam diariamente pela Capital. “Vitória é uma cidade com um sistema viário restrito. Mas ela evolui e a quantidade pode mudar”, afirma. Ele defende que o semáforo é um dos equipamentos necessários para melhorar a fluidez do trânsito. “A quantidade de sinais não tem relação direta com a extensão das vias, mas com a quantidade de veículos que circulam por elas, o volume de pedestres, o índice de acidentes, as infrações do trânsito e a velocidade”, justifica.

Em Vila Velha, porém, o número de cruzamentos com semáforos é bem menor, principalmente se comparado ao tamanho da cidade – o dobro da capital. São 137 deles em toda a cidade, além de outros 16 sob responsabilidade da Rodosol e sete na Darly Santos, do DER. Na Serra, o número é menor ainda. São 42 cruzamentos com semáforos, numa extensão cinco vezes maior que Vitória – de 552 km². “É preciso repensar o trânsito e os cruzamentos nas principais avenidas para evitar que a cidade, já estrangulada, dificulte ainda mais a vida do motorista. A solução não está em instalar semáforos, mas, por exemplo, em criar passarelas para pedestres”, afirma Rodrigo Rosa, doutor em Transportes e professor da Ufes.

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Na avenida Saturnino de Brito, da Ponte de Camburi, passando pela avenida Nossa Senhora. dos Navegantes, até o Clube Álvares Cabral, na Marechal Mascarenhas de Moraes.

Horário: 18h20
Velocidade média: 15 a 30 km/h
Semáforos: 22
Distância média entre os semáforos: 231 metros
Distância: 5.100 quilômetros
Tempo gasto: 20 minutos
Retornos: Um retorno (para entrar na Ilha do Frade). A cerca de 100 metros, é possível retornar no Posto BR, no entroncamento das avenidas Desembargador Santos Neves e Saturnino de Brito.
Fluxo de veículos: A prefeitura só mede o trecho da Ponte de Camburi até a Leitão da Silva. Atualmente, passam cerca de 90 mil veículos diários, nos dois sentidos da via. No horário de pico, são 3,6 mil veículos/ hora.[/important]

Pequenas medidas, grandes impactos

Não é só a quantidade de sinais que atrapalha o trânsito em Vitória e nos municípios vizinhos. Os semáforos inteligentes, que abrem e fecham de acordo com a intensidade do tráfego, são alvo de reclamação de muitos motoristas, já que não funcionam bem em muitos pontos, o que compromete a fluidez do tráfego.
“O problema da Grande Vitória é que não existe gestão do tráfego. Uma medida que resolveria grande parte dos problemas seria deixar os sinais amarelos nos horários de pico e os guardas gerindo o trânsito. Na hora em que houver uma certa quantidade de pedestre para atravessar as pistas, o guarda para o trânsito para eles atravessarem”, explica Rosa.

Também o sistema de “ondas verdes”, que agiliza o trânsito com a abertura simultânea dos semáforos em um mesmo corredor, não está instalado em todas as principais vias da Região Metropolitana, e em algumas, não funciona como deveria. É o caso da avenida Leitão da Silva. Lá, existe o sistema, mas em alguns cruzamentos os engarrafamentos continuam ocorrendo.

Em Vitória, apenas um em cada oito semáforos é “inteligente”. São 21, mas o número é considerado insuficiente. Em Vila Velha, de acordo com o secretário de Trânsito, Bruno Lorenzutti, são 73 semáforos inteligentes. Na Serra, não existem semáforos inteligentes, mas quatro corredores funcionam com a sincronia de “onda verde”. Eles ficam nas avenidas Norte-Sul e na região do Civit. “Se todos os pontos críticos da cidade fossem monitorados, o alívio já seria grande”, afirma Rosa. Mas pouco adianta ter sinais com “QI” se um carro quebrado bloqueia a rua e a central de monitoramento não consegue detectá-lo. É aí que entram as câmeras de TV, que flagram obstáculos e infrações e ajudam a atender mais rapidamente acidentes, carros quebrados e veículos estacionados irregularmente.

Em Vitória, há apenas uma câmera para monitorar o trânsito que vai da Ponte de Camburi até a avenida Leitão da Silva. A prefeitura vai abrir edital para instalar uma central de operação em junho e, na primeira etapa, vão funcionar cinco câmeras. O projeto é instalar entre 20 e 30 equipamentos. Em Vila Velha, 60 câmeras foram instaladas e começaram a ser usadas em abril deste ano. As câmeras vão monitorar o bairro da Glória, o centro de Vila Velha, orla e as avenidas Hugo Musso e Luciano das Neves. Na Serra, o recurso é usado desde o ano passado. São 25 câmeras, cuja instalação será concluída em maio. Até o final do ano, haverá outras 25. De acordo com o secretário de Defesa Social, Joel Lyrio Junior, essa visualização do trânsito ajuda a suprir a deficiência no número de agentes de trânsito do município. “Estamos preparando um edital para contratar mais 40 agentes de trânsito”, afirma ele.

[important color=blue title=Câmeras de TV]

  • Vitória – Há apenas uma câmera para monitorar o trânsito: da Ponte de Camburi até a avenida Leitão da Silva. A prefeitura vai instalar mais cinco câmeras até o final do ano.
  • Vila Velha – Sessenta câmeras foram instaladas e começaram a ser usadas em abril deste ano.
  • Serra – O recurso é usado desde o ano passado. São 25 câmeras, cuja instalação termina em maio. Até o final do ano, serão mais 25. [/important]

Prejuízos econômicos na região

O País tem uma perda de 5% na sua produtividade por conta do sistema ineficiente de tráfego. Isso corresponde a bilhões de reais que poderiam ser convertidos em novos negócios – e que não são concretizados devido aos problemas no trânsito. “Enquanto as autoridades e o poder público não encararem a mobilidade urbana como desvantagem ou vantagem logística para o desenvolvimento da metrópole, isso não vai ter solução”, afirma o consultor em planejamento urbano Antonio Chalub.

Segundo ele, quanto maior o tempo de deslocamento das pessoas, menor a qualidade de vida do cidadão e maior o prejuízo econômico da região. “Há 10 anos, a média do tempo de deslocamento de uma pessoa era em torno de 20 minutos. Hoje, o tempo é de cerca de 90 minutos”, afirma. Entre os custos que geram prejuízo estão o desperdício de combustível, o aumento da poluição, a perda da produtividade, redução nos investimentos e na competitividade (os problemas no trânsito aumentam o custo de produção das empresas). Já na saúde do trabalhador, a poluição gerada pelos veículos e o tempo de exposição, em decorrência dos congestionamentos, resultam no aumento do número de consultas em unidades de pronto-atendimento e internações hospitalares.

Para Chalhub, o maior desafio é articular os gestores públicos em torno do tema. “Na prática, falta integração na gestão da mobilidade. Os planos diretores urbanos da Grande Vitória não estão integrados. O trânsito é tratado de forma independente, o que não deveria acontecer. O sistema viário da Grande Vitória está defasado mais de 20 anos. A solução seria o Governo do Estado ficar como o gestor central do tema e as prefeituras como coadjuvantes”, conclui.

Infrações contribuem para o caos no trânsito

A van fecha o cruzamento, o ônibus avança o sinal e o motorista para em fila dupla para o filho descer na porta da escola. Há uma indisciplina cada vez maior no trânsito da Grande Vitória, provocando congestionamentos e acidentes. Para especialistas, há duas maneiras de disciplinar o motorista: punir ou educar.

Em qualquer lugar do mundo, o respeito às leis não é fruto apenas de educação e civilidade. Só a certeza da punição faz com que os cidadãos se sujeitem às regras vigentes. No trânsito é a mesma coisa. Quando sabem que há uma grande possibilidade de serem multados, motoristas pensam duas vezes antes de parar em fila dupla ou avançar faróis vermelhos. Se eles passam a respeitar as leis, o índice de acidentes cai e a fluidez do trânsito melhora.

Outros defendem a bandeira da prevenção. “A simples presença dos agentes de trânsito inibe as infrações, mas a gente não vê guardas nas ruas de Vitória. Se você procurar um guarda no horário de pico, não acha. Quando acha, está atrás de uma árvore e está ali mais para multar as pessoas. O papel dos guardas não é multar, é gerir o tráfego”, afirma Rodrigo Rosa. Outra solução viria pelas campanhas educativas, como utilizado na Serra. “Nós trabalhamos mais com a educação”, explica o secretário da Serra, Joel Lyrio Junior. “No ano passado, fizemos 30 campanhas de faixa de pedestre nas ruas e trabalhamos com conceitos de educação no trânsito em 58 escolas municipais da cidade”, explica.

No ranking das infrações mais cometidas no Espírito Santo em 2009, o excesso de velocidade aparece em primeiro lugar, com 51,2%. Em seguida, o estacionamento em local proibido, com 8,8%, e depois, o avanço do sinal vermelho, com 8,0%.

[important color=blue title=Sinal vermelho para os sinais na metrópole]

  • Semáforos. Com 93 km² de extensão e 350 km de vias, Vitória possui 182 cruzamentos com semáforos. Vila Velha, com mais de 200 km² de extensão, tem 134 semáforos, além de 16 instalados pela Rodosol. Na Serra, o número é menor ainda: são 42 semáforos, numa extensão de 552 km² – cinco vezes maior que Vitória.
  • Última medida. A instalação de semáforos é considerada a medida mais drástica para solucionar os problemas de trânsito.
  • Sinais inteligentes – Em Vitória, apenas um em cada oito semáforos é “inteligente”. São 21 deles. Em Vila Velha, são 73. Na Serra, não existem semáforos inteligentes, mas quatro corredores funcionam com a sincronia de “onda verde”. [/important]

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