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sexta-feira, 19 abril, 2024

Marcos Guerra aponta principais desafios para 2016

“A indústria entende que a crise que o país está enfrentando irá perdurar durante todo o ano”

* Por Luciene Araújo

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Presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) desde 2011, diretor-presidente do Grupo Guermar, senador suplente entre 2003 e 2011, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae no Espírito Santo, conselheiro da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde também é presidente do Conselho de Meio Ambiente e já atuou como vice-presidente do Conselho de Assuntos Legislativos. Por ter exercido ou estar desempenhando tais funções, Marcos Guerra tornou-se um profundo conhecedor do cenário econômico e do jogo político nacional. Confira o panorama para 2016 na avaliação deste colatinense que defende uma mudança de Governo como o caminho mais curto para a recuperação da economia brasileira.

A situação pode piorar ou chegamos ao fundo do poço?
Embora as expectativas já fossem negativas, o ano de 2015 foi muito pior do que esperávamos. E 2016 será um ano muito desafiador, mas a indústria está muito mais “pé no chão”, planejou-se melhor, está muita enxuta, e o número de demissões não deverá crescer em relação ao ano passado, mas também não há nenhuma expectativa de que sejam repostas as vagas de emprego. A indústria entende que a crise que o país está enfrentando irá perdurar durante todo o ano.

Como avalia os investimentos feitos no país em 2015?
Além de atrapalhar, o Governo não fez investimentos eficazes na infraestrutura do país, e, via de regra, as poucas realizações têm dado prejuízo. Muitos elefantes brancos; as obras se concentraram em estádios de futebol – que se tornaram “presente de grego” para estados que agora precisam de recursos para mantê-los – e em aeroportos, muitos ainda não concluídos. Podemos citar como um dos exemplos dessa série de empreendimentos mal planejados o aeroporto de Natal, que não tem nem 20% de sua capacidade utilizada.

A crise política agravou de forma significativa a economia do país. No Congresso ainda prevalecem os interesses eleitorais?
As questões políticas são um grave problema, têm atrapalhado demais o desenvolvimento do país. Temos uma indústria sadia no Brasil, uma indústria sadia no Espírito Santo, mas os processos decisórios do Governo estão muito lentos e equivocados. Pensaram muito mais neles, no aparelhamento da máquina pública, e a indústria ficou à mercê disso tudo. O rebaixamento da nota do país, do índice de credibilidade com os investidores, prejudicou demais o Brasil e atingiu diretamente o Espírito Santo, que reúne ao menos meia dúzia de grandes empresas que contribuem de forma significativa para o PIB estadual e também para a economia nacional. E quando a nota de crédito do país é rebaixada, essas empresas globalizadas são afetadas diretamente. Enquanto isso, o Governo só fala em aumento de impostos. E isso traz uma visibilidade internacional muito negativa, que afugenta investidores.

Que medidas precisam ser efetivadas para que a crise econômica não se agrave?
Num momento de crise, o país precisa avançar e para isso é necessário acabar com esse discurso de que “faltou dinheiro, tem de aumentar imposto”, porque essa medida dificulta ainda mais o equilíbrio financeiro da empresa, a geração de emprego. O Congresso já deveria preparado uma pauta mínima, ter avançado no projeto de terceirização, por exemplo. A indústria espera que haja tomadas de decisões do Governo Federal que vão ao encontro das demandas de desenvolvimento do país, o que não se observa hoje. O Governo não conversa com o setor produtivo. Qualquer investida para aumento de impostos, a indústria nacional irá lutar para que não aconteça. Não se resolve um problema de déficit de caixa de um país criando mais impostos, mas sim com a mesma fórmula adotada pela indústria e pelo comércio: fazendo ajustes, é preciso “cortar na carne”.

O que é pior para a indústria: o impeachment da presidente ou um Governo fraco por mais três anos?
O ideal seria começar tudo de novo. Mas o impeachment não está avançando da forma necessária. Se o Governo continuar os próximos três anos com o mesmo desempenho de 2015, será uma catástrofe para o Brasil. O atual Governo não tem projeto, não tem credibilidade, não tem os apoios políticos necessários para o desenvolvimento do país. Todo mundo que se encosta no Governo hoje, infelizmente, quer levar uma fatia do Estado para seu controle. E esse aparelhamento do Estado tem gerado os grandes esquemas de corrupção, tem sido um dos pontos mais degradantes para quem produz. A maioria das empresas luta para sobreviver, enquanto assiste a essa farra com o dinheiro público. Particularmente, gostaria que mudasse e que o novo gestor viesse com foco para o Brasil voltar a crescer. Até porque o Governo não está tendo o apoio de que precisa para realizar as modificações.

Os incentivos setoriais foram importantes para 2015?
Está na hora de o país entender que não se pode mais privilegiar apenas determinados setores, como se assistiu em relação ao automobilístico, com medidas provisórias direcionadas por interesses de uma minoria. A indústria nacional não se resume a fabricar automóveis. São centenas de produtos. Construção civil, sapatos, roupas, indústria moveleira, de brinquedos… Um país como o nosso, com mais de 200 milhões de habitantes, precisa de indústria sadia, e não deixar que ela se torne depreciada, como temos visto com essas medidas equivocadas.

Quais os prejuízos da Operação Lava Jato para a indústria?
Na verdade, precisamos dizer dos prejuízos da corrupção para o país, que são imensuráveis. Mas, nessas revelações, além de perdas de vagas de trabalho nas grandes empreiteiras envolvidas no esquema de desvio de verbas com a Petrobras, e aí todo o desequilíbrio que se desenha em cadeia, o maior prejuízo está no índice de confiança do empreendedor industrial, que caiu muito. O Brasil passou a ser visto como um “cantinho” onde tudo de errado pode acontecer. E não é isso que queremos. Queremos uma nação com olhar de primeiro mundo, que entenda que o presidente passa pelo Governo, mas o país fica. As provas estão sendo todas desvendadas, mas as vantagens políticas e a intromissão entre os Poderes ainda são muito fortes. Para que a Lava Jato seja realmente positiva ao país, precisamos que todos os envolvidos, sem exceção, sejam punidos.

Como o senhor avalia a compactuação de empresários com essa corrupção?
Eu sou totalmente contra a corrupção. O empresário não pode reclamar do Governo e fazer parte desse esquema. Temos um projeto de lei anticorrupção que tem de sair do papel, tem de punir todos os donos de empresas, diretores de partido, ministros, senadores, todos os envolvidos. Mas temos de tomar cuidado para não sobrar apenas para a iniciativa privada. Você pega uma empresa precisando fechar, e aí chega um cidadão e diz o seguinte: “Se não me der comissão, não lhe dou o serviço”. O empresário deveria armar com a Polícia Federal e pegar o corruptor em flagrante. Se todos fizerem isso, acabará a roubalheira.

A disparada do dólar prejudicou muitos empresários, mas também favoreceu alguns setores. Quais as previsões para este ano?
O grande problema da flexibilização exacerbada da moeda é que, ao mesmo tempo em que essa alta beneficia as exportadoras, principalmente de commodities agrícolas e minerais e a indústria de mármore e granito, todas as demais empresas que dependem de insumos, a maioria importados, perdem muito dinheiro. A melhor opção hoje para se trabalhar mais seguro é utilizar a conversão na data de fechamento do negócio.

Nos últimos anos, a produção indústria capixaba tem se mantido acima da média nacional. Essa realidade será mantida em 2016?
Nos dois últimos anos, o Espírito Santo andou à frente em passos largos. Em 2014, a indústria capixaba cresceu 5,6%, enquanto o país decresceu 3,2%. Em 2015, devemos fechar em torno de 3%, e o Brasil, em menos 8%. Em 2016, o crescimento da indústria deverá ser em torno de 1%, mas precisamos para isso contar com a retomada das atividades da Samarco, que representa 20% do PIB capixaba e tem muitas empresas prestadoras de serviço nessa cadeia econômica.

Qual a dimensão do prejuízo econômico com a paralisação da Samarco?
O episódio de Mariana passa por três vertentes: a primeira delas é socorrer as vítimas; a segunda é cuidar do meio ambiente; e a terceira é de que haja um trabalho em conjunto para propiciar o retorno das atividades, e este momento é agora. Precisamos unir forças de instituições, Governo e sociedade civil em geral para que a Samarco volte a funcionar. Até porque há um passivo com a sociedade que ela só conseguirá pagar funcionando, gerando riquezas ao Estado, aos municípios e pagando as penalizações decorrentes desse episódio. Mas não se pode deixar de entender que é uma empresa importantíssima para o Estado e para o país, a segunda maior indústria do Espírito Santo, a 10ª exportadora do país. Daí a urgência da retomada das atividades da Samarco.

Qual o impacto da redução dos investimentos da Petrobras no Espírito Santo e da queda de royalties?
O Governo Federal nunca deu muita atenção ao Espírito Santo. A cada R$ 100,000 que a gente paga de tributos à União, somente R$ 36,00 retornam ao Estado em investimentos. O Governo Federal não prioriza melhorias em portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e nas estatais aqui. A Petrobras, por exemplo, apesar de ter confirmado investimentos no passado, muitos deles não se concretizaram; e ainda serão reduzidos de forma significativa os avanços até 2019, mesmo com o Espírito Santo sendo o segundo maior produtor de petróleo do país e o maior produtor de gás natural. Isso é muito ruim pro Estado.

Energia e combustível foram grandes gargalos para os empresários em 2015. Quais são as expectativas para este ano?
Os investimentos em energia têm sido muito aquém da demanda, especialmente em energia limpa, e mais uma vez vamos pagar essa conta. A energia repercutiu muito no custo da produção brasileira. Nós tivemos regiões em que esse aumento chegou a 82,5%, dependendo da faixa de utilização daquela determinada empresa. E é preciso deixar claro que só não faltou energia, porque a produção foi reduzida. Já o aumento no custo de combustível é ainda mais absurdo, não se justifica, uma vez que o preço do barril de petróleo caiu muito. E essa elevação atinge a composição do custo de produção. Combustível e energia foram os principais vilões da indústria.

O que representou a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda e a entrada de Nelson Barbosa?
Trocaram seis por meia dúzia, e não é isso que o Brasil precisa. Na verdade pode ficar até pior. O Brasil precisa de um ministro que seja estratégico em conhecimento holístico de país, de globalização, que tenha o apoio dos caciques do PT e do Governo. Levy não tinha, e Barbosa também não tem projetos. Aumento de impostos é imposição, não é projeto. O Governo precisa entender que já passou da hora de apresentar alternativas reais de mudança, conversar com a sociedade, trazer a crise verdadeiramente para o debate. E hoje só a sociedade está pagando a conta, e fica por isso mesmo. E nesse sentido estou pessimista, porque o novo ministro ainda não mostrou a que veio.

Houve significativa redução no repasse de verbas para o Sistema S. O que deixará de ser feito no Espírito Santo em consequência do recurso menor?
Os nossos investimentos estavam planejados, e vamos entregar todos eles. Mas já aconteceram muitas demissões dentro do Sistema S; a capacitação será afetada sim. Nós tínhamos perspectivas de importantes projetos de valoração da formação profissional para ainda serem desenvolvidos, porque hoje nossa preocupação maior é formar qualidade, e não quantidade. E isso não será possível. O Governo, além de estar impondo a retirada de parte dos recursos, cortou o Pronatec, que hoje está sendo tocado pelo Sistema S. A indústria perde muito, o trabalhador perde, toda a sociedade é prejudicada, especialmente no interior, que depende ainda mais desses incentivos.

Por que desistir do restaurante giratório?
Nós herdamos esse projeto. É uma obra que eu não faria, mas tentei de todas as formas conclui-la. Devido à complexidade da obra, precisamos rever projetos, fizemos estudos, mas os custos para viabilizar o restaurante se mostraram inviáveis. Vamos transformá-lo em um espaço para a economia criativa, e a estrutura existente não será descartada, mas readequada para a nova finalidade.

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