Na última vez que foi entrevistado pela ES Brasil, Marcilio Rodrigues Machado acabara de tomar posse como novo presidente do Sindiex (Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado), em 2014.
* Por Vitor Taveira
Os desafios eram enormes com a extinção do Fundap (Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias) e as mudanças nas regras relacionadas ao ICMS, que afetavam diretamente o setor. De lá pra cá, a conjuntura modificou-se, mas as lutas continuam enormes, sendo que muitas delas persistem. Por isso, conversamos novamente com o dirigente, que comentou como as recentes situações na política nacional e na economia internacional afetam as transações externas do Espírito Santo.
Quais as expectativas para o setor do comércio exterior diante do Governo interino e da possível efetivação de Michel Temer como presidente da República? Como isso pode influenciar o Espírito Santo?
As expectativas são boas, pois creio que o governo Michel Temer poderá recuperar a confiança que foi perdida com esses 13 anos de má gestão no Brasil. A confiança é a base fundamental de qualquer relacionamento. Os investimentos só ocorrem em ambiente de confiança, e eles é que impulsionam a produtividade e o crescimento de uma economia.
A reforma ministerial realizada afeta o setor? Como?
Uma reforma importante já está acontecendo no Itamaraty. O Brasil, em função das mudanças, está revendo o seu relacionamento com os outros países, com mais lógica e racionalismo. O setor de comércio exterior, para avançar, depende de uma maior abertura comercial e de pragmatismo. Esperamos que novos acordos regionais sejam assinados pelo Brasil, de modo que os empresários possam abrir mais mercados para os seus produtos.
O Espírito Santo é considerado um dos estados mais abertos ao comércio internacional. Como a atual baixa no preço das commodities em nível internacional está influenciando a economia do Estado e quais alternativas temos para superar essa situação?
A baixa atual de preços de commodities afeta o Espírito Santo e o Brasil como um todo, e ninguém sabe quanto tempo vai demorar para que haja uma recuperação das cotações. Portanto, não podemos esperar uma alta de preços de commodities para obtermos melhores resultados de nossas exportações e crescimento de nossa economia. A saída é exportar produtos de maior valor agregado. Para que isso aconteça, precisamos inserir cada vez mais as nossas empresas nas cadeias de suprimentos globais. Precisamos nos abrir mais para o comércio exterior. Cabe à sociedade pressionar o Governo para avançar com acordos comerciais, promover a facilitação de comércio exterior através da modernização de processos e da redução da burocracia no setor.
Quais os dados e o balanço que se pode fazer das importações e das exportações capixabas neste primeiro semestre de 2016?
As exportações do Espírito Santo fecharam em US$ 2 bilhões de janeiro a abril deste ano, uma queda de 40%, se comparado com o mesmo período de 2015. Nas importações, as operações totalizaram US$ 1,2 bilhão no intervalo analisado, o pior resultado desde 2007, com desaceleração de 36% ante o ano anterior.
As exportações capixabas são muito dependentes de commodities, e o maior comprador de nossas matérias-primas, a China, está passando por um ajuste em sua economia, que não está crescendo mais como no passado. Consequentemente, temos que estimular que outros segmentos se envolvam em processos de exportação e explorem novos mercados. Precisamos ser mais ousados e vender para o maior mercado de consumo do mundo, que são os Estados Unidos. Vejam, por exemplo, o sucesso do setor de rochas ornamentais, que através de muito trabalho tem conseguido expandir nesse mercado mencionado anteriormente.
O Sindiex completou 24 anos em maio. Qual a importância desta associação empresarial para o desenvolvimento do setor no Estado?
O Sindiex tem atuado para consolidar o nosso Estado e nossas empresas dentro do cenário de comércio exterior do Brasil. Temos tido uma atuação bastante ativa nas discussões sobre infraestruturas portuária, aeroportuária e rodoviária. Procuramos conhecer com profundidade todas as legislações referentes ao comércio exterior e seu impacto nas empresas, de modo que possamos avançar e sermos competitivos. A nossa associação tem sido muito proativa e tem trabalhado em colaboração com todos os órgãos anuentes e intervenientes de comércio exterior de forma que sejam reduzidos os custos de transação nos processos.
O Espírito Santo já conseguiu se adaptar e absorver o peso das mudanças no Fundap e no ICMS?
Lamentavelmente, o Espírito Santo ainda não conseguiu absorver o peso das mudanças no Fundap. Isso só irá acontecer quando tivermos uma infraestrutura portuária moderna e eficiente. Precisamos, no curto prazo, resolver o problema de falta de um porto ou berços que possam atracar grandes navios que transportam contêineres. É bom lembrar que cerca de 75% do comércio intencional é feito através da modalidade marítima.
A infraestrutura para escoamento da produção é muitas vezes um problema que afeta a competitividade do Estado. Houve avanço nos últimos anos?
Que propostas o Sindiex tem nesse sentido?
Houve avanço em outros estados brasileiros com os quais nós competimos. Avanços, se houver [no Espírito Santo], foram muito tímidos. Infelizmente, tanto os exportadores como os importadores têm que utilizar portos em outros estados devido à enorme deficiência de infraestrutura para escoamento de nossos produtos. Grande parte da exportação de café e granito é feita através de portos em outros estados brasileiros. Isso aumenta o custo das empresas, o tempo de trânsito e, consequentemente, afeta o fluxo de caixa.
Em entrevista à ES Brasil em 2014, o senhor falava da importância de inserir os pequenos empresários no ramo do comércio exterior. Quais as maiores dificuldades para isso e como superá-las?
É preciso desenvolver uma cultura exportadora e trabalhar junto aos órgãos governamentais para reduzir as barreiras de entrada e burocracia. Isso é uma tarefa difícil, mas não impossível de ser realizada. Na Alemanha, por exemplo, que possui uma das maiores taxas de exportações globais per capita do mundo, grande parte das exportações é feita por empresas familiares, e de pequeno e médio porte. Acredito ser este um bom modelo a ser seguido pelos brasileiros.
Na mesma época, o senhor mencionava que a resolução definidora da alíquota de 4% de ICMS para transações interestaduais não solucionava a chamada “guerra fiscal” que alegava combater. A disputa entre estados para atrair novas empresas e empreendimentos continua. Como está o Espírito Santo nesse cenário?
Nunca gostei do uso desta metáfora: “guerra fiscal”. Trata-se de concorrência que vai continuar existindo entre os estados. Contudo, isso é algo que passou, e não creio que possa ser revertido. O Estado do Espírito Santo foi prejudicado, mas temos que olhar para frente. Temos agora que resolver os nossos problemas de logística. Isso significa, mais uma vez, achar uma alternativa para o nosso problema portuário num espaço mais curto de tempo possível, pois as cargas que saírem de nosso Estado serão muito difíceis de serem recuperadas.