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quarta-feira, 24 abril, 2024

Números e inquietações da Lava Jato

A cada mudança, aumentam os rumores de que a maior operação anticorrupção do Brasil será calada

Em 2009, o povo brasileiro nem imaginava que a descoberta de uma rede de postos de combustíveis e de lava a jato de automóveis que movimentava recursos ilícitos causaria tanto impacto na história do país. As transações, à época relacionadas ao ex-deputado federal José Janene, em Londrina, no Paraná, envolviam ainda os doleiros Carlos Habib Chater e Alberto Youssef, já processados por crimes contra o sistema financeiro nacional e por lavagem de dinheiro no caso Banestado.

Números e inquietações da Lava Jato
Fonte: Ministério Público Federal / Polícia Federal

Somente em março de 2014, a Polícia Federal (PF) obteve informações suficientes para deflagrar a primeira operação, apontando atuação desses doleiros e de mais dois, Nelma Kodama e Raul Srour, atuantes no mercado paralelo de câmbio como líderes de quatro organizações criminosas. Foram 28 prisões, 19 conduções coercitivas e 81 buscas e apreensões. E esse era apenas o começo das descobertas de um imenso esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

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Desde então, os números se multiplicam. As investigações apontam uma movimentação de R$ 42 bilhões, sendo que, até o momento, R$ 11 bilhões foram recuperados de empreiteiras que integraram o esquema clandestino. Somente em pagamentos de propina, foram repassados R$ 6,4 bilhões, principalmente a agentes políticos. Muitas são as autoridades políticas suposta ou comprovadamente beneficiadas com a corrupção.

Em conversas divulgadas em maio do ano passado, o então ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB/RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma “mudança” no governo federal resultaria em um pacto para “estancar a sangria” representada pela Operação Lava Jato. Um diálogo estabelecido semanas antes da votação na Câmara dos Deputados que desencadeou no impeachment de Dilma Rousseff da presidência.

Eugênio Ribas
“Os trabalhos serão intensificados, e a sociedade brasileira pode ficar tranquila com relação a isso” – Eugênio Ricas, diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF

Nesse cenário, a cada modificação na esfera federal, aumentam os rumores de que a Lava Jato será encerrada, sem conseguir colocar os corruptos na cadeia. Sob nova direção, a Polícia Federal virou alvo de interrogatórios pelas rodas de conversa. O novo diretor-geral da instituição, Fernando Segovia, e o delegado Eugênio Ricas, ex-secretário de Controle de Transparência do Espírito Santo, que assumiu a Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF, portanto a Lava Jato também, garantem que haverá prosseguimento nas ações.

Ricas defendeu que não há como estancar a Operação porque é uma instituição dentro da Federal. Ainda segundo o novo diretor, os trabalhos seriam intensificados e a sociedade brasileira poderia ficar tranquila com relação a isso. “A nossa missão é dar mais condições, mais suporte, pra que todos os trabalhos da Polícia Federal sejam feitos. Então, a partir do momento que os fatos criminosos aparecem em outros lugares, é necessário criar outros núcleos”, garantiu Ricas durante coletiva.

O presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Espírito Santo e diretor Parlamentar da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcus Firme dos Reis, reitera a impossibilidade de se afirmar que todo esse trabalho vai “terminar em pizza”.

“A Lava Jato foi, é e continuará sendo um sucesso, mesmo diante de prejuízos, como intenso corte de orçamento e o fim da força-tarefa em Curitiba, que tinha dedicação exclusiva, com muitos policiais à disposição da Operação. A aproximação entre a PF, o MPF e a Justiça Federal dá muita celeridade às investigações, enquanto agora, via inquérito, normal, há muita burocracia. Por isso condeno o fato de não haver dedicação exclusiva. Mas não se pode desmerecer os resultados alcançados nem duvidar dos que ainda virão”, afirma Reis.

A classe política não tem abertura para “estancar a sangria”, garante o diretor. “Não há ingerência política, basta observar os diversos políticos acusados. São dois ex-presidentes e agora o próprio Michel Temer apontados nas investigações.

E são constrangedoras as declarações de políticos como ‘Vamos parar a Lava Jato, vamos parar a sangria’, pois existe toda uma política anticorrupção. E hoje, aonde a PF vai, encontra a corrupção envolvendo pessoas e agentes políticos”.

Marcos Firme
“A Lava Jato foi, é e continuará sendo um sucesso, mesmo diante de prejuízos, como intenso corte de orçamento e o fim da força-tarefa em Curitiba” – Marcos Firme, diretor da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef)

Segundo Firme, a expectativa é muito boa em relação a Segovia. “Foi escolhido em um momento ruim, mas ele é bem-quisto e respeitado pelos policiais federais. Tem um perfil conciliador, conversa com as entidades de classe dentro da PF. Hoje há divergência entre delegados e outras categorias, papiloscopistas, agentes, escrivães e peritos.”

O diretor faz um chamado à população. “Por isso que nós, do sindicato, temos pensado muito em relação às próximas eleições, sobre a necessidade de renovação. Muito embora as possibilidades desenhadas até o momento não sejam as melhores, é preciso analisar os candidatos, pensar muito antes de votar. Essa polarização de extremos, tanto de esquerda, quanto de direita, é preocupante. Mesmo em longo prazo, é preciso renovar.”

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